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Cartas-->Formigas -- 30/07/2002 - 17:38 (maria da graça almeida) |
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Formigas
maria da graça almeida
Acomodo minha indolência
na cadeira espaçosa
e o máximo que me permito fazer
é estirar braços e pernas
na exata medida
de uma manhã desprovida
do acontecer.
Enquanto isso,
flagro as formigas
que, no silêncio
das filas em ziguezague,
atrevem-se.
O bolo amanteigado de ontem
amanheceu sardento.
Centenas delas desbravam-no.
Roubam-me as descaradas.
Movimentam-me o olhar
no movimento da marcha em retirada.
O que antes era bloco imóvel e único,
agora caminha multiplicado.
Adocicados fragmentos,
entremeados, passeiam
nas patinhas gulosoas
das formigas tarefeiras.
Maria da Graça Almeida
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