Sem ar e sem água, áridos os contornos e monótonos os vales.
Falas como se os versos fossem o areal tórrido do Sahara
Onde as corcovas dos camelos sangram a infinita distância do oásis apetecido
Falas como se fosses a senhora da melancolia no horto protetor de Rosalía em Padrón
Falas vergada à tua dor de alma como se os azorragues estivessem bastonando em sangue tua delicada pele
Assuntas arfando as letras como quem está numa corrida onde caixotes de chumbo inibem a mobilidade na sola de teus pés
Falas como quem está agonisticamente nos confins da aventura
Sentindo o peso próximo de uma alma que carrega na dura subida o roliço penedo de Sísifo
Pelo que me confidencias, adivinho que bem próximo de tua rota as palavras resistem soberanas a que tornes clara a tua dor indescritível
Caminhas por entre sombras cúmplices de silêncios e gostarias que as mesmas te explicassem essa admirável onda da alegria do sol banhando a terra
Ouço dizeres que na caminhada sempre ficas deslumbrada por um território onde desconhecido idioma te surpreende afoito na força de um mundo em revelação
Acompanho de perto teus soluços cheios de ternura quase abafados no recanto da varanda de onde olhas para o mar
Perdida no vago horizonte que guarda as histórias curtidas em silêncio
E onde soletras os ritmos ondulatórios de teu coração
Mostras que em cada onda do teu mar passa a narrativa completa do que agora estás escondendo nas dobras infinitas das combinações que não revelas
Me olhas triste e contida porque uma aragem seca e tórrida te coloca sob pressão tentando suster-te o grito de vida que tens como tua melhor reserva de poesia!