I
Quando o desânimo derrui a alma
E já não tens sossego p ro trabalho,
Não há que procurar qualquer atalho:
É com doce oração que volta a calma.
Se julgas que fizeste um ato falho,
Querendo sobre a dor levar a palma,
Contém teu desespero e assim te acalma,
Que o Pai jamais negou seu agasalho.
Na Terra, a indecisão gera tristeza,
Que a vida tem percalços quanto à dor,
Por isso é que a luz fica sobre a mesa.
Se a mantiveres sempre ao velador,
Na escuridão, esconde-se a beleza
Do quadro que pintares com amor.
II
— Valei-nos, Pai, que o dia está perdido! —,
Às vezes, nós dizemos com rancor.
É que, ao querer os versos bem compor,
Sabemos quanto a forma tem sofrido.
Os termos que se juntam, sem valor,
Conseguem dar ao texto algum sentido,
Mas nada que nos dê por resolvido
O drama que aborrece o bom leitor.
Além de desviar de sua luta,
Perdemos o seu tempo com lamúria,
Que a forma deste verso exige escuta.
Se o pobre não sentir qualquer incúria,
Porque reage bem à força bruta,
Aí aumenta mais a nossa fúria.
III
Ao preencher o tempo, o nosso médium,
Que tempo tem demais, até de sobra,
Procura dar retoque à nossa obra,
Que para o nosso mal tem bom remédio.
Mas sempre há de ficar-lhe o tom do tédio,
Que é natural veneno estar na cobra.
O que é preciso é ver se não desdobra
Em crises que obstruam nosso assédio.
Quem ler este soneto há de entender
Que o medo que tivemos foi inútil,
Pois o compadre cumpre o seu dever.
Não tenha, pois, problemas de consciência
Que, embora seja o tema muito fútil,
Ainda não é hora de falência.
IV
Organizada a obra, vem o moço
Solicitar a página primeira,
E teme que esta gente jamais queira
Apresentar ao texto o seu endosso.
Não tendo o que fazer, a tarde inteira,
A turma dá início ao seu esboço,
Que o bom é descansar, depois do almoço,
Imaginando a cara brincadeira.
Aí, surge um soneto desabrido,
Impróprio p ro consumo do encarnado,
Que em tudo quer saber de ver sentido.
O povo jamais pode estar parado,
Enquanto alguém no etéreo tem sofrido,
Por ter o tal rancor desafiado.
V
Este caminho, às vezes, não se cruza
Com os bons ideais de quem nos lê,
Mas isso não ocorre com você,
Que não mantém a alma tão reclusa.
Espairecer um pouco, bem se vê,
É norma que queremos que se induza,
Sabendo que quem come se lambuza,
Se nunca comeu antes “garrolê”.
A liberdade é sábia companheira,
Sempre que nos permita caminhar,
Seguindo de Jesus na bela esteira,
Que é doce o navegar por esse mar
Em que, ao fazermos nossa brincadeira,
A rima mais preciosa é o verbo “amar”.
VI
Senhor, dai que sigamos a lição
Do amor do Cristo pela humanidade,
Rimando com o amor a caridade,
Que deve harmonizar no coração.
Assim, Jesus nos deu sua verdade,
Na forma condensada do perdão,
Que os anjos, em seus hinos, cantarão,
Dando aos seres total felicidade.
Fazei com que tenhamos, na consciência,
A rima mais correta p ra virtude,
Que passa pela norma da obediência,
Em cada pequeníssima atitude,
Desempenhando bem toda incumbência,
Eliminando o mal que nos ilude.
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