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Artigos-->ACREDITA NA INSPIRAÇÃO? -- 03/12/2001 - 01:43 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




ACREDITA NA INSPIRAÇÃO?



Jan Muá

3 de dezembro de 2001





1.Há dias, em 26 de novembro de 2001, em meu artigo sobre a Natureza da Literatura e da Escrita, escrevi algo sobre o que poderia ser a "inspiração poética defendida pela tradição".

Disse nesse artigo que nem todos os textos produzidos pelos escritores foram escritos “sob o calor da emoção”... E disse também que, apesar de tudo, há sempre algo no início da criação. Por vezes, algo até bem simples, informe, sem significação aparente. Mas que representa o arranque para a escrita. É algo que move o escritor, um“motivo”, mesmo que seja indefinido. A tradição, quando queria referir o clima de concentração e aquecimento inicial do poeta disposto a escrever, chamava a tal estado de espírito inspiração. Vamos pensar que “inspiração” no fundo, é uma pressão sensorial, por vezes sanguínea, por vezes volitiva, até inteletiva ou outra...Tudo começa por uma intuição, por uma carga emocional, por exemplo, que pode nascer da observação ou do presenciamento de um fato...Fato que pode ser uma ação humana, um fenômeno da natureza, ou até um desejo íntimo de escrever, uma lembrança, um fio de monólogo interior, tão freqüente em pessoas introspectivas. Tudo isto são “pressões”, são “motivações” para escrever. A verdade é que hoje não estamos mais no tempo em que o poeta aguarda a inspiração dos deuses para escrever seus versos. Em sentido figurado, pode sim, aproveitar certa “carga emocional” de seu deus-namorado, de sua deusa-namorada ou de seus motivos-namorados para escrever belas dicções lírico-poéticas...A simbologia divina pode estender-se ao elemento atuante sobre a emoção para que o escritor ou poeta produza seu escrito... Nossa inspiração, hoje, é simplesmente uma “motivação”, uma “força” que chega ou se instala em nós e que sentimos quando unimos na nossa mente várias idéias ou quando recebermos a “aragem” ou a “brisa” confortante de uma intuição. Mas para que a “inspiração” se materialize, o escritor precisa de se concentrar e de articular suas forças íntimas a fim de que torne mais efetível seu ato de escrita. Isso não quer dizer que os que não escrevem diretamente “no calor da emoção” tenham de quebrar a cabeça para produzirem um texto esteticamente belo. Ninguém tem que quebrar a cabeça.A pressão ou inspiração são forças de concentração psíquica e não atuam contra a inspiração. Só mais tarde virá a racionalidade em ajuda, para acalmar as coisas e tentar uma via expressiva que proteja o escritor na hora de sua expressão se tornar também comunicação...

Todo o escritor, portanto, tem uma motivação. E as motivações são diferentes. Com mais calor ou com menos calor, cada um parte à procura de sua expressão...uma expressão tão trabalhada que seja capaz de lhe dar o máximo de verdade na sua relação com as coisas e um crédito na sua relação com os leitores.



2. Hoje, relendo os "Diálogos com José Saramago" escritos pelo ensaísta português e Diretor da Biblioteca Nacional de Lisboa, Carlos Reis, me deparei com uma resposta de José Saramago a uma pergunta de Carlos Reis sobre "inspiração".

Julgo que é sempre interessante para os poetas ouvir a opinião de escritores de envergadura a fim de avaliarmos como eles encaram os problemas que nós próprios continuamos a discutir. Achei por isso que poderia transcrever essa passagem da entrevista para os poetas da Usina:



"CR - Você acredita na inspiração?



JS -Não, não sei o que é inspiração. Mas também a verdade é que às vezes nós usamos conceitos que nunca paramos a examinar. Vamos lá a ver: imaginemos que eu estou a pensar determinado tema e vou andando, no desenvolvimento do raciocínio sobre esse tema, até chegar a uma certa conclusão. Isso pode ser descrito, posso descrever os diversos passos desse trajecto, mas também pode acontecer que a razão, em certos momentos, avance por saltos; ela pode, sem deixar de ser razão, avançar tão rapidamente que eu não me aperceba disso, ou só me aperceba quando ela tiver chegado ao ponto a que, em circunstâncias diferentes, só chegaria depois de ter passado por todas essas fases.

Talvez no fundo, isso seja inspiração, porque há algo que aparece subitamente; talvez isso,possa chamar-se também intuição, qualquer coisa que não passa pelos pontos de apoio, que saltou duma margem do rio para a outra, sem passar pelas pedrinhas que estão no meio e que ligam uma à outra. Que uma coisa a que nós chamamos razão funcione desta maneira ou daquela, que funcione com mais velocidade ou que funcione de forma mais lenta e que eu possa acompanhar o seu próprio processo, não deixa por isso de ser um processo mental a que chamamos razão."



(REIS, Carlos. Diálogos com José Saramago. Lisboa: Caminho, 1998, pp.94-95).

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