I
— “Quisera ter visões do campo etéreo.”
Pede-nos nosso amigo, com temor,
Sabendo, embora, que seu benfeitor
Não julga esse desejo muito sério.
Não é difícil seja de supor
Que, um dia, todos nós o tal mistério
Vamos topar, após o cemitério,
Tendo vencido as ânsias desta dor.
Assim, é ter paciência, ó caro amigo,
Que o tempo é só questão de decorrer.
Enquanto passa a vida, vem comigo
Cumprir este trabalho, que é dever
De todos que se afastem do perigo
De pressupor que tenham grão poder.
II
A vida passa sempre e o mal se cura,
Quando o trabalho faz que meditemos
Sobre os bônus do amor, como supremos,
Para a felicidade ser mais pura.
Quando Jesus nos deu os fortes remos,
Que a cruz carrega cada criatura,
Foi p ra sentirmos sempre mais segura
A travessia entre os dois extremos.
A nossa alma, então, se rejubila,
Quando nos vemos prontos p ra partir,
Não tendo medo de que vão medi-la,
Pois sempre há de existir um bom porvir,
Quando, na caridade, o dom se exila,
Levando o irmão conosco a evoluir.
III
As forças negativas cá do etéreo
Encontram sempre campo para o mal,
Que o homem põe em dúvida o essencial,
Ao não levar a vida muito a sério.
Havemos de mostrar que é mui geral
O desrespeito aqui pelo mistério,
Sabendo, embora, ser só refrigério
O riso franco, justo, bom, leal.
Quem quer que o seu irmão vá para o Inferno,
Porque lhe deu na vida um prejuízo,
Não saberá o que é ser no Além o eterno.
Um bom estudo, pois, será preciso,
Para entender que o bem é sempiterno.
E isso só se dá no Paraíso.
IV
As artes que julgamos valiosas
Para mostrar a vida cá do etéreo
Não seguem suas regras muito a sério,
Que apenas representam rudes glosas.
É que a virtude aqui é refrigério,
Como o perfume vem de belas rosas.
Enquanto, ó bom leitor, na carne gozas,
É hora de mostrar-te o que é o mistério.
Assim, pratica o bem, com muito amor,
Que a vida passa célere por tudo.
Seja você formoso quanto for,
Não ligue para a forma, sobretudo,
Que é ela que nos causa a maior dor:
Procura dar valor ao conteúdo.
V
Na áspera jornada deste dia,
As rimas nos tomaram boa parte.
Embora não saibamos bem a arte,
Podemos afirmar que foi poesia.
Armado de trabuco e bacamarte,
O crítico nos diz que assim seria,
Se a turma trabalhasse a melodia,
Mantendo suas normas, sem descarte.
A obra que trouxemos foi tão boa
Que a turma fez a crítica em conjunto,
Achando um só defeito, coisa à-toa,
No fato de não ter gentil assunto,
Que deixasse feliz qualquer pessoa.
Mas isso é só questão de chegar junto.
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