Hoje é o dia dos namorados e eu estou aqui, na Rua do Rosário, em Pirenópolis, Goiás; ou na Rua da Alegria, como nós turistas a conhecemos. É uma via íngreme, pavimentada com paralelepípedos. As mesas dos bares e restaurantes dividem a rua com os pedestres, os quais passeiam agora como modelos em uma passarela.
Por ser o dia mais romântico do ano, os comerciantes esmeraram-se em enfeitar as janelas e em colocar músicas para os enamorados ouvirem a dois. Estes, jovens ou maduros, passam aos pares trocando afagos e chamegos sob os olhares dos que estão saboreando um delicioso empadão goiano.
Assim como a árvore, que no outono desfaz-se das folhas e flores para sobreviver, muitos dos que iniciam uma nova relação também podaram os galhos e flores de romances anteriores e preparam-se para uma nova floração – como os pares que hoje colorem os olhos dos que estão aqui na Rua da Alegria.
Aquelas experiências que não deram certo são os galhos secos e as folhas caídas das árvores. Mesmo secos, não desaparecem. Estão ali, sem vida, manchando a paisagem. Mas a árvore continua firme à espera da próxima primavera, quando se mostra em toda a sua beleza.
Reparo que muitos casais que passam por aqui estão começando uma nova relação. Nutrem a esperança de ter encontrado o amor de suas vidas, após várias buscas frustrantes. Beijam-se. Abraçam-se. Juram fidelidade e companheirismo para alimentar a árvore do amor. E esperam que a vida seja uma eterna primavera.
Quando homem e mulher aventuram-se em uma nova relação, reflorescem.
Com a popularização do divórcio, é raro um indivíduo conhecer alguém que não traga consigo uma história de amor. Ao se conhecer, o casal promete que aquela é uma nova fase, que todo o passado está enterrado... é o passado que se foi. Contudo, assim como a planta que acaba de trocar os ramos não é necessariamente nova, também não é novo o que chamamos de novo amor. Ele é construído sob as raízes e caules de amores passados. O novo amor não é essencialmente inédito. Podemos chamá-lo de um outro amor. Novo é o que acontece pela primeira vez, é a estreia.
Desfilam também pela Rua da Alegria casais que sinalizam que sua árvore do amor está desfolhando-se. Porém, eles estão aqui em lua de mel, adubando-a e renovando-a.
Raras são as plantas que permanecem bonitas em qualquer época do ano. Os casais que descansam sob a sombra frondosa do amor limparam as folhas e galhos caídos. Hoje, estão revestidos por grossa casca, já enfrentaram chuva e seca e não têm a ilusão de que a primavera dura para sempre.