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Cartas-->11. EPAMINONDAS -- 30/07/2002 - 07:01 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Sempre tive muito orgulho de meu sonoroso nome. Quando soube o que significava para a história da humanidade, ainda mais me apeguei de amores a ele. No entanto, foi causa de imensas arrelias pela criançada dos arredores e também da escola. O “Nondinho” da mamãe virou o “Ondas” do bulício e, daí para a frente, atormentei-me além da conta.

Esse dado pareceria irrelevante, não fosse a única lembrança sumamente desagradável de minha curta permanência na Terra. O mais são recordações amorosas, de constante desfilar de alegrias, na serena conquista de todos os atributos sociais de vulto.

Aos treze anos, mercê de estúpida brincadeira, morri eletrocutado, em cima do telhado, tendo resvalado para a alta tensão a vara com que tirava a “capucheta” dos fios. Meu corpo ficou preso e mais três pessoas, na ânsia de me acudirem, também se viram despachadas, de repente, para cá.

A tragédia abalou a comunidade e saiu estampada nos jornais, notícia de primeira página, na mórbida exemplificação do que a juventude não pode fazer ou na tácita reprimenda aos pais invigilantes.

Se tivesse vindo sozinho, penso que teria muito pouco para contar. Entretanto, os companheiros de infortúnio, nem bem se reconheceram defuntos, acusaram-me de ter-lhes facilitado a transferência, em momento absolutamente impróprio, inoportuno, antecipado.

Como eram pessoas mais velhas, deveriam ter compreendido que sua incompetência na previsão do choque fora mais grave do que a minha. Eu não tinha contraído outros débitos, além dos sopapos por causa dos apelidos, e fiquei meio atarantado com a violência contra a ignorância interpretativa dos fatos da realidade espiritual.

Sei, agora, que estava fortemente amparado pelos protetores e que só fui assediado, à medida que os ataques pudessem representar atitudes ou atividades de injustiça explícita. Essa correria infeliz redundou no esquecimento, de minha parte, de ter sido tragado pela morte muito cedo. Tão preocupado fiquei em acalmar pela explicação da imprevidência, que não me lembrei de que a vida se perdera, tendo em vista a extraordinária organização corpórea que adquirira.

Dois anos passei nessa atribulação. Quando completaria quinze anos, mocinho, portanto, que meu corpo perispiritual se desenvolvera como se encarnado estivera, atinei com o problema de ter de me haver com os atributos masculinos, inúteis para a psicologia do lugar.

Foi só então que o transe da morte me atingiu em cheio. O encantamento da alienação se desfez e os três perseguidores vieram postar-se ao meu lado, para o regozijo da conscientização.

Tivera tempo e reproduziria aqui as longas tertúlias, onde a flutuação temperamental era o que de mais interessante havia para a análise das peripécias dos silogismos. Em suma, somente quando chegamos a raciocinar em termos religiosos, esperando que o Pai nos respondesse, com clareza, em que situação estávamos metidos, é que José, o bom José, se fez presente, convidando-nos para o ingresso na “Escolinha”.

Hoje estamos separados, cada qual buscando realizar objetivo mais próximo de cada personalidade.

Eu tinha cinco irmãos, o que, de certa forma, pôs consolo nas dores paternas. Fora avisado de que havia perigo de morte naqueles fios. Tinha inteligência para saber que, ao tocá-los, iria esturricar. Fora obediente todo o tempo, jamais tendo dado motivo de preocupação, por atos irrefletidos, sem contar, naturalmente, os atritos por causa das alcunhas... Enfim, não valeria a pena ir dar assistência aos pais pelo transtorno da morte. Nem aos irmãos, que logo se esqueceram da ocorrência, interessados em levar avante as próprias vidas, pois quem fica remoendo o passado...

Reconheço, preso no próprio anzol, que a longa narrativa tende a esconder a falta do que trazer de positivo para a meditação dos leitores. Na verdade, a exemplificação que me coube foi a menos dramática das quarenta. O despertar se deu através da sutileza acima mencionada e o mais foi a recuperação paulatina, nos últimos sete anos, da antiga conformação psíquica, acrescida das experiências dolorosas dos amigos que me acompanharam.

Estou em plena campanha para reatar os laços rompidos com os que se envolveram comigo, na mesma programação, tanto nos compromissos de recomposição de abalados elos de amizade, como nos da assistência a parentes carentes.

Pode parecer que a peregrinação seja unicamente informativa, ou seja, encontro-me com os encarnados durante o sono ou com os espíritos na Colônia ou no Umbral e lhes digo que estou desencarnado e que, portanto, não devem contar comigo para a realização do que havia sido ajustado.

Nada disso.

Tenho a obrigação de discutir longamente os projetos substitutivos, para a garantia de que os serviços prometidos passarão apenas por novas etapas, até que se completem, conforme as leis cármicas.

Através do aprendizado junto aos amigos da “Turma dos Primeiros Socorros”, tenho aplicado os conceitos evangélicos nos relacionamentos, satisfazendo, desde já, muitas das premissas dos companheiros e dos adversários, dando-lhes melhor compreensão de quem fui e de quem sou, de forma que possam refazer a postura emocional perante minha pessoa. É, em suma, a realização, em outro plano, de muitas das tarefas a que deveria dedicar-me, se prosseguisse vivo.

Não preciso dizer que estou satisfeitíssimo, tanto que o pessoal me chama normalmente por “Ondas” e eu atendo, sem notar que o hipocorístico se tornou verdadeiramente afetivo. Se os amigos leitores se interessarem por saber de outras minúcias desse trabalho, poderão ligar-se nestas minhas “ondas”, que terei imensa satisfação em atender.

Apenas para terminar, devo dizer que, curiosamente, a eletricidade que me tirou a vida parece ter deixado resíduo no cérebro, pois me considero “elétrico” como nunca na existência, tanto que esta redação foi considerada a mais rápida, a mais completa e a mais tranqüila, ao mesmo tempo, como se tudo se enfeixasse num cabo, mente a mente, com o médium.

Pede-me José que explique aos encarnados que a brincadeira teve sucesso entre os desencarnados, dado que lhes é possível visualizar como se dá a transmissão através da energia cósmica. Essa lição há de ficar para outrem.

Muito agradecido. Fiquem com Deus!

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