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Artigos-->Os educadores dos corruptos -- 25/12/2009 - 13:17 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Neste dezembro de 2009, Brasília está de luto por causa da corrupção do partido Democrata, representados - a corrupção e o partido, pelo Governador José Roberto Arruda. O esquema foi descoberto pela Polícia Federal na operação Caixa de Pandora. A televisão mostrou alguns empresários e deputados distritais, que até aqui eram acima de qualquer suspeita, embolsando dinheiro de origem duvidosa. Nós brasilienses estamos envergonhados e não mais podemos dizer que os corruptos de Brasília são apenas os políticos que os eleitores mandam para cá. Agora temos nossos próprios corruptos.

Devido às cenas do deputado Leonardo Prudente colocando dinheiro nas meias, da deputada Eurídes Brito conferindo se a porta estava trancada para guardar o dinheiro na bolsa e tantas outras cenas nojentas, pergunto-me onde essas pessoas foram educadas, quem as educou e quem lhes ensinou a desonestidade. Para quem não sabe, Eurídes Brito foi Secretária de Educação por vários anos e Leonardo Prudente é o Presidente da Câmara Legislativa.

Estamos abatidos, cabisbaixos e não vemos nos olhos dos colegas o brilho das luzes do Natal. Faltam nove dias para o Natal e até agora não ligaram as redes de luzes natalinas da Torre de TV, dos Ministérios e do Congresso Nacional. Também não armaram a Cidade do Papai Noel nem a imensa árvore na Esplanada dos Ministérios. Todos esses brilhos já estão incorporados à cidade, são pontos turísticos de Brasília no Natal. Mas a corrupção acinzentou a cidade.

Como na minha adolescência Brasília ainda era uma cidade pequena (2 milhões de habitantes) é quase certo que eu e esses corruptos estudamos nos mesmos colégios e tivemos os mesmos professores e patrões. A diferença entre nós é que estamos em lados opostos quando o assunto é honestidade.

Foi com o pensamento nas pessoas que me educaram que resolvi escrever este artigo. Começo pelos avós maternos, a “mãezinha” e o “paizinho”, era assim que os chamávamos. Eles ensinaram-me a contar histórias. Por inúmeras noites lá em Caxias, no Maranhão, eles ficavam até tardão contando histórias para nós. A que eu mais gostava era a do menino que dizia ‘caçador eu quero mamar, você é a minha mãe’. Se você quiser ouvi-la pergunte aos meus filhos e netas.

Meu pai foi o maior exemplo de honestidade e tolerância. Nunca o vi exaltar-se com ninguém, nem conheço pessoa que tenha ido a nossa porta cobrar dinheiro apesar de ele ser um simples carroceiro. Orgulho-me do dia em que pegou um ladrão de galinhas no nosso quintal, segurou-o pelo cós da calça e levou o sujeito até a delegacia escoltado por mim e uma multidão de curiosos. Nunca o vi chegar bêbado ou brigar com minha mãe. Por falar nela, agradeço as surras que me deu e as vezes que me obrigou a lavar louças, varrer a casa, pregar botão nas roupas e sair às ruas vendendo laranja ou sal.

Saindo da infância e entrando na adolescência, não posso esquecer o Sr. Abdala Karim Nabut. Ele era dono da rede de cinemas Karim, com sete salas, em Brasília. Naquela época (1977) eu tinha 15 anos de idade e era Office-boy da empresa. Certo dia ele me deu dinheiro para comprar-lhe um sanduíche e um suco. Minutos após eu entregar o lanche ele perguntou quanto tinha sobrado de troco. Eu disse: “só sobraram dez centavos”. Gentilmente ele estendeu a mão e pediu o dinheiro. Na sala havia outras pessoas e todos ficaram mudos. Fez-se um silêncio sepulcral. Quase morri de vergonha. Minhas pernas tremeram e acho que fiquei amarelo e verde. Se pudesse, eu teria virado poeira cósmica e sumido no espaço sideral. Para manter minha honestidade com meus leitores e leitoras, confesso que no momento em que entreguei o lanche pensei em devolver o troco. Não o fiz porque achei que ele, um homem rico, não faria questão de apenas dez centavos. Tampouco eu tinha a intenção de dar-lhe um calote.

A vergonha de nós brasilienses é porque estamos todos dentro da Câmara Legislativa. Não votamos naqueles homens e mulheres e os deixamos de lado. Fomos com eles para dentro do legislativo. Nós e eles éramos um só corpo. Quando eles se corromperam ocorreu uma distensão desse corpo unicelular. Ao escolhermos aqueles políticos o fizemos porque confiávamos e acreditávamos neles. Se estivéssemos fora da Câmara nunca nos incomodaríamos com as suas atitudes. Se choramos, lamentamos e nos envergonhamos é porque nos interessamos pelos nossos representantes.

Outro educador a quem sou muito grato foi o Gelmirez José da Silva. Sujeito durão, chato, brigão e exigente. Aos 16 anos eu era o Office boy e ele o Contador do Jornal de Brasília. Às vezes eu tinha vontade de brigar com ele ou de furar os pneus do seu carro. Ele era muito chato! Certo dia eu estava gripado e febril e muito indisposto para trabalhar. Ele me pediu para ir ao Banco do Brasil pegar o extrato da empresa. Naquele tempo não havia internet. Para quem não é de Brasília, o Jornal de Brasília fica no Setor Gráfico e o Banco do Brasil no Setor Bancário Sul, separados por uns 10 km. Eu tinha que pegar ônibus e caminhar um pouco. Mas para quem estava doente, seria como uma maratona. Naquele dia o Gel, era assim como o chamávamos, estava saindo para o Banco do Brasil. Então pedi que ele pegasse o extrato porque eu não estava me sentindo bem. Ele negou e disse: “eu faço o meu trabalho e você faz o seu”. Ô sujeito chato! Quando cheguei, ele já estava lá todo importante conversando com o Gerente.

Pouco tempo depois, o Jornal comprou um computador de marca SHARP, modelo BA-1000, para fazer a folha de pagamento. Aquela máquina armazenava todos os nossos dados num pequeno cartão magnético branco. Era o mimo da empresa! Os dados dos empregados eram alimentados ao longo do mês e em apenas um dia, a folha ficava pronta. Para operá-la, o Gel estava à procura de uma pessoa competente e de confiança. A mais cotada era a Yroshi, sua substituta. Braba igualzinha ao Gel, muitíssimo competente e dedicada. Todos os dias os técnicos ensinavam a eles como a máquina funcionava. Eu ficava a meia distância e não me atrevia chegar perto, eu não tinha competência para manuseá-la. Até que certo dia cheguei pro Gel e disse que gostaria de operar aquela máquina. Ele perguntou o porquê do meu interesse e respondi que eu queria aprender coisas novas e sabia que quem a operasse teria o salário aumentado. Então ele disse: “hoje é quinta-feira santa. Você vem trabalhar amanhã sexta-feira santa, sábado e domingo. Se na segunda-feira você souber operar a máquina o emprego é seu e aumento seu salário”. Acho que ele disse que eu teria “que saber mais que a Yroshi”.

Como minha família é católica apostólica romana, trabalhar numa sexta-feira da paixão era heresia pura. Venci a heresia, o final de semana e ganhei a vaga. Aos 18 anos passei num concurso público. O Gel me chamou de volta e triplicou meu salário. Mas não aceitei porque vi no serviço público mais oportunidades de crescimento pessoal.

Anos depois quando relembrávamos com saudade o tempo que trabalhamos juntos, caí na besteira de dizer-lhe o quanto ele era chato, brigão e durão comigo. Para minha vergonha ele respondeu: “João, você sabe que naquela época eu não tinha filhos, a minha mulher não podia ter filhos. A minha dureza com você era proposital, eu te via como meu filho e queria te fazer um homem responsável e trabalhador”. Ainda bem que eu não tinha virado poeira anos antes, pois pude abraçá-lo bem forte e agradecer as broncas que ele me deu. Hoje é meu conselheiro e um dos meus melhores amigos.

Noutra oportunidade falarei dos meus outros educadores: mulheres, amigos e filhos e dos conselhos das inesquecíveis professoras Sônia Jazon e Maria Luiza Angelim.

Iniciei este texto falando dos políticos corruptos de Brasília e termino-o perguntando: Senhores e senhoras corruptos, que exemplos de desonestidade vocês viram em seus pais, familiares, professores e amigos? Vocês, pais, familiares, professores e amigos desses corruptos, o que teriam para dizer?

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