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Artigos-->O que levar para o novo ano? -- 09/02/2009 - 21:49 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Certa noite, no aniversário da Patrícia, eu e alguns colegas, que se esbaldavam na pista de dança, comentávamos sobre quão agradável era a nossa convivência. Em êxtase, Fátima – colega que está se mostrando uma filósofa de primeira linha – disse que gostaria de levar de 2008 algumas pessoas e momentos, e aquele seria um dos momentos que ela levaria.

Embalados pela música e por uns goles de vinho, começamos a filosofar sobre as coisas boas da vida. Patrícia aproximou-se e disse que por dinheiro nenhum levaria para o ano novo o ‘canalha’ do seu ex-namorado. Ela já o havia enterrado e jogado umas pás de cal por cima. Acrescentou que naquele dia ele lhe telefonara se auto-convidando para ir à festa dela, mas ela, é claro, fez-se de desentendida e não o convidou. Demos uma boa gargalhada, que ficou registrada numa foto batida no exato momento em que ela descrevia o espanto dele ao ser desconvidado.

Continuando a conversa, a romântica Fátima disse que levaria a amizade do ex-namorado, mas não levaria o tempo em que viveram juntos, porque fora um namoro conturbado. Enquanto apaixonados, eles passearam bastante e tomaram muita água de coco gelada após as caminhadas matinais no parque da cidade.

Quanto a mim, por gostar muito do que faço, disse que levaria para o novo ano o meu trabalho. E levaria também os beijos das minhas netas. Aliás, hoje cedo li que ‘a gente não deveria ter filhos, só netos’. Eu levaria também os meus erros, para tê-los sempre por perto e assim não repeti-los. Por fim, levaria também algumas pessoas, e outras não.

O certo é que levarei o meu arrependimento por não ter sido cordial com uma pessoa. Como fui ingênuo! Mas na primeira oportunidade lhe pedirei desculpas. Levarei também a lembrança do acidente que quase me levou à morte. Aliás, se pudesse eu escolheria morrer de acidente fatal. É muito rápido e indolor. Não se vê a hora da pancada nem se sente a dor da morte. A minha morte só doeria para alguns que ficassem, não para mim. Se algum amigo morrer de acidente antes de mim chorarei com outro sentimento.

Já faz algum tempo li a poesia ‘Receita de Ano Novo’, de Carlos Drummond de Andrade. Ela fala da grande idéia de renovação das forças com a chegada do ano novo, da idéia de fazê-lo novo de novo, sempre. Assim, tudo o que foi triste deve ficar no ano que se finda. Quem teve uma desilusão amorosa certamente não a levará para o ano seguinte. O difícil é saber como livrar-se das lembranças que causam dor. Muita gente permite-se, apesar do sofrimento, levar essas lembranças para o ano vindouro. Quem não consegue se livrar das lágrimas, permite levar adiante uma parte, uma pequena parte de seu sofrimento. Os mais fortes abandonam o sofrimento no ano findo. Nós vascaínos levaremos com tristeza a segunda divisão.

Na praia de Geribá, em Búzios, conheci a Isa e o Carlos, dois simpáticos irmãos adolescentes que brincavam na areia. Eles faziam um morrinho de areia à medida que diziam os nomes de algumas pessoas. Perguntei de quem eram aqueles nomes. Estariam enterrando alguém? Eles explicaram que estavam fazendo um monte de cocô com algumas pessoas que fizeram parte de suas vidas em 2008, mas que eles não queriam levar para 2009. Inteligentemente e na maior algazarra, eles falavam o nome de alguém e, se fosse persona non grata, diziam ‘é cocô’. Colhiam um punhado de areia e acrescentavam ao monte. O morrinho de areia já ia bem alto. Eles já haviam ‘enterrado’ a coordenadora da escola, o professor de matemática, a Beatriz Testuda, a Juliana, o vizinho barulhento e outros que não posso citar.

O meu amigo Luc tem o belo hábito de eternizar os seus momentos colando num caderno os ingressos de cinema, teatro, autódromo e os tíquetes das passagens por onde andou. Nos lugares onde não há o que levar ele desenha o que vê ou escreve as emoções que sente. Fiquei admirado com sua paciência e dedicação. Ele disse que vai criar coragem e publicar tudo o que já escreveu. São vários cadernos. A grande virtude desse hábito é que, ao abrir seus cadernos, o Luc volta ao tempo e se emociona pela segunda vez. Quando enviei o rascunho deste texto para ele comentar recebi a seguinte resposta: “Caríssimo João, comento o seguinte: um amigo fez três casas e em cada uma cometeu erros diferentes. Achou que na segunda não cometeria mais erros, mas cometeu. Na terceira, certamente, já experiente, não erraria, mas errou. Então, deixe os erros, pois certamente cometerá outros. Para que acompanhá-los dos já cometidos? Eu, talvez, do alto de minha soberba leonina, não carrego os meus...”



Por fim, parabenizo as pessoas citadas por elas terem encontrado um meio de refletir sobre o ano que passou e, cada qual, a seu modo, decidido o que levar para o novo ano. Temos motivos de sobra para comemorar ou esquecer. A graça da vida está em sabermos mesclar as alegrias e as tristezas e as vivermos intensamente.

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