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Artigos-->A morte vai às compras -- 29/10/2009 - 22:52 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No dia 21 de outubro de 2009, o jornal O Globo trouxe na primeira página a foto de dois jovens dentro de um carrinho de supermercado mortos num confronto com a polícia. No dia seguinte o mesmo jornal também estampa, na primeira página, uma charge da morte indo às compras e empurrando um carrinho de supermercado. (Veja as fotos nos endereços http://fotolog.terra.com.br/joaorios:372

http://fotolog.terra.com.br/joaorios:373)



O enquadramento e o ângulo da foto dos garotos mortos foram bem escolhidos pelo fotógrafo. Ele foi muito eficiente. Do ponto de visa fotográfico, não merece comentários. Foi excelente! Os garotos mortos são a prova de que a polícia também foi eficiente. A ideia da morte empurrando o carrinho foi de uma inteligência sem tamanho, muito bem sacada.



O fotógrafo fez o seu trabalho, os garotos também fizeram o trabalho deles. Drogaram-se, assaltaram, estupraram e assassinaram. A polícia fez o trabalho dela matando-os. Só quem não trabalhou direitinho foi o Brasil.



Não quero defender os garotos. Não sei a história deles, mas creio que eles fizeram chorar suas mães e suas vítimas assaltadas e até assassinadas. Eles mereciam um castigo; não defendo a impunidade.



Olhando a foto vemos que são garotos pardos, moradores de favelas, ou seja, pobres. Arrisco dizer que eram desempregados e na escola não concluíram o segundo grau. É o tipo do jovem que superlota as penitenciárias Brasil afora... agora lota os carrinhos de supermercados. O Brasil está cheio deles... os carrinhos de supermercados também.



Quando uma criança nasce ela é imediatamente acolhida pelo Estado. O primeiro que se apossa dela é o Ministério da Saúde oferecendo o hospital, a equipe médica para o parto e as primeiras vacinas. Em seguida vem o Ministério da Justiça com o Cartório que registra o nascimento. Até 2006 as crianças ficavam nas mãos da família até os sete anos de idade. A partir daí é que o Ministério da Educação (MEC) abria os braços e as aceitava na escola. Atualmente, o MEC vê nossas crianças quando chegam aos cinco anos de idade. Um grande avanço depois de 506 anos de descobrimento.



No caso daqueles jovens o ministério eficiente foi o da Justiça na repressão aos criminosos. Matou os rapazes. O que mais fracassou foi o da Educação que deu aos jovens uma educação de péssima qualidade. Outro ministério negligente foi o do Trabalho e Emprego. Se o MEC tivesse abraçado aqueles jovens, colocado-os numa vitrine, e mostrado ao mundo que aqui cuidamos bem das nossas crianças, se o Ministério do Trabalho tivesse ocupado aqueles jovens para que eles ganhassem seus próprios salários... talvez hoje eles fossem autoridades policiais combatendo outros bandidos ruins por natureza ou por falta de oportunidade.



Quando aqueles jovens nasceram, ficaram nas mãos de suas famílias, o MEC e o Ministério do Trabalho viraram as costas para eles, não lhes deram o cuidado que as marcas nos supermercados dão aos seus produtos, colocando-os bem na frente para vermos que o produto é bom e bonito. O Brasil não mostra que nossas crianças são

boas e bonitas e por isso devemos cuidar bem delas. Os produtos nos mercados são bem iluminados para que de longe possam atrair o público. Aqueles jovens só viram a luz refletirem para eles quando os refletores da sala cirúrgica iluminavam as mãos dos médicos que lhes ajudavam nascer. Depois desse dia apenas escuridão. Agora a luz que voltou-se para eles foi o clarão dos seus revólveres e das armas dos policiais cuspindo fogo e o flash do fotógrafo.



Eram discriminados pela cor da pele, pelo local onde moravam, por estarem entre os 2/3 que não completam o segundo grau e dos tantos milhares que não arranjam emprego nos primeiros anos que procuram trabalho.



A morte desses jovens já era sabida pelo Governo. Quando o Estado não oferece educação as autoridades já sabem quais jovens estarão fora da universidade e do mercado de trabalho, quais serão subempregados e aqueles que morarão e morrerão numa favela. Não oferecendo educação de qualidade o MEC já planeja onde a pessoa deve morar e morrer.



Antes de a polícia os matar os deputados e senadores já tinham decretado a morte deles. Sim. Isso mesmo. Se você discordou da palavra ‘decretar’ convido-o/a a assistir qualquer sessão das Comissões de Educação da Câmara ou do Senado e você verá os argumentos mais pífios e estapafúrdios contra o Brasil oferecer educação de qualidade aos jovens da periferia. Assista e diga-me se a morte deles já não estava decretada.



Este texto foi elaborado porque me impressionou a morte sair de carrinho buscando nossos jovens. Prometo-lhes outro texto, mais bem elaborado, quando o Ministério da Educação e do Trabalho saírem de Brasília empurrando um carrinho de supermercado recolhendo e acolhendo nossa juventude.





















Meus agradecimentos a Aline Cardoso e Juliana Damasceno

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