Usina de Letras
Usina de Letras
267 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62171 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22531)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50576)

Humor (20028)

Infantil (5423)

Infanto Juvenil (4756)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6182)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Desapegos -- 18/01/2010 - 12:10 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Dois anos atrás, às vésperas do Natal, reencontrei o M, um colega de faculdade (para mantê-lo anônimo o chamarei apenas de M, uma das letras do seu nome). Durante o curso fomos muito próximos. A nossa companhia fazia muito bem a nós dois. Nos intervalos das aulas conversávamos sobre vários assuntos, sobretudo o nosso futuro como professores. Ele e o pai pretendiam criar uma escolinha para crianças. Estávamos sempre juntos nas viagens de pesquisas de campo em Diamantina e Goiás Velho e nos congressos de Geografia.

Para ser exato não o reencontrei, vimo-nos. Olhamo-nos olho no olho e para minha tristeza ele mendigava pelas ruas de Brasília. Estava todo sujo, roupas em frangalhos, arrastava um sacão de pano imundo nas costas. Era acompanhado por uma moça igualmente maltrapilha, que supus ser sua companheira. Quando nos olhamos ele percebeu minha surpresa e notei o seu constrangimento. Envergonhado, ele baixou os olhos, bruscamente desviou de caminho e entrou no Bradesco, como se estivesse fugindo de mim. Ainda bem que ele fez isso, eu não saberia o que dizer-lhe. Nosso encontro foi constrangedor para ele e penoso para mim. Não faço idéia do que aconteceu com os planos dele e custa-me acreditar que sua vida possa ter dado tão errado.

Neste Natal de 2009 vivi uma experiência que achava impossível realizá-la. Mas gostei tanto da idéia que pretendo repeti-la nos próximos anos. Imitei minha amiga Edméa e não comprei nenhum presente. Expliquei às pessoas queridas que eu não estava disposto a enfrentar os enormes engarrafamentos nem as poucas vagas nos estacionamentos do comércio. Expliquei também que estava cansado das filas para pagar mais caro só porque era Natal. Finalizei dizendo que estava me desapegando do comércio natalino que não cantava parabéns para o aniversariante. Aliás, nas lojas não se vê nenhum presépio com o aniversariante deitado na manjedoura.

Livre das filas, confesso que me diverti com os repórteres na televisão correndo atrás dos ‘papais noéis’ com as mãos abarrotadas de presentes. Um ortopedista ensinava como as pessoas deveriam carregar as pesadas sacolas para não lesionarem os braços e a coluna. Vi-me naquela correria. Afinal, eu fora um zeloso papai noel nos últimos muitos anos. Lembro que certa vez eu tinha uma lista de vinte e sete nomes para presentear. Hoje ouvi Feliz Natal de apenas três deles.

Desapeguei-me também do meu telefone celular. Não liguei para ninguém. Inverti as prioridades. Aguardei o contato das pessoas que realmente consideram-me importante. Quem quis falar comigo ligou e encontrou-me em casa, no trabalho ou enviou um correio eletrônico. Aliás, ainda não me acostumei com as mensagens pela internet. Portanto, não as li. No próximo ano, farei à moda antiga, enviarei cartões pelos Correios a todos os meus amigos. Desde já aviso que enfeitarei minha árvore apenas com os cartões que receber.

Desapeguei-me também de algumas saudades. As mulheres mais influentes na minha vida, e na minha cama, hoje brindam o nascimento de Cristo em outras companhias.

Já se passaram alguns dias do Natal e não me arrependi dos meus desapegos.

Hoje, a Diene disse que talvez o meu amigo M precise apenas de uma palavra amiga para recolocar sua vida nos trilhos. Se reencontrá-lo, direi o quanto gosto dele e perguntarei o que posso fazer para ajudá-lo. Tentar ajudar o M é o único apego que levarei para o próximo Natal.







-------------------------------------

Caras leitoras e leitores, reproduzo aqui um comentário que recebi de uma leitora que aqui identificarei apenas como LM:

"Parece triste, muito triste este comentário: - "Hoje posso dizer com tranquilidade: só o ganha-pão é indispensável ao ser humano". Indispensável é viver sem respeito, afeto, alegria, sorriso, sem emoções, sem sonhos, sem prazer de alimentar, sem dormir tranqüilo, sem ter o prazer de sentir um bom banho e tantas coisas. Acesso a usina por ser leitora fiel de alguns escritores, e gostaria de manifestar este comentário". LM
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui