I
As táticas do humano bem-estar
Incluem as malícias do dever,
Que a Pátria há de exigir de cada ser
Que renegue a promessa ao pé do altar.
Se tudo fosse feito em bem-querer,
O amor sempre teria o seu lugar,
O evoluir seria devagar,
Mas todos com seu tempo p ra crescer.
Deste jeito em que as coisas todas vão,
A parte material traz desvantagens
E todos querem logo um bom quinhão.
E qual é a mais vista das mensagens,
Através da sutil televisão?
O aparato do luxo nas imagens.
II
Nós somos motivados a acusar
A triste condição de quem falseia,
Não tanto porque a coisa seja feia,
Porque o homem recua devagar.
É útil, quando a gente cambaleia,
Que haja quem nos venha auxiliar.
Assim, quando se chega a este lugar,
Sentimo-nos aranha em linda teia.
Aí, nossos leitores vão dizer
Que é fácil ditar normas de cadeira,
No olvido que tivemos de sofrer,
Por ter levado a vida em brincadeira,
Pensando sobre a sorte ter poder:
Agora vai ouvir-nos quem não queira.
III
Nas vascas do estrebucho derradeiro,
Os homens se arrependem finalmente,
Porém, quem morre cedo pouco sente
Que a lei do puro amor é o bem primeiro.
São poucos os que dizem excelente
O rumo dessa nau o curso inteiro,
Logrando decretar um paradeiro
Aos vícios que atormentam sua mente.
Voltando dessa vida para o etéreo,
Recusam-se a aceitar o julgamento,
Pensando, como aí, não seja sério.
Esteja, caro amigo, bem atento,
Que o muro que lhe cerca o cemitério
Não sirva de limite ao seu alento.
IV
Suspeitas vão surgir que o rude verso
Não sirva p ra nutrir doce esperança
A quem passa por santo, nessa andança,
Sem ter um pensamento só perverso.
Porém, quem, nesse mundo, mais avança
Percebe em pobre orgulho estar imerso
E julga o nosso ponto incontroverso
E sempre faz o bem e não se cansa.
Existe quem não queira trabalhar,
P ra não mostrar ao Pai qualquer fraqueza,
Sem ver que é a imperfeição que o faz falhar.
Ninguém vai exigir-lhe uma proeza:
Apenas que caminhe devagar,
Até chegar, um dia, a esta mesa.
V
Parece tão distante o que propomos
Que até a nossa turma sente medo
De estar a exibir o etéreo cedo,
A quem só quer colher, na vida, pomos.
Porém, não há fugir do certo enredo,
Pois criaturas lúcidas nós somos,
Sabendo que as laranjas têm seus gomos
E sumo, quer bem doce, quer azedo.
As luzes que acendemos nesta vida
Não hão de ter efeito para o cego,
Que existe sempre quem de nós duvida.
Mas como duvidar que houve prego
Que recebeu de alguém dura batida,
A pôr Jesus na cruz? Diga: — “Eu me entrego!”
VI
Em áspera jornada, nós chegamos
A passar a idéia de labregos,
Mas como sustentar nossos empregos,
Sem frutos a vergar os nossos ramos?!
A vida não tem só doces chamegos:
Existem servos, como existem amos.
Assim nós compreendemos que lhes damos
Alguns motivos para bons achegos.
Nossa tarefa exige competência,
Boa vontade e forte disciplina,
Pois versejar, no etéreo, é conseqüência
De muito estudo sério da Doutrina,
Que Allan Kardec transformou em ciência,
Segundo as leis que o Mestre nos ensina.
|