Clic"ali ==>>>> A tese da Perversidade
Mestres da futilidade
fazem mil provocações,
negam a modernidade,
subestimam as ações.
Contradizem com deleite
ato repleto de graça,
por senso comum aceite,
por mais que alguém faça.
Dizem que tentar mudar
economia, política,
sempre em nada vai dar,
a não ser gerar a crítica.
Supõem leis sociais,
que os mentores ignoram,
de caráter natural,
que a ordem corroboram.
Querer democratizar
poder na sociedade
vale querer mascarar
a óbvia realidade:
plutocracia reinante,
mais a espoliação,
com que elite farsante
garante dominação.
Lembram regularidade,
que parece lei normal,
que dá naturalidade
à evolução social
e esmaga intenção
de distribuir a renda
igualmente à nação,
usando uma legenda.
Reforçam autoridade
da "lei", dando-lhe um nome
de uma celebridade
mais graduada, que some.
Ao mesmo tempo despistam
a impura autoria,
da tese se distanciam
quando esta não mais pia.
E depois a ressuscitam,
com a mesma velha forma,
"lei" natural inda ditam
quando alguém quer reforma.
Consequências imprevistas
unem perverso e fútil,
as teses maniqueístas
contra tudo que é útil.
Mas a da futilidade
anula o ideal,
e a da perversidade
cria oposto fatal.
O perverso vê o mundo
volátil notavelmente.
A Providência num segundo
gera ato oponente.
Pro fútil há um cenário
completamente mais plano,
o mundo é um sacrário,
quem o muda é profano.
Refutação com desdém,
soberba insultuosa,
da futilidade vem
contra-ordem venenosa.
Tese da perversidade
tem fundamento divino,
ressalta fragilidade
do intento genuíno.
No resultado oposto
há deleite pessoal,
uma vingança a gosto,
há impotência geral.
Tese da futilidade,
sem melindre pessoal,
mostra inutilidade,
face à lei natural.
Ações humanas se frustram,
há zombaria geral,
novas ações deslustram
o que era ideal.
O perverso é afim
ao mito, a religião,
as mudanças têm fim
e Deus faz intervenção.
O fútil é exaltado,
pra reforçar a ciência,
com princípio declarado
cheio de eficiência.
O perverso busca laços
firmes com o romantismo,
o fútil deixa seus traços
no combate ao marxismo.
O perverso se reforça
muito na economia,
é nocivo quem desforça
procurando harmonia.
O mercado vai e vem,
a si mesmo se regula,
quando alguém intervém,
fere pontifícia bula.
Isso na microeconomia
até que bem funciona,
mas na macro, na "grandona",
o emprego asfixia,
e influi na produção,
segundo Keynes pensou,
até que nova noção
nos anos setenta chegou.
Surgiram monetarismo
e neoclássica via,
um certo racionalismo
que ficava de vigia.
Voltou a ser absurda,
um acinte, ofensiva,
qualquer ação que chafurda
a economia viva.
Eis aí futilidade,
a arma que renascia
com toda propriedade,
estribada na vigia.
Os agentes econômicos
iriam se ajuntar,
tornando os atos cômicos,
a fim de os anular.
Sob o ponto de vista
da maior ineficácia,
uma ação humanista
que tenha maior audácia,
cria a sua oposta
um efeito mais procaz
inda que, numa aposta,
seja só ineficaz.
Se há uma perspectiva
de sucesso na ação,
a futilidade mais viva
surge para contenção.
Um mundo já dominado
pelo efeito perverso
permanece abordado
pelo humano e terso.
Moeda perde valor,
prejudica a balança,
mas vem logo o doutor
e o câmbio já avança.
Um cinto de segurança
e limites pra correr,
se aumentam a matança,
geram novo proceder.
Proíbe-se o tal cinto
e usa-se quebra-mola,
e, pra qualquer labirinto,
sessenta já despingola.
Havendo futilidade,
inútil a esperança
de maior mobilidade
ou alguma abonança.
Como no clima de crime
que hoje se instalou,
política não comprime
"lei" social de valor.
Advogados das teses
do perverso e do fútil
combatem anacinese
de maneira bem consútil.
Quem acha perversidade
fica tão embevecido
que originalidade
pede, como um ungido,
pra evento não previsto
e por ninguém desejado,
causado pelo benquisto
muito bem-intencionado.
Jamais nega boa-fé
ao ingênuo incurável
que hoje vê ao seu pé,
como louco formidável.
Quem acha futilidade
mostra que as tais mudanças
findam com autoridade
e geram novas lambanças.
Dão poder a quem não tem,
pois todos podem votar,
conter pobreza também,
até eleição ganhar.
Mas, ao seu modo de ver,
nada farão pra mudar,
a riqueza e poder
entre eles vão ficar.
Como quem parte reparte,
ficando com bom quinhão,
quem tem o poder qual arte
não merece um perdão.
Não são bem-intencionados
os que estão no poder,
maus atos são mascarados
por planos de bem-viver.
Longe de serem ingênuos
ou cheios de ilusões
há sempre alvos estrênuos
em todas suas ações.
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