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Artigos-->O ônibus da moralidade -- 10/09/2009 - 15:22 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O meu primeiro emprego público foi no Governo do Distrito Federal, quando eu acabara de completar 18 anos. Isso já faz 30 anos. Naquela época todos os funcionários públicos eram levados para o trabalho nos ônibus pagos pelo Governo. Eram quatro viagens diárias: uma pela manhã, quando íamos para o trabalho, duas no almoço, quando íamos e voltávamos de casa, e outra à noitinha, quando voltávamos para casa. Anos depois vim para o Senado e aqui também éramos transportados pelos ônibus da Casa.

A Esplanada dos Ministérios ficava apinhada de ônibus. Eles eram o ponto de encontro fora do expediente. Durante o trajeto o ambiente dentro do ônibus era de cordialidade e descontração; ali comemorávamos os aniversários dos colegas e compartilhávamos das alegrias e angústias dos colegas. Era uma espécie de clube, onde nos reuníamos para jogar dominó, ler, estudar (era ali que eu fazia os deveres do colégio).

Se atrasássemos a culpa não era nossa, mas do governador, que não administrava bem o trânsito da cidade e favorecia os engarrafamentos. Também não tínhamos desculpas para atraso, porque todos os dias o ônibus passava no horário certo para nos buscar e levar para o trabalho.

Nesse tempo, podíamos ver a família no decorrer do dia, almoçar com ela e trabalhar menos preocupados com os passos dos nossos filhos. Depois do almoço, voltávamos fazendo a sesta e ficávamos mais dispostos para o trabalho vespertino.

Com o passar do tempo, usar aqueles ônibus para levar e trazer os funcionários começou a ser visto como um privilégio inaceitável. Aos poucos, os políticos-administradores foram tirando os ônibus para moralizar o serviço público (atualmente, só os funcionários militares mantém seus ônibus). A ordem era economizar dinheiro e moralizar.

Ao tirar os ônibus, os políticos-administradores do serviço público não consideraram o bem estar do funcionário e de sua família; nem a importância de a família fazer as refeições junta; nem o sorriso dos filhos ao almoçar com seus pais; nem mesmo a produtividade do funcionário no trabalho, uma vez que funcionário feliz produz mais assim como cliente feliz compra mais. Pensaram apenas no dinheiro para os cofres públicos. Não sei para onde foi o dinheiro dessa economia. O Governo tirou os ônibus para moralizar o serviço público, só que hoje nos paga tíquete alimentação para almoçarmos perto do trabalho.

Trinta anos depois vejo que esta foi a decisão mais errada no serviço público. Os políticos-administradores tiraram os ônibus, não melhoraram o transporte público e ainda nos obrigaram a tirar diariamente nossos carros da garagem. Hoje, somos solitários em nossos carros, mais distantes da família, impessoais com os colegas e mais estressados.

Hoje vamos para o trabalho em nossos próprios carros. Ao substituir os ônibus pelo tíquete alimentação pagam-nos para poluir o ar. Temos um engarrafamento infernal na chegada e saída do trabalho. Temos fumaça e poluição sonora como nunca visto. Os colegas que moram nas regiões mais distantes chegam quase sempre atrasados e estressados com os engarrafamentos, além de terem de sair de casa muito mais cedo que o de costume. Isso não acontecia quando tínhamos nossos ônibus.

Nem mesmo os apelos para mostrar que o meio ambiente e a família são importantes convenceram os políticos-administradores de Brasília. Quando vejo a volta do ônibus do Senado falo com meus botões: “administrar é para administradores, não o é para os políticos”.

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