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Artigos-->Os Garotos da Minha Rua -- 27/06/2009 - 22:41 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Meus filhos têm uma forte amizade com um grupo de jovens da nossa rua. São cerca de vinte garotos e garotas com 21 anos em média. Todos filhos da classe média ascendente. A maioria deles está na faculdade e tem carro popular dado pelos pais pela aprovação no vestibular ou por ter completado 18 anos. Essa garotada convive na mesma vizinhança há cerca de 15 anos. Nossas casas são uma extensão da casa do outro; não há cerimônia entre os vizinhos.

Como em toda comunidade, vez por outra, alguém festeja um acontecimento enquanto outro chora de tristeza. Fiz um levantamento e constatei que alguns episódios infelizes marcaram esse grupo de jovens nos últimos anos. Dois deles morreram em acidente de carro em ocasiões diferentes; outro está em uma cadeira de rodas; uma outra jovem foi arremessada do carro, perdeu parte da massa encefálica e quase morreu; outros dois jovens tornaram-se usuários de maconha; um deles matou acidentalmente o amigo com um revólver; outro provocou a morte do amigo em um acidente de carro; outros dois imprudentes sofreram acidente com seus carros, mas nada sério; dois deles tiveram seus carros confiscados pelos pais; um outro jovem sentou-se na porta do carro em movimento, tirou as calças para provocar alguém em outro veículo, escorregou e caiu ralando a “bunda” no asfalto; uma outra jovem, de quinze anos, está tetraplégica, após ser arremessada do carro em que o motorista dirigia bêbado. Mesmo com tudo isso, há ainda casos de sucesso entre esses jovens. Uma garota está na faculdade e muito bem encaminhada; em uma família onde todos concluíram seus estudos e têm seus empregos fixos. Um jovem “ficou” com a namorada, e agora a cegonha trouxe a lindinha Eduarda para ficar com eles;

Trago esse assunto não porque sou masoquista, mas porque esses jovens são amigos dos meus filhos. Eu já estive em quase todas as casas e velórios desses jovens acidentados. Presenciei todas as lágrimas dos meus filhos a cada vez que seus amigos se machucavam ou perdiam a vida. No velório do último deles, chamei esses jovens de lado e tentei mostrar-lhes o quanto eles estão se autoexterminando. Nenhum desses acidentes foi provocado por culpa de outro carro. A culpa sempre foi do jovem motorista, porque estava bêbado ou porque queria mostrar que era ágil, esquecendo-se de que a vida é frágil. Os dois que agora se drogam são de famílias que nunca aprovaram tal atitude. Aliás, que família encaminha seu filho para as drogas?

Tentei mostrar a esses jovens que eles não são donos de suas vidas. Ninguém o é enquanto tiver alguém que o espere, seja os pais, os irmãos, os amigos ou os parentes. Falei-lhes que eles aos 21 anos já perderam mais amigos do que eu aos 47. Relembrei que quando chegamos àquela rua todos eram felizes e cheios de vida. Hoje, eles ora estão empurrando cadeira de rodas, ora chorando em velórios, ora fugindo dos jovens que usam maconha (apelidados de “turma da fumacinha”), ora visitando amigos acidentados em hospitais.

Uma das mães se culpou bastante pela situação do filho. Ela disse que a responsabilidade dele ter-se desviado do bom caminho era dela. E por isso não se perdoaria nunca. Rebati sua afirmação dizendo que ela estava esquecendo que nossos filhos têm livre arbítrio. Se nós pais presenteamos nossos filhos em demasia foi porque queríamos facilitar a vida deles. Afinal, foi para isso que não medimos esforços em estudar e trabalhar. Quando nós presenteamos nossos filhos com um carro fizemos para ajudá-los em suas idas e vindas à biblioteca, à faculdade e aos seus estágios e empregos. Só não estávamos preparados para ver que os nossos filhos não estavam prontos para uma vida de conforto e responsabilidade. Quando esperávamos responsabilidade, nossos filhos deram preocupações. Estávamos preparados para facilitar a vida deles, e não para vê-los em um caixão ou em uma cadeira de rodas. Nossos planos eram ver aquela garotada em uma festa de formatura, não em um velório. Nunca preparamos nossos filhos, nem a nós mesmos, para as tragédias que ainda rondam a nossa rua.

Não sei se eles lerão este texto, mas se o fizerem ouvirão pela segunda vez o meu apelo para que cuidem de suas vidas, não de suas mortes, que é a única certeza.

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