Usina de Letras
Usina de Letras
243 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62152 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10448)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13567)

Frases (50554)

Humor (20023)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140787)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6177)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cartas-->29. CHARLES -- 17/08/2002 - 07:30 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Não estranhe o meu nome, por favor. Foi dado ao filho por ferrenho admirador do gênio cinematográfico, Carlitos. No carnaval, no sexto aniversário, vestiram-me como o vagabundo das telas e saí ostentando os andrajos, como se fossem as coisas mais sagradas do mundo.

Mas pouco tempo sobrevivi à glória infantil. Vim a ser despejado da vida por terrível locomotiva, que me triturou completamente o físico.

Vocês podem imaginar a dor dos pais e dos avozinhos. Eu mesmo fiquei entediado, por algum tempo, como se algo me faltasse. Mais tarde, identifiquei a ânsia como o destino biológico impresso no perispírito e que não mais se realizaria.

Como as lembranças da vida foram extremamente deleitosas, pedi e consegui dos benfeitores manter-me em contacto permanente com os encarnados, para usufruir as vibrações de muito amor.

Nos primeiros tempos, as tremendas saudades me transtornavam, mas fui acostumando-me com a idéia de que o sofrimento purga os pecados e enobrece a alma, de forma que vibrava por todos, com muito carinho, buscando incentivá-los ao culto da realidade transcendente, qual seja, a de que a vida na carne é transitória e frágil, enquanto o espírito se fortalece cada vez mais, para a busca sempiterna da perfeição.

Aconteceu-me curioso fenômeno psíquico, pois não recobrei inteiramente a personalidade habitual, deixando-me fortemente imantado à infância perdida, durante mais de três anos, enquanto dava atendimento vibratório aos familiares. Ao cabo desse tempo, comecei a notar que era preciso afastar-me do ambiente doméstico, pois minha presença contribuía vigorosamente para manter as tristes lembranças, impedindo os mais velhos de prosseguirem na caminhada redentora. Eu como que os amarrava a mim, inconscientemente, pretextando dar-lhes conforto e segurança cármica.

Foi por essa época que se apresentou a mim o Irmão José, trazido pelos protetores da família. Foi ele quem me convenceu de que os encarnados têm obrigações para com o futuro e não podem ficar presos pelos transtornos do passado. Por mais significativa tenha sido a perda, sempre haveria tempo para os reencontros no etéreo. Acrescentava que era eu muito ignorante e que, se freqüentasse as aulas na colônia, iria poder auxiliar bem mais, com conhecimentos especializados e com treinamento específico. O argumento que me convenceu, finalmente, foi o de que nem bem era criança nem era adulto, para a ilusão da permanência no lar.

Hoje, tenho tido progressos consideráveis. Por influenciação do nome, desejei acompanhar o desenvolvimento da carreira do ilustre artista inglês, tendo-lhe visto quase todas as obras. A ternura com que os pobres são retratados e a inteligência que se atribui a todas as personagens extraídas do meio ambiente serviram-me para entender as leis cármicas, utilizando-me do reverso da medalha para as observações. Assim, a condenação do emprego da força e da grosseria adveniente da riqueza adquirida através da exploração dos semelhantes, fiz relacionar com os diversos sermões de Jesus, contra os fariseus, os escribas e os pecadores.

Forcei um pouco a interpretação mas consegui encaixar nas películas todo o arsenal evangélico, inclusive a lei do perdão e da reconciliação. Neste ponto do exame, parei, para suspeitar de que houvera ele dado permissão a que certas ânsias do público se imiscuíssem na contextura psicológica das personagens ou na estrutura dramática do texto. Por recomendação dos colegas, tive de reverter para a preponderância do Evangelho, ou acabaria dando às idéias do xará valor acima do conveniente, já que algumas passagens dos filmes não eram, como diríamos em “modernês”, “carmicamente corretas”.

O resultado final, aparentemente, poderia fazer com que me desiludisse com as peças. A verdade, porém, é que não me senti capacitado a reproduzir, na vida, na ficção ou na existência no etéreo, as magníficas produções do cineasta. Daí a concluir pelas minhas deficiências em relação às leis e mandamentos evangélicos foi pequenino passo.

Cheguei, pois, ao ápice da demonstração a que vim determinado, ou seja, a de registrar, inequívoco, meu desempenho como falho, na consideração dos meios de influenciar o crescimento espiritual dos parentes.

Preciso revelar que, em certo momento, me pareceu a morte como bênção divina, para que o sofrimento dos familiares lhes possibilitasse a compreensão da divina justiça? Vejam que tomava o pião na unha e que desejava pôr e dispor ao meu alvedrio, como se tudo na existência fosse passível de domínio.

Agora, estou cônscio de que devemos lutar tenazmente para conseguirmos os objetivos próprios dos seres em ascensão moral. As coisas não caem do Céu. O Pai abençoará, sim, os esforços para a compreensão da Verdade, mas somente se esse sacrifício envolver a assistência lúcida e amorosa dos que se amarguram nesse vale de lágrimas. De que adianta ficar lamentando em conjunto, como se tudo se perdesse com o desaparecimento de alguém muito querido? Era o que fazia eu, acreditando estar dando ânimo novo aos que se lembravam de mim com extrema amargura.

Tornei bem mais raras as visitas aos pais e parentela. Deixei aos protetores a vigilância, para que ninguém viesse a descair nas malhas do desespero, e pus-me a rogar por compreensão, para elucidar de vez quais as provas que cada qual deveria enfrentar, como tributo inalienável pela prática odiosa das ações contra os semelhantes. Espesso véu se interpõe, impedindo-me de conhecer as causas das dores alheias, porém, me foi dado recapitular a última encarnação, na qual me vi devedor empedernido de diversas entidades, cuja identificação atual não foi desvendada.

Acredito que, no momento em que me sentir apto a desenvolver ações mentais e físicas ao nível de elevação das de Charles Chaplin, a caminho de entender a prática superior da moralidade do Cristo, todas as barreiras ruirão e poderei agir em consonância com o desejo que sinto de amar ao próximo como a mim mesmo.

Valham-me os subidos exemplos dos filmes, os quais guardo carinhosamente na memória!

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui