I
A inveja pode ser até que boa,
Ao mover o indivíduo a servir,
Querendo sobre os mais sobressair,
Deixando de fazer a coisa à toa.
No entanto, ao pensarmos no porvir,
Será triste pecado, se a pessoa
Julgar que o pensamento não destoa
Da lei que nos obriga a progredir.
Na vida, não existe perfeição,
Por isso é que aceitamos o desejo
De ser assinalado o caro irmão.
Porém, depois, no etéreo, vem o ensejo
De receber do Pai o seu perdão,
Se confessar com fé: — O Bem almejo!
II
O ódio que nos tranca o coração
E faz com que percamos nossa vida
Não tem, além da dor, qualquer saída,
Que a dor é que nos traz a salvação.
Depois de ter a alma arrependida,
De ter rogado ao outro o seu perdão,
As emoções do amor é que darão
As normas p’ra empreender de novo a lida.
Por que sofrer um tanto desde agora,
Se temos da doença o bom remédio
Que nos porá de pé sem mais demora?
Obremos p’ra evitar o vil assédio,
Rogando que esse mal vá logo embora,
Sabendo que é produto só do tédio.
III
No dia em que os colegas se reúnem,
O tempo fica curto para nós,
Tendendo este soneto a ser atroz,
Que a pressa e o desespero mais nos punem.
Contudo, quase sempre a nossa voz
Alcança os que do fato se premunem:
Alvoroço, se os entes muito zunem.;
Alegria, se o médium abre os nós.
Os seres que atormentam este dia
(Perversidade torpe de um momento)
Acabam por trazer sua poesia,
Que a falta dela há de pôr lamento
No coração de quem melhor faria
Se abrisse suas asas para o vento.
IV
Conscientes da imperfeita melodia,
Teimamos em voltar à velha rima,
Pois não queremos ver a doce estima
Perder-se, por pensar estar “em fria”.
Os versos que fizemos logo acima
Procuram não rimar “patifaria”
Com algo que p’ra nós também daria
A idéia de que o médium desanima.
Fizemos os sonetos com amor,
Que o belo sentimento nos fascina,
Embora não saibamos seu valor
P’ra quem nos lê com alma pequenina,
Cuidando que não paga a pena pôr
Um olho só no verso que arruína.
V
Sentimos ter de vir p’ra declarar
Que o gênio não nos serve para nada,
Na esfera em que a pessoa está parada,
Não indo nem ao menos devagar.
O modo de pensar deixa calada
A turma que aqui veio poetar,
Que o tédio enxameia o nosso ar
E a bruma da ilusão esconde a estrada.
Jesus também sentiu a mesma dor,
Na hora em que se viu bem preso à cruz,
Contudo pôde orar ao bom Senhor,
Que era dele a doce e forte luz.
A nós cabe rogar que haja amor
Em quem por estes versos se conduz.
VI
Ativo, o nosso médium se estimula
A prosseguir, impávido, no clima,
Pois a facilidade o reanima,
Ao ver que o nosso verso jamais pula.
Aberto o seu estojo, tira a lima,
Aparando as arestas numa vula.
No entanto, esse seu gesto não regula,
Pois nunca tem a rima mais opima.
Nos últimos minutos, fecha o verso,
Querendo despachar-se para o Centro,
Mas pensa um pouco que, talvez, perverso,
Fugiu do tema, por estar por dentro
Das normas que nos regem o universo,
Como no molho nunca põe coentro.
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