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Cartas-->28. SEVERINO -- 16/08/2002 - 07:13 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Não quero gracejar fazendo sotaque baiano, de Ilhéus. É porque me criei lá até que morri, aos nove anos.

Aqui aportando, não me detive nas ranzinzices, precisando o Irmãozinho José vir em meu socorro, para que não me afogasse em mágoas, que nas águas do mar já havia deixado a vida.

Vim com minha mãe e com meu pai, mas me perdi deles e precisei dos recursos dos protetores, que me acolheram e trataram de mim com muito apego e afeição.

Neste tempo em que estamos ditando, já me olvidei da malícia das lamúrias, para trazer de volta a quem mais queria. Tenho estado com eles, mas não me dão a mesma alegria, pois não me querem lá, local de muito sofrimento, impedindo-me de auxiliá-los com palavras de muita fé na misericórdia de Deus.

Eu sofro um pouquinho, mas não me deixo abater, porque fiquei sabendo que todos nós merecemos as dores que nos acometem, jamais tendo de agüentar nada que não represente a justa medida das estrepolias e desassossegos provocados nas outras pessoas.

Enquanto vivi, meus pais não brigaram nunca. Agora, não param de se bater e não conseguem separar-se. No começo, achei muito estranho, tanto que me interpus como mediador, para o ajuste evangélico das contas. Durante o tempo em que fiquei com eles, resignaram-se a respeitar minha presença. Quando voltei, presenciei outra cena de profunda agonia, dadas as mútuas acusações acerbas, como se houvesse inimizade transcendente da derradeira encarnação.

Perguntei aos protetores em que me equivocara ao julgar o casal em harmonia durante a vida. Responderam-me que estavam presos pelas conveniências sociais, pois os homens fazem leis que determinam submissão e respeito. Servem para manter as pessoas unidas, muitas vezes precariamente, até que se acostumem umas às outras. No caso de meus pais, inimigos antigos reunidos para a tentativa de reconciliação, a vida lhes tinha sido cortada cerce, quando não haviam ultrapassado o período dos conhecimentos íntimos. Por outra, haviam acirrado os ânimos ainda mais, pois a fase por que passavam quando morreram era por demais melindrosa.

Para chegar até o local em que se encontram os litigantes, vou percorrendo diversos lares igualmente estremecidos. Estarrece-me verificar que muita gente existe que não consegue desgarrar-se do companheiro infeliz, como se se imantassem pela eternidade. É situação de penúria e de desgraça tais que, se as pessoas no mundo soubessem disso, correriam para fazer as pazes com todos os que se desgostaram delas e por quem nutrem antipatia.

Ultimamente, tenho levado colegas comigo, para me ajudarem a impressionar meus pais, de forma que venham a respeitar as palavras de Jesus, que repetimos, revestidas de carinho, de afeto e de boa vontade. Sabemos que não dão ouvidos à verdade evangélica ou teriam abandonado o lar desfeito e miserável, para aceitarem vir conosco. Mas tal como aqui, vamos repetindo os avisos “ad nauseam”, para vencer pelo cansaço.

Como fico exageradamente abatido sempre que retorno das visitas, sou obrigado a me desmagnetizar através da meditação sobre os textos bíblicos e outros produzidos pelos mentores da “Escolinha de Evangelização”, os quais, invariavelmente, terminam em belíssimas preces, em prol do crescimento moral das pessoas das quais cuidamos.

Não sei se foi importante informar que nem sempre os pais estão mais adiantados que os filhos, mesmo quando estes desencarnam em idade muito baixa. Mas a verdade é que estou avançando nos estudos, enquanto eles marcam passo, como se o progredir não atravessasse suas cogitações.

O interessante é que deve ser realmente isso. Certa vez, apresentei-me, inadvertidamente, com o aspecto que teria se permanecesse encarnado, puxando, é claro, para a fisionomia da vida anterior, e eles não me aceitaram como filho. Enquanto não me transformei naquela criança que o mar engoliu, não me levaram em consideração.

Existe pormenor nas discussões que me deixa imensamente aborrecido. Quando querem ferir um ao outro, lembram-se de mim, para se acusarem de me terem matado, uma vez que a viagem fora acordada por ambos, embora eu batesse o pé, recusando-me a mudar. Tivera a presciência da tragédia ou, simplesmente, estava apegado ao local, sem interesse em abandonar os amigos? Sei que chorei muito e essas lágrimas estão indelevelmente impressas nas lembranças de meus pais, para incremento das dores.

Não estranhem se meu “causo” é de candidez e ignorância. Estou entre estes amigos talvez por engano, que não me desenvolvi o suficiente para revelar a seqüência ou o encadear dos elementos que deram origem a esta situação do grupelho familiar. Meus dois irmãos, que se salvaram, vivem muito bem com os tios, embora isso seja desconhecido de meus pais, que se impedem de sair do casebre malcheiroso em que se batem, dia e noite.

Às vezes, fico a imaginar a razão de não me ter salvado também, porque as crianças pequenas tiveram a regalia de permanecer num bote com algumas mulheres. Aí, penso que tenha sido melhor assim, pois o que não avancei na face da Terra, tenho progredido aqui, podendo imaginar a próxima encarnação muito mais adequada para a aquisição dos fatores evangélicos que me faltam.

Em duas ocasiões, pude conversar com meus manos, durante a noite, quando fiquei sabendo que a perda dos pais lhes foi sumamente desagradável. Ao lhes relatar o que se passava comigo, ou seja, que tinha e, ao mesmo tempo, não tinha a companhia deles, ficaram extremamente aborrecidos. Como nada podem fazer, já que, acordados, quase não se lembram dos familiares acidentados, rezam de maneira muito geral, abrandando as ânsias e reconhecendo-se felizes por estarem vivos. Antes assim.

Fiz questão de demonstrar que me encontro fortemente impregnado pelo trespasse doloroso e pela condição dos pais, para evidenciar que isso tudo me perturba quanto aos estudos, o que onera sobremodo os companheiros, que gastam um colosso de tempo comigo, para me fazerem entender como é que a existência se desenvolve.

Agradeço muitíssimo, pois, a eles e aos bondosos leitores, que me darão a certeza de que este tempo destinado à confecção e à transmissão da mensagem não tenha sido inutilmente roubado da assistência que devo aos parentes.

Fiquem nos braços de Jesus! Muito obrigado!

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