I
Armando-se de espada e tendo escudo,
O homem vai à guerra de conquista,
Mas, antes que o inimigo tenha à vista,
Insiste junto ao Pai que lhe dê tudo.
Assim, a humanidade quer que invista
A religião de triste conteúdo
Na crença de que existe, sobretudo,
Um deus que passe as tropas em revista.
Quão longe estamos nós da rude gente,
Quando se pensa a vida mais consciente
Das leis que se definem por Jesus.
Sobre as virtudes raras, o perdão
Obriga a quem deseja ser cristão
A abandonar o ódio pela cruz.
II
Chamuscos, nesta esfera de deslizes,
Não hão de dar problemas no outro plano,
Pois todos nós sabemos ser humano
Errar, de quando em vez, em meio às crises.
Mas persistir no erro é grave, insano,
Quando se tem das leis as diretrizes,
Pois quer Jesus finquemos as raízes
Nas terras da virtude, sem engano.
Por isso, estes do etéreo vêm dizer,
Em versos muito rudes, que o dever
Se põe acima dos prazeres fáceis.
Contudo, nossos versos podem ser
(Caso contra a vaidade haja poder),
Como as ações humanas, muito gráceis.
III
No instante em que o remorso se define,
Não só há que sofrer em desatino.
Senão de que nos vale o bom ensino,
Quando ao amor a alma não se incline?
Ao se cantar em coro belo hino
E alguém desprevenido desafine,
É justo que o maestro o recrimine,
Recomendando-lhe que tenha tino.
A culpa que se sente, em certas horas,
Deve servir de tema para o grupo
Que estuda as leis do carma cá na Terra,
Para evitar que haja mais demoras,
Que é isso o que acontece com o apupo
Que ao coração se torna triste guerra.
IV
Quando Jesus chamar os seus pupilos,
Para dizer-lhes quanto são felizes,
Vai nos cobrar das leis as diretrizes,
Como dos versos cobram os estilos.
Vamos vencer, portanto, nossas crises,
Estimulando a luta nos asilos,
Que os vícios não sem vencem sem feri-los,
Que as árvores não crescem sem raízes.
Um bom começo é dar ao evangelho
Prioridade sobre o corpo humano,
Na juventude lúcida da alma,
Que o corpo fica feio, quando velho,
Porém, a mente, neste outro plano,
Quando perfeita, sempre leva a palma.
V
Os temas que trazemos p ra poesia,
Às vezes, são estranhos para a gente
Que passa a vida toda indiferente
Quanto a alcançar maior sabedoria.
Não é qualquer pessoa que se sente
Habilitada a esta melodia:
Há quem entenda que melhor faria,
Se o povo se calasse, simplesmente.
Ao percorrer as plagas cá do etéreo,
Há quem se diga muito arrependido
Por não nos ter levado mais a sério.
Quando Jesus o pôs bem prevenido,
Achou mui complicado esse mistério:
É bom dar ao poeta algum ouvido.
VI
Não force a barra, ó caro companheiro,
Que a nossa força está chegando ao fim.
De que lhe adianta um verso bem ruim,
Fugindo nós do tema por inteiro?
Se você desejá-lo mesmo assim,
Vai só nos dar a idéia de matreiro,
Pois lemos-lhe, na mente: “Se eu requeiro,
Por que hão de negar bem justo a mim?”
Se de consolo serve a nossa rima,
Quase na hora certa de acabar,
Sabendo que sua alma se reanima,
Quando já não se vai mais devagar,
Receba desta turma forte estima,
Jamais deixando ao Pai e a nós de amar.
|
