Jesus convocou Tomé.
Perguntou-lhe como é
A certeza da verdade.
Tomé, diante do Mestre,
Como pobre ser terrestre,
Espaireceu a vaidade.
Jesus sorriu com doçura,
Percebendo a criatura
Completamente enleada
E, sem fazer escarcéu,
Apontou-lhe para o Céu,
Não lhe dizendo mais nada.
Levou tempo o caro amigo
A se livrar do perigo
De cair na tentação
De julgar-se superior,
Pois queria dar valor
Aos juízos da razão.
Jesus lhe dava os sinais,
Nos milagres colossais
Do atendimento às doenças.
Mas Tomé sentia orgulho
De não ouvir o barulho
Do tinir das novas crenças.
Era rijo de caráter:
Moisés, a “celula mater”,
Trouxera-lhe a salvação.
E seguia os mandamentos
Das leis, com seus complementos,
Sem compreender o perdão.
Mas amava o Nazareno,
Sempre bondoso e sereno,
Nas explicações gentis,
Seguindo suas lições,
Sem sentir contradições,
Que os temas eram sutis.
Ao ver o Mestre na cruz,
Apagou-se-lhe essa luz,
Pois queria que vencesse
A luta contra os maldosos,
Na antecipação dos gozos:
Seu ideal era esse.
Chorou desesperançado,
Como chora um bom soldado
A morte do comandante.
Desacreditou da vida
Que lhe fora referida:
Era Jesus um farsante.
— “Jesus vive!” — alguém lhe disse,
Mas julgou pura tolice:
— “Ninguém tem esse poder!”
Tanta coisa acontecera
Que o pobre não percebera:
Queria ver para crer.
— “Tomé!, Tomé!...” — lhe dizia
Uma vozinha macia,
Bem no fundo da consciência.
Mas o cérebro vetusto
Exigia a todo custo
A razão da interferência.
Reunidos, horas mortas,
Fechadas todas as portas,
Jesus lhes apareceu,
E quis provar a Tomé,
Para lhe manter a fé,
Que à morte a vida venceu.
Fê-lo tocar nas feridas,
Indagando: — “Inda duvidas
De que tenho esse poder?
Se acreditas, por me veres,
Benditos todos os seres
Que acreditarem sem ver!”
Sirva-nos a tal lição,
Pois bons exemplos nos são
As indecisões alheias.
Agora, após dois mil anos,
Evitemos os enganos
Desse “ver-p ra-crer” sem peias.
Reverenciemos Tomé,
Que nos mostrou como é
Que Jesus nos ouve a voz.
Vamos orar p ra que a luz
Que ao reino do Pai conduz
Não se apague mais p ra nós.
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