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Artigos-->O carteiro da minha infância -- 24/04/2009 - 09:47 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No dia 14 de abril de 2008 o Senado Federal realizou uma sessão especial para comemorar os 40 anos da Empresa de Correios e Telégrafos – ECT.

Durante a sessão voltei no tempo e fui até a minha infância, aos meus oito anos de idade. Naquela época eu morava em Caxias, no Maranhão. Meu pai viera para Brasília ajudar na construção da cidade e ganhar dinheiro para buscar minha mãe, eu e meus irmãos.

Eu sentia muita saudade do meu pai. Suas cartas chegavam com certa regularidade. Acho que toda semana. Quando ele demorava a escrever, minha mãe pedia que ficássemos de olho no carteiro que passava todo dia pela manhã. Ele não se atrasava nem faltava. Quando ela chegava da rua, ainda no portão, perguntava se o carteiro tinha deixado alguma carta. Se tivesse eu e meus irmãos nem esperávamos ela entrar. Íamos encontrá-la na rua e entregávamos a correspondência tão esperada. Ela não mostrava muita euforia, mas era visível a sua tristeza quando não vinha carta.

Eu também ficava ansioso por notícias dele. Houve uma época em que as cartas escassearam. Muito tempo depois é que entendi por que a minha mãe deixou todos os meus irmãos e me trouxe para encontrarmos o meu pai. Acho que ela sentiu que o seu casamento estava em risco e viemos parar em Brasília em uma madrugada chuvosa de janeiro de 1971.

Ainda lá em Caxias, alguém levou uma geladeira velha para minha casa. Não tive dúvidas: peguei faca, martelo, chaves de boca e fenda e parti pra cima dela. Desmontei-a todinha. Sem querer furei o motor e saiu uma fumaça verde. Fiquei ali sentado olhando aquele gás e imaginando que aquele motor, como se fosse um tapete voador, poderia voar comigo e com meu irmão Nonato rumo a Brasília. Não sei quantas vezes me sentei no motor e esperei ele sair voando até a Capital para buscar o meu pai. Isso acontecia principalmente nos dias em que eu acordava com mais saudades dele. Via-me sobrevoando a cidade com uma grande multidão embaixo pedindo-me para descer. Mas eu não obedecia. Seguia em frente no meu silencioso motor voador deixando um rastro de fumaça verde. Durante anos carreguei aquela imagem na minha mente. Hoje ela voltou...

Meu pai já é falecido. E eu nunca soube o nome daquele carteiro. Eles não se conheceram. Se hoje eu tivesse oito anos iria buscá-los para esta sessão na garupa do meu motor de fumaça verde.

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