Crime de morte é um princípio
De queda no precipício
Das trevas mais perigosas.
Não há quem tenha saltado
Diretamente p ro estado
Das virtudes mais formosas.
A vingança é um desafio,
Para provar que tem brio
Quem se sentiu ofendido.
Vai matar, por sua vez,
Mas, ao pensar no que fez,
Sempre acaba arrependido.
Aí começa o problema
Da alucinação suprema,
Porque não há refrigério.
São anos de sofrimento,
Seja na carne o tormento,
Ou na escuridão do etéreo.
Ao se ver o sangue-frio
De quem seu irmão feriu,
A pessoa se revolta.
Mas, quando vem o tormento,
Que chega depressa ou lento,
Segura firme e não solta.
Nessa hora, geralmente,
Ninguém estará presente,
A observar o sofrer.
Apagar é impossível,
Que a memória, nesse nível,
Tem misterioso poder.
Pense em algo muito feio
Que atingiu um bem alheio,
Mesmo feito sem querer:
Um desastre numa esquina,
Uma palavra ferina,
Uns sopapos p ra valer.
Se já faz tempo tal fato,
Descorou-se o seu retrato,
Já não há mais emoção.
Mas a lembrança que cresce
A nossa dor favorece,
Aumentando a compreensão.
Como apagar da memória,
Se já faz parte da história
De uma vida que caminha?
Impossível retornar
A esse tempo, a esse lugar,
Que tal trem não sai da linha.
O importante é refletir
Que sempre existe um porvir
E que a história se repete.
Se aprendemos a lição,
Vamos dar nosso perdão,
Multiplicado por sete.
Quem quer ir ao Paraíso
Há de criar mais juízo,
Pedindo perdão a Deus,
Ao resgatar os maus-tratos,
Com os números exatos,
Quais forem os erros seus.
Vamos voltar ao tal caso
De quem matou sem acaso,
Fazendo o que bem queria.
Será que não terá medo
De ver apontado o dedo
De sua consciência fria?
O exemplo dos criminosos
Que retornaram aos gozos
De plena cidadania
Iria mostrar que o crime
O nosso espírito oprime,
Dificultando a alegria.
Séculos de desespero
(Não pensem ser exagero)
E mais séculos de crise.
E acrescente-se a vergonha:
Seu olhar não há quem ponha
Nos olhos de quem o vise.
Pela vítima, se chora,
Pelo assassino, se ora,
Pelas famílias, se pede
Que haja consolação,
Que valha a lei do perdão,
Que assim ninguém retrocede.
Onde houve uma tragédia,
Não há como ver comédia,
Mas lição a aproveitar.
Se algum fruto apodrecer,
Dele não se irá comer,
Mas há semente a plantar.
Pensemos naquela cruz
Que o sentimento conduz
Ao amor pelo inimigo.
E oremos com devoção,
Que os guias nos salvarão,
Livrando-nos do perigo.
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