I
— “Às nove da manhã é muito cedo.
Talvez seja melhor ao meio-dia.
É que, às três da tarde, causa medo.
Voltarei às seis, para a poesia.”
O tempo vai passando, todo dia.
O povo cá do espaço abaixa o dedo,
Dizendo que qualquer melhor faria,
Bastando para tal só arremedo.
Coragem, caro amigo, nessa hora,
Que a luta há de sempre ser vencida:
A lei de mais valia inda vigora.
Um dia, um bom soneto nos convida,
Estando todos juntos como agora:
Aí vai expandir-se nossa vida.
II
Não temos muito tempo para o verso,
Embora nos alegre o poetar.
É que todo marujo sai ao mar,
Sabendo quando o tempo está perverso.
Queremos que se vá bem devagar,
Que o fluido cá do etéreo está disperso,
Por força deste tema controverso,
Imagem de poeta a divagar.
O bem que nós fazemos para o povo
Virá na forma rude de um conselho,
Pois a turma não quer voltar de novo,
Que é duro de montar este aparelho,
(Para tanta galinha, só um ovo):
Faça desta atitude o seu espelho.
III
Senhor, fazei valer vossa vontade,
Que a rima não se põe mui facilmente,
Quando este povo n alma já não sente
Motivo p ra gozar felicidade.
Conquanto o verso flua bem consciente,
Formado no compasso da verdade,
A crença da fraqueza nos invade,
Ao vermos o desprezo dessa gente.
Por isso é que pedimos por clemência,
Para as frágeis estrofes desta hora,
Que não demonstram toda a inteligência
Que vós nos destes, sem qualquer demora.
Fazei com que se aceite a ambivalência
De um verso resplendente que descora.
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