A VIAGEM.
Ana Zélia
É noite alta, singramos a partir de agora o Negro que banha Manaus.
É lua cheia. O rio está lindo, lindo...
São ondas penetrantes na água. Tua beleza se faz refletir do alto cá embaixo, o jogo da mistura se faz sentir. É o encontro das Águas, de um lado o Rio Solimões, com suas águas barrentas, indo ao encontro do Rio Negro. Logo será Amazonas.
Responde-me depressa: Quem te deu tanta força?
Ao longe um farol acesso num piscar constante, diz que perigo está lá, passe longe.
Ah! Um Constellation em 1953 foi ao fundo e de lá não retornou, todos mortos...
Ondas, espumas como cervejas borbulhantes, capins ambulantes.
O abraço do Negro com o Solimões que como amantes brigam, relutam em ceder um cantinho ao outro, ambos precisam de força e mais força, caminhos fechados.
Águas de cores amareladas e negras passam uma por cima da outra.
É guerra de gigantes. Aqui não há perdedor. Há cessão apenas...
Dois rios enormes com a força do amor se cruzam e não se entendem.
É um elo, um abraço, um remanso, um laço de amor que vem e que passa.
É o Negro, é o Amazonas que agora prevalece, é o mais forte.
Junção de tantos até o mar, até lá teremos o encontro do Tapajós, verde-esmeralda.
É a presença de Deus em tanta beleza, céu, terra, lua, água.
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Bordo do Catamarã “Amapá!”, 29/04/1994n 23h.
Cruzamos o Encontro das Águas, 18km de Manaus.
Nota da autora- A extinta ENASA, tinha 5 catamarãs, Rondônia, Roraima, Amapá, navios regionais, e dois turísticos, Amazonas e Pará, fiz 99 viagens. Hoje só resta o Rondônia que pertence a outra companhia e que continua ligando pessoas, estados, vidas. Saudades e revolta num crime que puniu o Brasil. Ana Zélia 02.11.2009
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