Homenagem a Manaus nos seus 331 anos ou 152 anos (28.10.2000)
Boa noite! Minha Manaus querida.
Agora mais velha, 331 anos ou 152 anos, depende da ordem de comando.
Nascida sob o signo das mudanças, dos ciclos, do sobe e desce das glórias e decadências,
o que vivenciamos hoje, é que as luzes se apagam e a violência cresce,
a educação válvula mestra na formação de todos nós está a cada dia mais precária,
pena Manaus que a nós Manauaras, 1% do pouco que resta,
já que por tua bondade abraçaste a tantos que se mesclaram aos nossos e
com isto perdeste a pouca pureza do sangue indígena que ainda restava,
hoje, matadores profissionais, destroem vidas sem rastros,
enquanto nossos índios em sua maioria dizimados, mostram pouco do sangue de Ajuricaba.
Não sabemos se cantamos parabéns aos teus 331 ou 152 anos
ou se choramos por tua decadência, entre elas a de valores.
Ah! Manaus! Cresceste tanto, são tantas raças, são tantos filhos, tantos.
De tanto amor ficastes igual a cachorro vira lata, que cria seus filhos,
o filho dos outros, até gatos.
Enteada não será nunca, é boa mãe, mesmo adotiva, porque se recebes um,
logo trazem a família inteira e haja emprego, moradia, trabalho para tanta gente.
É rica, cercada pelo que falta a eles, rios de água doce, solos para o plantio
que pareces grávida de 100 filhos, inchada, bichada, podre, em cada esquina exalam o cheiro
fétido de fezes humanas, uma latrina a céu aberto.
Alguém já disse que tinhas cheiro cítrico, foram gentis, não gostamos de limão,
a falta de saneamento, de respeito, educação te torna pior que isto.
Tinhas que ser mais fechada, já que perdeu o “Sorriso”, a “Cidade das florzinhas”,
como diz um paisagista, turista talvez ou visitante de outro planeta.
Precisas ser mais calculista, selecionar teus enteados, porque teus filhos
se foram ou morreram todos.
Perdeu a virgindade, quando te cavaram toda, viadutos, passarelas,
faltam o metrô de superfície, um importado de outras plagas.
Cidade da fartura, “farta tudo”, cidade do já teve, “teve tudo”,
mas o que mais farta são sentimentos profundos aos rebentos nascidos aqui.
Amor a ti Manaus que nos abraça, que nos receberá no túmulo.
Senhora da Conceição, Padroeira da Cidade, desperta em nós, manauaras,
mesmo poucos, o desejo de mudança, de respeito aos nossos valores,
que voltes a sorrir como antes, embaixo dos mangueirais, seringueiras,
na brisa ardente do cais, mostrando tua cara que acobertaram com
grades na entrada do porto. Que a Virgem abençoe a todos nós Manaus!
Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Programa apresentando na Rádio Rio Mar de Manaus, programa Momento Poético,
sábado, 28 de outubro do ano 2000.
Com duas datas, felizmente refletiram e hoje não existe mais a fase dos cem anos.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Nota da autora- Sou apaixonada por minha cidade, choro por cada
pedaço seu que lhe é tirado.
Choro quando a tratam como bandida, quando nos tratam como indignos.
Manaus é de Escorpião, o Signo da transformação, a cada administração,
a cada ciclo novas mudanças, umas boas, outras ruins e cabe a nós poetas,
escritores, delatarmos quando a prejudicam, elogiarmos quando
a tratam com o respeito que merece.
Manaus, 25 de maio de 2009. Ana Zélia
|