Hoje cedo ouvi no rádio que o Governo do Distrito Federal (GDF) dará um novo aproveitamento para a Granja das Oliveiras. Essa ‘granja’ é um local destinado a abrigar e ressocializar jovens infratores, crianças abandonadas pelos pais ou sob risco de morte. Ela fica próxima ao Catetinho, primeira residência do Presidente JK.
A notícia dizia que o Governo transferirá para a Granja vários garotos que estão sob custódia do Centro de Atendimento Juvenil Especializado (CAJE). Para que a recuperação dos jovens seja um sucesso, o GDF nomeou o funcionário Rubens Depollo para gerenciar esta árdua missão.
Na reportagem, Rubens deu entrevista cheio de otimismo e esperança quanto à recuperação desses garotos e garotas. Sei que o Rubens dará muitos conselhos a esses jovens e não se cansará de mostrar-lhes o caminho para uma vida mais digna. Como pessoa humana e morador de Brasília, desejo imensamente que ele tenha sucesso na sua tarefa e espero que os garotos que hoje estão sob sua responsabilidade ouçam e sigam seus conselhos, para que, ao voltarem à sociedade, um dia possam dizer: “Rubens, obrigado pelas dicas!”.
Mas não quero falar dos jovens e seus problemas, quero falar é do Rubens. Quando eu tinha 16 anos trabalhei com ele no Jornal de Brasília. Eu era office boy, nome esquisito para contínuo, e ele, assistente administrativo. Ele era uns dois anos mais velho que eu. Eu ainda estava no segundo grau e ele já estava se formando em Psicologia.
Sempre muito paciente, brincalhão e namorador. Sobre as mulheres revelo que quando saíamos para as festinhas, ele nunca voltava sem o telefone de uma garota. Eu e o Olindo, outro grande companheiro, ficávamos com uma inveja danada da lábia do Rubens. Certa vez, eu e o Olindo o abordamos e perguntamos qual era o segredo dele, pois, por mais que tentássemos conquistar as garotas, elas nos recusavam. Dava um trabalhão pegar uma. Já ele, quando era recusado, sempre tinha uma tonelada de argumentos, e nunca vi uma garota que não cedesse aos seus encantos.
Então ele nos ensinou que “as mulheres gostam de homens inteligentes. Na conversa, você deve colocar uma palavra nova que ela não conheça. Esse é o segredo”. E continuou: “veja a palavra indescritível. Foi um prazer indescritível dançar com você, é um prazer indescritível te conhecer”. Perguntei o óbvio: “Para aprendermos uma palavra nova, deveríamos ler o dicionário, certo?” Ele concordou, mas criticou o fato de não lermos as notícias inteiras do jornal, só as manchetes. Ele recomendou que eu lêsse a matéria toda para entender o assunto e pescar uma palavra nova para colocar na conversa com as meninas. Eu nunca havia lido uma reportagem inteira.
Com essa dica passei a ler não só as matérias mas o jornal na íntegra diariamente. Percebendo o meu interesse, ele perguntou se eu queria ler um livro. Eu nunca havia lido um livro na minha vida. Ele me deu O Mulato, de Aluizio de Azevedo, e se dispôs a me explicar o que eu não entendesse. No dia seguinte, logo nas primeiras páginas, surgiu a primeira e última dúvida:
_ Rubens, por que colocam esses travessões um embaixo do outro?
_ Esses travessões indicam a fala das pessoas. Olha aqui! Este falou, agora esse outro está respondendo. E assim vai...
As palavras que eu não entendesse o significado, ele me aconselhou a consultá-las no dicionário. Pronto, ele me iniciou na leitura. Bastou isso para eu me tornar o maior admirador do Rubens e apreciador da leitura.
Trinta anos depois estou aqui para dizer: “Rubens, obrigado pelas dicas!”.
