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Artigos-->A ditadura dos jornalistas -- 01/02/2010 - 10:45 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Neste janeiro de 2010 deparei-me com três situações curiosas envolvendo o trabalho dos jornalistas. Cheguei a supor que eles estavam-me sonegando informações. Achei que estavam querendo me fazer de bobo... E continuo achando.

Nos idos de 1970 aqui em Brasília havia a Rádio Alvorada. A cada dia 31 de dezembro ela fazia uma retrospectiva de todas as músicas que foram sucesso ao longo do ano. Eu colava o ouvido no rádio o dia todinho para ouvir os radialistas comentando e tocando as músicas, ia até de noite. Era uma delícia! Esta introdução é para dizer que também não perco as retrospectivas de fim de ano exibidas pela televisão, principalmente as da Rede Globo.

No fim do ano eu estava assistindo à retrospectiva do SBT – Sistema Brasileiro de Televisão - sobre o Distrito Federal. Os repórteres reprisavam os engarrafamentos no trânsito, as chuvas mais pesadas e as vítimas da violência na cidade. Na hora de mostrar a corrupção em Brasília, o mensalão do partido Democratas, a jornalista apresentadora explicou que não repetiriam os vídeos dos corruptos para poupar os telespectadores de imagens tão desagradáveis.

Esses vídeos, exibidos no país inteiro e no exterior, mostram o governador José Roberto Arruda recebendo dinheiro de propinas, o deputado Leonardo Prudente escondendo dinheiro nas meias, a deputada Eurídice Brito conferindo se a porta estava bem trancada para ela esconder o dinheiro na bolsa, o pastor e deputado Júnior Brunelli orando pela alma do corrupto-delator Durval Barbosa. Além de outras imagens com empresários e desembargadores embolsando dinheiro sujo.

Fiquei indignado com a postura do SBT e imediatamente enviei-lhes uma mensagem eletrônica dizendo que assim como eu havia votado naqueles políticos e estava decepcionado com o comportamento deles, eu também havia elegido o SBT para ver os programas e estava igualmente frustrado com a falsa seriedade de eles não exibirem os vídeos da corrupção. Sendo assim, eu não votaria mais naqueles políticos nem assistiria mais àquele canal. Desde então não vejo o SBT.

O segundo caso é sobre o terremoto que arrasou o Haiti em janeiro.

Uma jornalista da Rede Globo chegou para o senador Cristovam Buarque e perguntou “se o Brasil não estaria se aproveitando da tragédia no Haiti para se fortalecer perante a ONU e conseguir uma vaga no Conselho de Segurança da ONU”. Eu estava junto ao senador e o ouvi inteligentemente dizer que o verbo ‘aproveitar’ não estava sendo bem colocado para esta situação. O Brasil não estava se ‘aproveitando’. O Brasil já estava no Haiti quando o terremoto aconteceu. O Brasil está sofrendo a perda dos seus soldados que morreram naquele dia. Ele finalizou dizendo que o Brasil estava ‘lucrando’ o preço circunstancial de estar no lugar certo na hora certa – “se é que alguém considera ganho para o país”. Quando ele terminou, acrescentei que as famílias dos militares mortos receberão 500 mil reais como recompensa pela bravura daqueles soldados. Da mesma maneira, não podemos dizer que aquelas famílias estão se ‘aproveitando’ da morte dos entes queridos para ganhar esse dinheiro. Educadamente o senador desculpou-se com a jornalista por não concordar com ela.

Não sei se ela concluiu a reportagem.

Terceiro caso. Estou relatando esses casos porque hoje eu ouvi na rádio CBN o jornalista que está cobrindo o Forum Social Mundial em Davos, na Suiça. Ele falava do esforço do ex-presidente Bill Clinton, dos Estados Unidos, em ajudar o Haiti. O jornalista disse que o Sr. Clinton estava em Davos e há poucos instantes pedira o apoio dos empresários para enviarem cem caminhões para ajudar na reconstrução do Haiti. Imediatamente um industrial brasileiro, do ramo de caminhões, que estava no evento, ofereceu os cem caminhões. Era visível aos ouvidos que o jornalista estava feliz em dar essa notícia. Mas a notícia teria sido perfeita se ele tivesse revelado o nome desse empresário. Quando o âncora do programa insinuou levemente perguntar o nome do empresário, o jornalista lá da Suíça disse que não poderia divulgá-lo. E também não explicou o porquê.

Novamente entra em cena a coincidência de alguém (o empresário) estar no lugar certo na hora certa.

Como tenho feito minha parte em ajudar o Haiti e venho do Haiti maranhense, essas notícias de ajuda humanitária sempre me comovem bastante. O fato de não revelar o nome do empresário deixou a notícia pela metade. Não divulgar o nome dele ajudou em quê? Tenho certeza que se esse mesmo empresário, num ato de desespero, entrasse com seu caminhão na nossa Assembléia Distrital para punir os corruptos brasilienses, o mesmo jornalista divulgaria o nome dele e da empresa.

Outra vez fiquei indignado com a postura dos jornalistas. Novamente fiquei com informação capenga, pela metade. Os jornalistas têm que rediscutir os conceitos de divulgar as informações. Em pleno século XXI, quando a informação faz-se cada vez mais necessária, não cabe mais recebermos informações pela metade. O fato de termos cerca de 15 milhões de analfabetos adultos e metade dos jovens não concluírem o ensino médio, não dá aos jornalistas o direito fornecer-nos informações pela metade.

Pareceu-me que o jornalista da CBN omitiu o nome do empresário para não fazer propaganda dos caminhões. Se eu estiver certo, acho um argumento pouco razoável. Uma empresa que doa cem caminhões é porque ela tem um bom produto e já fez muita propaganda. Ela é tão forte que cooptou Mr. Bill Clinton como seu garoto-propaganda.

Revelação. Muita gente não sabe, mas a CBN pertence à Rede Globo. Nessa época de enchentes em São Paulo e Rio de Janeiro todos os dias os telejornais da Globo exibem as casas e lágrimas das pessoas pobres que perderam tudo na enchente. Mostram-nas desesperadas sem saber como refazer suas vidas depois de perderem parentes e entes queridos. Os jornalistas que cobrem esta tragédia são tão malvados que quando a pessoa ameaça chorar eles aproximam a câmera dos olhos da pessoa só para mostrar o ápice de seu sofrimento. Enquanto a pessoa não chora eles não recuam a câmera. Filmando os olhos eles filmam a alma das pessoas.

Agora estou numa encruzilhada. Cada vez que me sentir ludibriado não posso mudar de canal. Não existem televisões tanto quanto supermercados. Também não posso ficar nas mãos dos jornalistas que se recusam a passar informações completas.

Como as empresas de televisão são concedidas pelo poder público, compete a mim, cidadão que paga o poder público, escolher o que fazer com a notícia. Se ouço-a até o fim, se mudo de canal ou a aproveito integralmente. Não cabe aos jornalistas decidir o que devo ver ou ouvir.

Na época da ditadura não recebíamos as informações completas porque eram censuradas pelos militares. Hoje a ditadura é dos jornalistas... Logo eles que tanto lutaram - e até morreram, pelo direito à informação completa!

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