Engasgo.
Intolerável egocentrismo.
Eu.com, sem br,
apenas eu.com ou, meu.tudo
Dos sentimentos vizinhos, nada.
Das agruras alheias, a mudez,
apenas a evidência de uma pessoal
e exibicionista intervenção.
Do que vai pelo mundo, sabe-se lá...
do que vai pelo outro, perdeu-se a noção .
Então acontece a autopoesia,
o poema espelho, o verso fotografia
e aí, depois do adjetivo narcisista,
neologismos são prementes
surge o verbo “narcisar”
e o advérbio “narcisistamente”.
A poesia pessoal é o que conta.
Só o que vale é eu isto, eu aquilo,
eu agora, eu sim, eu não, eu tudo.
Primeira pessoal do singular,
singularidade única,
redundância absoluta.
Eu e mim, eu pra mim.
Os títulos do meu e minha
são os que importam :
meu enternecimento, meu amor,
minha mágoa, minha comoção
e aí lembram-se Dele!
- Ó Deus! -e perguntamos:
- Que deus?
- O meu deus!
- Qual?
- Eu! Onipresente,
onipotente, onisciente,
eu.tão-somente!Cruz credo,
que eu me livre de mais gente!
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