O velho e o tempo
Maria da Graça Almeida
O homem na mocidade
desnuda o amor, sem pudor
e quando na "santa idade",
estranha-lhe o pouco vigor.
E eis que num dado momento,
inquieto, indaga ao Tempo:
- Por que impune, sereno,
vibra em compassos amenos
enquanto eu, nesta vida,
de tantas lutas e lidas,
tão desvalido me faço,
só enfraqueço e passo?
Por que ameaça a aparência
de toda e qualquer pessoa,
torna-lhe a face antiga,
e ceifa-lhe os sonhos à toa?
Por que você, o mais velho,
um decrépito eterno,
ainda usufrui do nome:
contemporâneo ou moderno?
E o tempo não lhe responde,
e nem lhe põe-se à vista,
tampouco egoísta expõe
como a façanha conquista.
maria da graça almeida
todos os direitos reservados
|