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Artigos-->APONTAMENTOS SOBRE ALGUNS PENSADORES CONTEMPORÂNEOS -- 16/06/2008 - 19:45 (Paccelli José Maracci Zahler) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
APONTAMENTOS SOBRE ALGUNS PENSADORES CONTEMPORÂNEOS



Paccelli José Maracci Zahler





Em sua obra, Nietzsche, se referia a uma mudança de valores na sociedade que, para ele, era (e ainda é) hipócrita. Prega uma coisa e faz outra. Assim, fazendo uma retrospectiva histórica, as diferentes civilizações sempre tiveram muitos deuses, porém, com o advento do cristianismo, passou a haver uma tendência monoteísta com uma doutrinação de virtudes e valores morais que encaminhavam os homens em direção à Deus, o Ser Supremo. Contudo, a religião pregava uma coisa e os `fiéis` iam em outra direção - a do dinheiro, das posses, do poder, como nos dias de hoje. Assim, `nós`, humanos, matamos Deus, matamos a nós mesmos por não praticarmos as virtudes, e partimos em busca de outro Deus, o que nos deixa ricos, famosos, na mídia - o dinheiro!

Frente a essa nova situação, Nietzsche queria alertar que a sociedade não deveria seguir dessa maneira, mas buscar outros valores que nos tornassem mais humanos.

O que vemos hoje são os operários serem tratados como peças de uma engrenagem que move uma empresa. Adoeceu, morreu, não compareceu, coloca-se outro no lugar e a vida continua.

Essas idéias surgidas da leitura de Nietzsche, fizeram com que eu me identificasse muito com ele.





DURANT (2003) pode nos esclarecer um pouco mais sobre o pensamento de Nietzsche:

" Se a vida é uma luta pela existência na qual os mais capazes sobrevivem, então a luta é a virtude máxima, e a fraqueza o único defeito. `Bom` é aquilo que sobrevive, que vence; `mau` é aquilo que cede e fracassa. Só a covardia de meados da era vitoriana, dos darwinianos ingleses, e a respeitabilidade burguesa dos positivistas franceses e dos socialistas alemães podiam esconder a inevitabilidade dessa conclusão. Aqueles homens tinham sido bravos o suficiente para rejeitar a teologia cristã, mas não ousavam ser lógicos, rejeitar as idéias morais, a veneração da docilidade, da delicadeza e do altruísmo que haviam nascido daquela teologia. Deixaram de ser anglicanos, católicos ou luteranos, mas não ousaram deixar de ser cristãos".

"Em Frankfurt, a caminho da frente de batalha, ele [Nietzsche] viu uma tropa de cavalaria passando com um magnífico tropel e exibição pela cidade; naquele exato momento, diz ele, veio a percepção, a visão da qual nasceria toda a sua filosofia. `Senti, pela primeira vez, que a mais forte e mais nobre Vontade de Viver não encontra expressão em uma miserável luta pela existência, mas num a Vontade de Guerra, uma Vontade de Poder, uma Vontade de Dominar`."

"Foi a eloqüência dos profetas, de Amós a Jesus, que fez da visão de uma classe submissa uma ética quase universal; o `mundo` e a `carne` tornaram-se sinônimos do mal, e a probreza uma prova de virtude.

Essa avaliação foi levada ao paroxismo por Jesus: para ele, todo homem tinha o mesmo valor e também direitos iguais; dessa doutrina vieram a democracia, o utilitarismo e o socialismo; o progresso era, agora, definido em termos dessas filosofias plebéias, em termos de progressivas igualização e vulgarização, em termos de decadência e vida declinante".

O que entendo, particularmente, é que Nietzsche concordava com a teoria de Darwin de que na natureza os mais fortes sobrevivem e que esta é uma lei universal. Assim, na sociedade humana, por mais que se tente igualar as pessoas, a desigualdade continua porque quem tem poder quer mais poder e não quer dividi-lo com ninguém. Daí a Vontade de Poder, de Dominar.

A sociedade viveria, então, um paradoxo: pregar a igualdade, a humildade, e buscar o poder absoluto.

Sou obrigado a concordar no caráter excludente do Super-Homem. Vejamos o que diz Zaratustra (NIETZSCHE, 1987 ):

"Os homens não são iguais. Não queremos possuir nada em comum. Ó pregadores da igualdade, a tirno-insanidade da impotência provoca os vossos clamores por igualdade."

No comentário de DURANT (2003), segundo Nietzsche, `a natureza abomina a igualdade, adora a diferenciação de indivíduos, classes e espécies. O socialismo é anti-biológico: o processo de evolução envolve a utilização da espécie, raça, classe ou indivíduo inferior pelo superior; toda vida é exploração, e subsiste, em última análise, à custa de outra vida; peixes grandes pegam peixes pequenos e os comem, e isto é tudo. Socialismo é inveja: `eles querem algo que nós temos`. (...) Não são os líderes que devem ser temidos, mas aqueles que estão mais abaixo, que pensam que por uma revolução poderão fugir à subordinação que é o resultado natural de sua incompetência e indolência. No entanto, o escravo só é nobre quando se revolta.

Não quis dizer que ele está propondo uma dominação, mas, isto sim, analisando a natureza humana como ela é. Pelo que entendi, Nietzsche diz a todos que nós somos desse jeito mesmo, que não adianta inventar formas de controle e de igualdade porque queremos ter poder, queremos dominar uns aos outros. Se somos assim e queremos ser de outra maneira (mais pacíficos, mais cordatos) deveríamos criar novos valores.

Apesar de o texto ser um pouco pesado, porém, como tenho lido sobre Nietzsche e me identificado com o seu pensamento, entendi que, para a criação de novos valores, temos que nos desfazer dos nossos condicionamentos e ver o mundo e a natureza como uma criança os vê, com a mente aberta.

Nietzsche compara a criança como um `santa afirmação` e afirma que `para o jogo da criação é preciso uma santa afirmação` para que o espírito obtenha a `sua vontade` e alcance o `seu mundo`.

Passaríamos metaforicamente da subserviência dos condicionamentos (camelo) para o questionamento e a revolta com esses condicionamentos (leão) e passaríamos a ver o mundo, uma vez entendidas as razões que nos levaram a esses condicionamentos, sob os olhos de uma criança, no sentido de descobrir novos valores.

Gostaria de chamar a atenção para um parágrafo da nossa apostila (p.13) (UEA 04, 2008):

"Heidegger (2002, 252p.) diz que `a tentativa de comentar o dito de Nietzsche `Deus morreu` é equivalente à tarefa de interpretar aquilo que Nietzsche compreende por niilismo(...)`. Mas o niilismo em Nietzsche recebe vários sentidos".

Assim, com base no que Heidegger afirma e levando em conta a questão formulada: "Assim, Deus é o primeiro nome a ser atacado. Mas, por que? Que Deus é esse que Nietzsche declara morto? E que morte anuncia Nietzsche?"

Surgiu-me a pergunta: "Quem ou o que é Deus para Nietzsche? Teria cinco conceitos como tem o niilismo? Ou seria a própria existência humana?"

Para responder a tua pergunta dirigida a mim, vou me reportar a alguns pontos da nossa apostila:

1) Há muitos modos de conceber e fazer filosofia (p. 9);

2) [Segundo Nietzsche] "não existe a verdade absoluta, não existem fatos, mas tudo é interpretação" (p.11);

3) Nietzsche destrói todos os ídolos (ideais) da metafísica tradicional (p.12);

4) O homem moderno, ao dispensar Deus para fundar e justificar o mundo, já o havia matado; Nietzsche o constata e o anuncia. O Deus, não só o Deus cristão, mas todas as realidades supra-sensíveis socrático-platônicas, bem como a filosofia e a ciência modernas que ainda continuam a justificar a ascese e a moral que desprezam a terra e a vida, tudo isso ruiu (p. 13);

5) Heidegger diz que "a tentativa de comentar o dito de Nietzsche `Deus morreu` é equivalente à tarefa de interpretar aquilo que Nietzsche compreende por niilismo (...)". Mas o niilismo em Nietzsche recebe vários sentidos (p.13);

6) A morte de Deus é necessária para o anúncio do além-homem, ou melhor, Nietzsche apresenta o além-homem como uma decorrência necessária da morte de Deus (p.14).

Voltando ao ponto levantado, no decorrer deste curso, tenho observado que cada pessoa tem a sua interpretação da obra de algum filósofo específico. Heidegger teve a sua interpretação de Nietzsche, os nazistas tiveram a sua interpretação de Nietzsche, porém, nem sempre a interpretação que nós é oferecida para auxiliar o entendimento de algum filósofo específico corresponde ao que o filósofo quis dizer. Daí a necessidade de recorrermos ao texto original, que pode ter sofrido alguns escorregões de tradução, já que não é possível transcrever literalmente um idioma para outro. Para contornar esse problema e levando em conta o que já foi falado sobre Nietzsche eu procurei me colocar no lugar dele, considerando todos os seus problemas pessoais. Desse exercício, eu concluí que Nietzsche não aceitava a sociedade tal e qual ela se apresenta, tampouco o cristianismo. Por que?

Vejamos, a sociedade, por mais que o tempo passe, continua privilegiando alguns em detrimento de outros. As pessoas buscam `status` e poder e querem demonstrar isso para outros (carros importados, canetas Mont Blanc, relógios Bulova, viagens ao exterior, dólares, contas na Suíça ou outros paraísos fiscais, mansões, festas de arromba, bebidas importadas). Enquanto isso outros catam comida no lixo, roubam sandálias Havaianas para ter o que calçar, mendigam, e mentem sobre a cor da pele para poder entrar na universidade pelo sistema de cotas. Que igualdade de oportunidades é essa? Que democracia? Que socialismo? Mas são esses valores que são pregados (todos são iguais perante a Lei, a Constituição).

Quanto às religiões de um modo geral, prega-se a fraternidade, a igualdade, a solidariedade, porém, na hora de dividir o pão, o pedaço de alguns é sempre maior; na hora dos privilégios, sempre alguns o têm em maior quantidade. Quanto ao respeito pelos outros, parece prevalecer o conceito de que se fizerem o que eu quero estão me respeitando, do contrário, estarão cometendo uma injustiça.

E nós vivemos imersos nesse meio. Estamos certos? Estamos errados? Não temos essa resposta porque somos nascidos, criados, condicionados e adaptados a ele. Entretanto, se pensarmos, se racionalizarmos, chegaremos à conclusão de que esse não é o caminho que nos trará o bem-estar, a realização, a paz, a qualidade de vida que tanto almejamos.Aqui entra Nietzsche, alertando-nos para esse gargalo e propondo a criação de novos valores. E que valores serão? Bem, nós buscamos a paz, a justiça, a fraternidade em nosso íntimo, entretanto, vivemos em um ambiente hostil, construído por nós mesmos. E nesse ambiente, no dia a dia, nem nos lembramos de Deus, seja ele qual for, com todo respeito a qualquer crença. Portanto, no cotidiano, estamos tão envolvidos em ganhar dinheiro, status e poder, que, por não pensarmos e Deus, o matamos.Temos que encontrar saídas para torná-lo menos hostil, menos competitivo.

Concluindo, gostaria de adiantar-me e parafrasear Schopenhauer que dizia que o problema da humanidade é o egoísmo.



JASPERS (2007) afirma que:

“Esse geral estado de coisas é escondido por mistificações, que não deixam de ter conseqüências. O colapso do sentido de duração do mundo material solapa a circunstância humana e ameaça o próprio homem. Coloca-se em dúvida o valor da lealdade no casamento, na amizade, na vida profissional. Em todos os setores, o mesmo se afirma: a permanência deixa de existir, em nada mais é possível confiar.

A substância tradicional da História vai sendo destruída pela forma tecnológica de viver, que se expande pelo mundo todo. O meio ambiente se degrada e se torna máquina. A idade da tecnologia faz surgirem condições sob as quais nada do passado pode subsistir.

A fé que se aninha no coração não mais encontra linguagem eficaz para expressar-se. Tornam-se vazias as dimensões da alma e o mundo se faz um deserto ou um triste teatro de prazeres.

Ouvimos dizer que "Deus está morto". Sem embargo, as igrejas florescem. Não duvidam de si mesmas. Tranqüilizados por elas, os homens se sentem seguros em meio a essas estruturas grandiosas que talvez não passem de enormes cenários apodrecidos. “











Heidegger

Procurando responder às questões apresentadas, o ser que, segundo Heidegger, dá-se como forma absolutamente autêntica da existência é o homem porque ele é "diferente do tipo de ser dos demais entes que subsistem de modo pronto e acabado".

O homem tem consciência de sua existência, dá sentido ao que o cerca, convive com os entes, ao passo que as plantas e os animais possuem apenas meio ambiente, ou seja, `estão no mundo, mas não têm mundo porque não têm consciência`.

O ente humano tem uma pré-compreensão do ser e pode questioná-lo.

A metafísica tradicional coloca o mundo das idéias fora do mundo sensível. Seriam dois mundos distintos. Para Heidegger não existe um mundo fora daquele onde o homem está inserido ou faz parte.

O Dasein (ser-aí) está sempre no mundo, seu ser é constituído como ser-no-mundo.

Para Heidegger, `superar a metafísica` não significa eliminá-la, mas desconstruí-la para conhecer os componentes que levaram ao esquecimento do ser.

O entendimento dar-se-á a partir da compreensão do ser pelo Dasein, do `ser-aí`.

O grande problema da metafísica ocidental, segundo esse autor, foi confundir o ser com os entes, ou melhor, com o ente supremo. Isso levou ao esquecimento do ser.

A metafísica tradicional estuda o ser a partir dos entes. Para Heidegger, temos que estudar os entes a partir da compreensão do ser.

O ser-aí (Dasein) tem uma pré-compreensão do ser; dessa maneira não se pode conhecer o ser como um objeto frente a um sujeito conhecedor, pois o ser faz parte da condição humana.

No meu humilde entendimento, a proposta de Heidegger é que utilizemos a prática do `espanto` e da `desconstrução` vista na UEA 01 (2007) para podermos entender o ser e os entes.

Durante toda a evolução do pensamento filosófico, ficamos presos ao pensamento de Platão e Aristóteles na sua maior parte. Assim, fomos condicionados a separar o mundo sensível do mundo das idéias.

Creio que Heidegger gostaria de perguntar: "Por que devo me preocupar com o mundo das idéias se estou aqui interagindo com outros entes humanos, animais e plantas?"

"Haveria um ser supremo ou ele deveria ser buscado no meio onde existimos?"

"Se pensamos, temos consciência de que existimos, interagimos com o meio, o ser dos entes não estaria aqui esperando ser desvelado?"

Como não conseguimos entender o que nos rodeia, nem a nós mesmos, permanecemos sempre um projeto, um vir a ser, com um único destino - a morte!

E toda a experiência acumulada durante uma vida, não seria uma preparação para a morte?

Refletindo sobre a terceira questão:"O que se joga fora com os entes?", ouso dizer que, apesar dos entes terem o seu valor técnico-científico e sobre eles está estabelecida a sociedade, o homem acaba perdendo a sua essência, o seu ser, ou se esquecendo dele.

Insisto na linha de pensamento que venho mantendo desde as primeiras aulas: nós somos condicionados a ser o que somos e a pensar da forma como pensamos. O resultado disso é a nossa `vontade de poder e de querer`. Dessa maneira, somos levados a ter e não a ser.

Assim, ficamos presos ao ambiente que nos cerca, nos condicionamos e dele não conseguimos mais sair.

Durante o curso de Antropologia Filosófica (UEA 05), discutimos à exaustão o livre-arbítrio. A leitura da apostila remeteu-me imediatamente a ela ao afirmar:

"No mundo atual, o ser está encoberto pela técnica que é a encarnação da vontade de poder. É o império da dominação dos entes, não havendo espaço para a questão da verdade do ser" (p. 36-37).

Segundo Heidegger, "o homem não possui liberdade como propriedade sua, mas precisamente o contrário é verdadeiro; a liberdade, o ser-aí existente e relevante possui o homem e o possui tão originalmente que só ela permite a uma humanidade entrar nessa relação com o ente como tal na sua totalidade, que se funda e traça toda sua história" (p. 37).

Interpreto isso da seguinte maneira: temos a ilusão da liberdade. Nossa liberdade restringe-se ao que o ambiente nos oferece, sob o domínio dos entes.

Por outro lado, no momento em que tomamos consciência dessa condição e passamos a buscar o ser ao invés do ter, começamos a dar o primeiro passo para a liberdade. Ficamos livres dos entes e encontramos a nossa essência.

Encontrei na página www.filosofiavirtual.pro.br, um comentário da autora Cristina G. Machado de Oliveira, em que ela trata da questão do ser em Heidegger. Diz ela:

"O ponto de partida necessário de toda tentativa por determinar, em seu rigor, o ser do ente em geral, era o homem com ser-aí ou Dasein. Pois, de todos os entes, o homem é o único ao qual é funcionalmente exigida uma solução para o problema do existir. Assim, criando uma terminologia própria, Heidegger denomina o modo de ser do homem, nossa existência, coa a palavra Dasein, cujo sentido é ser-aí, estar aí.

[Na filosofia de Heidegger,] Deus é ignorado e não há referência a um ser transcendente. A existência humana basta-se a si mesma. Por isso, o humanismo de Heidegger é chamado de absoluto, por está fechado em si mesmo.

Analisando a vida humana, ele descreve três características básicas que marcam a existência inautêntica:

1. O fato da existência: o homem é `lançado` ao mundo, sem saber por quê. Ao despertar para a consciência da vida, já está aí, sem ter pedido.

2. O desenvolvimento da existência: o ser humano estabelece relações com o mundo que o cerca. Para existir, projeta sua vida e procura agir no campo de suas possibilidades. Assim, move uma busca permanente para realizar aquilo que ainda não é. Em outras palavras, existir é construir um projeto.

3. A destruição do eu: na busca de realizar seu projeto, o homem sofre a interferência de uma série de fatores adversos que o desviam do seu caminho existencial. Trata-se de um confronto entre o eu com os outros. Um confronto no qual o homem comum é, geralmente, derrotado.

O seu eu é destruído, arruinado, dissolve-se na massa humana. Em vez de tornar-se si mesmo, o homem torna-se aquilo que os outros desejam. O sentimento profundo que faz o homem despertar da existência inautêntica é a angústia, pois ela revela a nossa impessoalidade no cotidiano, o abandono do nosso próprio eu diante da opressão do mundo como um todo.

A partir desse estado de angústia, abre-se para o homem, segundo Heidegger, uma alternativa: fugir de novo para o esquecimento de sua dimensão profunda, isto é, o ser, e retornar ao cotidiano; ou superar a própria angústia, manifestando seu poder de transcendência sobre o mundo e sobre si mesmo".

Em minha primeira incursão neste terceiro fórum avaliativo, gostaria de começar dizendo que Lévinas é um pouco difícil de ser entendido e interpretado. E a opinião não é somente minha, não.

No livro "Compreender Lévinas", de Benjamin C. Hutchens, ed. Vozes, 2007, já nas primeiras páginas o autor faz um sumário `das maneiras em que o leitor pode se frustrar com os textos indisciplinados` de Lévinas;e aponta:

1) Lévinas escreveu muitos livros repetitivos;

2) A estratégia textual de Lévinas é traiçoeira porque suas idéias misturam-se umas às outras e os leitores são obrigados a ler sobre diálogo, ceticismo, tempo, Deus, e a compreensão do leitor perde sempre o equilíbrio e é sempre adiada;

3) Tendo algum desprezo pela lógica formal e pela racionalidade argumentativa, Lévinas encanta-se com a contradição, o paradoxo e o raciocínio circular; e

4) Lévinas entrega-se a tempestades de hipérboles.

Lendo a apostila, verifico que Lévinas preocupou-se em abordar a ética pela separação dos entes.

1) Os entes ( eu e outro) são totalmente separados;

2) O eu é egoísta, tudo quer, busca o hedonismo;

3) A busca do hedonismo é limitada pela presença do Outro.

4) O Outro me limita, me faz pensar, me faz sentir;

5) Convivendo com o Outro, eu aprendo, eu troco informações, eu cresço como Ser, como pessoa, eu deixo de lado o egoísmo;

6) Conhecendo o Outro, eu entendo as minhas limitações.

7) O contato com o Outro proporciona um aprendizado mútuo.

8) No contato com o Outro, eu percebo que `não estou só` e que preciso chegar a um consenso com o outro para me sentir confortável.

Dussel foi `discípulo de Heidegger, Paul Ricoeur e Lévinas`. Assim, Dussel amplia a relação "Eu e Outro" de Lévinas para "abastados" e "excluídos".

Assim como Lévinas preconizava que tínhamos que ouvir e conviver com o outro, Dussel fala para ouvirmos os excluídos.

Só vamos crescer como pessoas, como civilização, com justiça social, se os excluídos tiverem oportunidades na sociedade em que vivemos.

Meditando a respeito de Dussel e reforçando o que já falei e o que consta na apostila, este filósofo critica o estilo de vida do Primeiro Mundo, voltado para si, para a satisfação de suas necessidades, apesar de constituir-se de 15% da população mundial, ao passo que o restante (85%) passa necessidades.

Assim como Lévinas, Dussel trata do Eu e do Outro. No caso, o Eu seria o Primeiro Mundo; o Outro, os demais necessitados e excluídos.

No pensamento de Lévinas, o Eu deve ouvir o Outro; no de Dussel, o Primeiro Mundo (Eu) deve ouvir o Terceiro Mundo (o Outro); deve comportar-se olhando o Terceiro Mundo ( o Outro); deve agir para diminuir as desigualdades.

Dussel parece dizer que o Terceiro Mundo também pensa, pois a totalidade da filosofia é produzida pelo Primeiro Mundo. Daí o uso de textos africanos, indígenas,da guerrilha (por exemplo, o texto do Exército Zapatista de Libertação Nacional) (UEA 04, 2008).

Além disso, critica a filosofia como instrumento (ou alegoria) do poder do vencedor, como no texto do filósofo africano Eboussi Boulagra, citado por ele (UEA 04, 2008):

“A oposição dominador-dominado repercute em todas as esferas, onde se repete a contradição dos que são em referência aos que não são , dos que têm sobre os que não têm. O vencido define-se por suas privações, que proclama como a superioridade do senhor. A filosofia, entre muitas atividades, aparece como uma alegoria do poder do vencedor.”





BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

DURANT, Will. História da filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 2003.

HUTCHENS, Benjamin C. Compreender Lévinas. Petrópolis: Vozes, 2007.

JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo: Cultrix , 2007.

NIETZSCHE, Friedrich. Assim falava Zaratustra. Rio de Janeiro : Ediouro, 1987.

UCB. UEA-01 – O modo de conceber e fazer filosofia de alguns pensadores gregos. Apostila do Curso de Especialização em Filosofia e Existência. Brasília: Universidade Católica de Brasília, 2007.

UCB. UEA-04 – A superação da metafísica e a ética em alguns pensadores contemporâneos. Apostila do Curso de Especialização em Filosofia e Existência. Brasília: Universidade Católica de Brasília, 2008.

UCB. UEA-05 – Tópicos de antropologia filosófica. Apostila do Curso de Especialização em Filosofia e Existência. Brasília: Universidade Católica de Brasília, 2007.

http://www.filosofiavirtual.pro.br







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