O VERDADEIRO INIMIGO
Leio a revita "O Correio da Unesco".
Decifro suas intenções de mudar o homem e o mundo, e me pergunto:
Será que nos países socialistas já conseguiram
fazer com que o homem seja menos egoísta, mesquinho, mau e interesseiro?
Já conseguiram com que o homem tenha satisfação em trabalhar para o bem comum e não exclusivamente em benefício próprio?
Nunca fui a um país socialista nem tenho condições de ir lá tão cedo. As informações que possuo são dispersas e contraditórias.
Cuba, que representava o paraíso latino-americano,
foi aquela revoada quando abriram as portas.
Qual a justificativa?
Tratavam-se apenas de criminosos, doentes mentais e parasitas em geral.
Ora, como se justifica que, numa sociedade dita de justiça social, existam os mesmos desvios da nossa sociedade capitalista, onde a competição é selvagem e desleal?
Vinte anos não foram suficientes para mudar?
Apesar de tudo, ainda creio que a solução está no Socialismo.
Mas acontece que estamos perdendo a guerra.
Enquanto ficamos publicando jornais e revistas
carregados de verdades e boas intenções, o outro lado está agindo de forma mais direta e violenta;
soltando bombas, explodindo bancas.
Anestesiando as mentes através da televisão.
Deturpando as informações através de rádios, jornais e revistas.
Estimulando a violência, exacerbando o sexo.
Fazendo vista grossa para a corrupção e a delinquência oficial.
Supervalorizando o supérfluo em detrimento do básico necessário.
E o povo fica lutando contra ele mesmo, no lugar de enfrentar o verdadeiro inimigo.
Marido matando a mulher por qualquer bobagem,
marginal assassinando trabalhador, acidentes de trabalho, acidentes de trànsito, polícia assassinando marginais, suicídios.
Crianças morrendo de fome, enquanto os magnatas gastam, numa noite de farra, o equivalente ao salário de um ano, ou mais, de um trabalhador,
que tem mulher e cinco filhos com fome em casa.
E tem cinco filhos porque ignora os métodos anticoncepcionais e a exacerbação sexual que ele vê em toda parte força-o a procurar mais vezes a companheira, para colocar mais escravos no mundo,
para servir aos poderosos.
Ficamos nos matando uns aos outros, enquanto o verdadeiro inimigo assiste, de camarote, a nossa desgraça.
Recife, julho de 1980.
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