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Artigos-->Corrupção e Assalto -- 25/07/2008 - 22:45 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Corrupção e Assalto



Em 2006, minha casa foi assaltada. Felizmente, não havia ninguém em casa e não sofremos nenhum dano físico, só psicológico, ao chegar e vê-la aberta e toda revirada. Depois de passarmos a madrugada com a polícia levantando pistas, sentamos para conferir os estragos e acalmar os nervos. Foi então que lembramos que aquela era a segunda vez que nossa casa fora invadida e, assim como da primeira, o susto passaria, teríamos de disciplinar os gastos para repor o que foi levado e continuar a vida.

Lembrei-me então da frase certeira do dr. Walter Sérgio de Abreu, delegado de Polícia de São Paulo, quando disse que “assim como nós, o ladrão procura um negócio perfeito”. Passei então a acreditar que éramos vítimas porque tínhamos mais que o ladrão e adotei a seguinte filosofia: se ele vendesse por um bom preço o que nos roubou e investisse com inteligência o dinheiro para nunca mais precisar roubar e deixar as pessoas com os nervos em frangalhos, eu me daria por satisfeito e até o perdoaria.

Outro fato que me deixou com os nervos em frangalhos foi saber que alguns colegas com os quais trabalhei estavam sendo investigados por desvio de dinheiro público. Foi muito ruim vê-los estampados nos jornais.

Ao lembrar desses fatos, classifiquei as diferenças entre o ladrão da minha casa e os meus colegas e terminei enumerando algumas:

1. O ladrão certamente era pobre, sem emprego e vivia de bico. Roubava um aqui e outro ali; os colegas eram da classe média, tinham emprego, curso superior e salário fixo;

2. O ladrão certamente nunca leu o Código Penal para saber quais as penas que lhe seriam aplicadas; os colegas eram plenos conhecedores do Regime Jurídico Único, da Constituição Federal, do Código Administrativo e do Código Penal; eram funcionários graduados e juntos até estudamos e discutimos a aplicação dessas leis;

3. O ladrão me levou bens materiais (precisava apenas disciplinar os gastos para comprar tudo novamente). Passados quinze dias eu já estava com os nervos plenamente restabelecidos; os colegas não me levaram nada palpável, nada material, mas me levaram algo pior: a confiança, o carinho, a amizade. Cinco anos se passaram e ainda não me restabeleci;

4. O ladrão certamente trabalhava perto da minha casa, conhecia a rotina da família, quem sabe até dias antes eu tenha cumprimentado o gatuno; o deslize dos colegas me faz fugir deles para não cumprimentá-los;

5. De certa forma, eu já esperava o ladrão, tanto é que havia instalado alarme na casa e no carro e tranca nas portas. Assim como o ladrão, o colega corrupto também agiu de surpresa. Só que contra o colega eu não me preveni, não me armei. Eu não o esperava. Inúmeras vezes almoçamos juntos, falamos de futebol, da família, fizemos planos para o futuro, compartilhamos alegrias e angústias. Deixei que eles entrassem na minha vida e, já naqueles dias, sorrateiramente, eles estavam roubando a minha confiança, a minha amizade e o meu carinho.



Enfim, eu tinha mais que o ladrão, por isso ele me roubou. E o servidor público ou o político que têm mais do que eu, por que eles roubam? Contra o ladrão eu pedi ajuda à polícia e saí na esperança de que ele fosse preso e pagasse pelos danos que causou à minha família; e contra os colegas, há quem me queixar?

Agora, caro leitor, como você agiria se soubesse que o político em quem você votou foi flagrado desviando dinheiro público? E como não se sentem os eleitores dos parlamentares que estão sendo investigados pelas CPIs do Valérioduto, do Mensalão e Sanguessugas?

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