Na hora da despedida,
Ao relembrar toda a vida,
Sonhamos co o paraíso.
Mas, se as lembranças são feias,
Negras aranhas nas teias,
Vamos perder o juízo.
Sacrifícios poderão
Atenuar a visão,
Catastrófico mistério.
Abramos mão dos tesouros,
Pois não existem desdouros
Em irmos pobres p ro etéreo.
— “Então, p ra que trabalhar,
Se nada vamos levar
De tudo o que produzimos?”
Isso não é bem verdade,
Pois praticar caridade
É enriquecer lá nos imos.
Jesus falou das riquezas,
Incorruptíveis grandezas
Que jamais se desfarão.
Não as estragam as traças,
Não hão de sofrer trapaças,
No cofre do coração.
Dar a quem não tem é tudo,
Do que não sobra, contudo,
Que é fácil dar do sobejo.
Sacrifícios são bem-vindos,
Para que sejam mais lindos
Os primores do desejo.
Se aqui chegarmos de luto,
Por ter sido muito bruto
O entrevero dessa lida,
Busquemos a perfeição
De guardar no coração
O melhor de nossa vida.
O sentimento-virtude
Vai resultar da atitude
Com que enfrentarmos o mal.
Se o julgarmos existente,
Encaremo-lo de frente:
Algum temor é normal.
Mas as preces, p ra noss alma,
Vão representar a calma
De quem bem sabe o que faz.
Se tivermos essa força,
Não haverá quem nos torça
Nossos projetos de paz.
Ao contrário, é Jesus vivo
Que se tem por objetivo,
Na imitação do evangelho.
Sacrifícios poderosos,
A postergar nossos gozos:
Anseios de um homem velho.
Se subirmos a ladeira,
Chegaremos à clareira
Que nos abriram os santos.
Queremos ser os primeiros,
Mas partiram, pioneiros,
Milhões, de todos os cantos.
Isso dá tranqüilidade,
Pois é de Deus a bondade
Do resgate redentor.
Quem quiser fazer “fosquinha”
Não há de “tirar farinha”,
Seja esperto quanto for.
Jesus pregou na montanha.
A multidão toda assanha,
Querendo no Reino entrar.
Os pobres foram honrados,
Os humildes, exaltados,
O bom, modelo exemplar.
No final daquela tarde,
O só coração que arde
É do nobre benfeitor.
Mas ficou impressionado
Quem deixou tudo anotado,
Do evangelho esse escritor.
Como seria hoje o mundo,
Se ninguém sentisse fundo
As palavras de Jesus,
E nada disso escrevesse,
P ra que todo o povo lesse
E se lhe fizesse a Luz?
Veja quanto é importante
O que essa escrita garante,
No estudo de cada dia:
O padre, em seu breviário,
E, lá na missa, o vigário,
No sermão, explicaria.
No bom momento da morte,
Desejamos melhor sorte
Para quem falhou na outiva.
Mas muito não prometemos:
Só com calos vão os remos.
Não há luvas nessa estiva.
Quem executa o que pode
Em felicidade explode,
Ao chegar ao nosso plano.
Vai encontrar bom abrigo,
Pois não existe o perigo
De haver um único engano.
Para relembrar a vida,
Não só a morte convida,
Mas a consciência desperta,
Para dar tempo a que a gente,
Caso desculpas invente,
Faça sempre a coisa certa.
Nos sonhos de antigamente,
Ficava o homem contente
Em ter família e saúde.
Ao trabalhar com afinco,
Deixava su alma um brinco,
Desenvolvendo a virtude.
Se for assim que se pensa,
Não há por que não se vença
A principal tentação,
Dando às pessoas carinho,
Pois das fibras desse linho
É que se faz o perdão.
Degenerescência agora
A inferioridade explora,
Nas guerras tristes do Umbral.
Integridade é poder
A elevar o nosso ser:
Viagem transcendental.
Artifícios, nestes versos,
Hão de ser também dispersos,
No exame de quem tem tino.
A linguagem figurada
Vira pó ou quase nada,
Se vem de Jesus o ensino.
Senhor Deus, nosso universo
Em segredos vem imerso,
Para a nossa pobre mente.
Perdoai, pois, o que teme
E não conduz bem o leme,
Mas encara o mal de frente.
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