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Cordel-->A MÁQUINA DE IMPROVISO -- 10/06/2003 - 14:12 (José de Sousa Dantas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A MÁQUINA DE IMPROVISO

Cantoria em João Pessoa – PB, em 6/6/2003
Repentistas Sebastião da Silva (SS),
Severino Feitosa (SF) e Ismael Pereira (IP)

Embora o repentista tenha vocação e experiência,
mas é de admirar a velocidade, criatividade, rima, métrica e melodia, construindo as estrofes
sobre temas sorteados de improviso,conforme se vê a seguir.

TEMAS DESENVOLVIDOS

Nossa vida no começo é doce e maravilhosa
A população aumenta se a FOME ZERO zerar
Quem não vive pra servir, não serve para viver
Tempo vai e tempo vem
O vaqueiro foi eleito o grande herói do sertão
Foi preciso eu entrar na profissão, pra saber como vive o cantador
Te amei no passado e no presente, e te amarei no futuro até morrer
Ainda sou sertanejo, vivo aqui por precisão
Minha infância no sertão
Boi da Cajarana.

Nossa vida no começo é doce e maravilhosa
Mote de Julita Nunes

SS
Colega, nossa existência,
nos momentos do início
é cheia de luz e vício,
de carinho e de essência;
de riso e de influência,
e de uma alegria gostosa
a gente como uma rosa,
sem sequer sabe do preço.
Nossa vida no começo
é doce e maravilhosa.

SS
No período inicial
da vida é tudo alegria,
é riso, é fantasia,
é eterno carnaval,
mas marchando pra o final,
a vida fica espinhosa,
nessa estrada tortuosa,
cada passo é um tropeço.
Nossa vida no começo
é doce e maravilhosa.

SF
Muita gente se ilude
e até pratica tolice,
desconhece que a velhice
não é como a juventude,
que aplica um golpe rude,
na estrada tortuosa,
e nessa curva perigosa,
não sei se subo ou se desço.
Nossa vida no começo
é doce e maravilhosa

SS
Você vê uma criança
toda cheia de euforia,
inocência e alegria,
de luz e de esperança,
passa o tempo, a vida avança,
cada dia mais custosa,
quem foi linda, carinhosa,
difere, que nem conheço.
Nossa vida no começo
é doce e maravilhosa.

A população aumenta se a FOME ZERO zerar
Mote de Julita Nunes

SS
Boa alimentação,
um estrume com certeza,
a sobra de pão na mesa,
paz, saúde e habitação,
isso faz uma nação
todo instante melhorar,
Brasil precisa mudar,
na mão que se orienta.
A população aumenta
se a FOME ZERO zerar.

SF
Vão aumentar as vazantes,
os frutos da nossa horta,
e o nordeste não exporta
as levas dos retirantes,
vão aumentar as gestantes
com entrada hospitalar,
empresas vão importar
muito mais a ferramenta.
A população aumenta
se a FOME ZERO zerar.

SS
Vamos mudar de atitude,
vamos ter mais segurança,
mais escola pra criança,
mais educação pra o rude,
e mais casas de saúde
para o povo se tratar
e ter mais grupo escolar,
onde o menino freqüenta.
A população aumenta
se a FOME ZERO zerar.

SF
Muito mais aparecer
criança neste país,
o velho muito feliz,
sobre o plano vai dizer,
se o presidente entender,
que deve continuar,
porque se o plano falhar,
quem é fraco se arrebenta.
A população aumenta
se a FOME ZERO zerar.

SS
Muita gente no sertão
vai ter mais do que viver,
ter apoio e aprender,
buscar mais educação,
ter mais alimentação,
para o menino engordar,
ninguém pode prosperar,
onde não se alimenta.
A população aumenta
se a FOME ZERO zerar.

SF
Se a classe proletária
encher a sua barriga,
vai-se acabar a fadiga
e a miséria fundiária,
se fizer reforma agrária,
para tudo melhorar,
tem chão para trabalhar
e a mãe forte que amamenta.
A população aumenta
se a FOME ZERO zerar.

SS
Se o povo deste País
puder viver com sossego,
com escola, com emprego,
ter apoio pra os guris;
puder viver mais feliz,
o governo assegurar,
todo o pobre trabalhar,
toda a riqueza apresenta.
A população aumenta
se a FOME ZERO zerar.

Quem não vive pra servir, não serve para viver
Ditado popular apresentado por DANTAS

SF
Sei que devemos mudar
esse nosso itinerário,
outro mote necessário,
na cantiga é pra mostrar,
que o homem é pra trabalhar
e pra muito enaltecer,
pra cumprir todo dever,
começando do porvir.
Quem não vive pra servir,
não serve pra viver.

SS
Quem ao próximo não ajuda
também não lhe dá a mão,
quem não divide o seu pão,
na hora que a crise aguda;
quem o coração, não muda
para alguém vir proteger,
pois não terá o prazer
de falar em Deus, ouvir.
Quem não vive pra servir,
não serve pra viver.

SF
Qualquer uma criatura
que não acha a vida séria,
pode cair na miséria,
desperdiçando a fartura,
praticando uma loucura,
sem saber o que fazer,
quem nega um pão para ter,
amanhã pode pedir.
Quem não vive pra servir,
não serve pra viver.

SS
Eu vim para ajudar,
não somente ser ajudado,
vim amar e ser amado,
e primeiro tentar amar,
pra alguém me respeitar,
isso eu vi Cristo dizer,
quem tem algo a oferecer,
Deus pode retribuir.
Quem não vive pra servir,
não serve pra viver.

Tempo vai e tempo vem
Sebastião da Silva (SS) e Ismael Pereira (IP),
em 06/06/2003

SS
Tempo vai e tempo vem,
que cada um evolua,
vai água e vem a onda,
vai o sol e vem a lua,
vai a velho e vem o novo,
e essa vida continua.

IP
Vai o sol e vem a lua,
pra o mundo se sentir bem,
vai o carro e vem a nave,
vai o barco e vem o trem,
quando um repentista vai,
outro repentista vem.

SS
Vai o mal e vem o bem,
é isso que acontece,
na boca que alguém reza,
chega aqui, faz uma prece,
depois que o trovão estronda
é que a chuva aparece.

IP
Vai o dia, vem a prece,
vai galinha e vem o ovo,
vai o gordo, vem o magro,
vai o velho e vem o novo,
nem falta voz na garganta
nem improviso pra o povo.

SS
Vai o velho e vem o novo
e a platéia se distrai,
vem sobrinho, vem o tio,
vem o filho, vai o pai,
vai o poeta e vem outro
E A NOSSA CULTURA NÃO CAI.

IP
Se um vem, o outro vai,
se um erra, o outro concerta
um vai na estrada errada,
outro na estrada certa,
E A LUZ DO VERSO SÓ BRILHA
DEPOIS QUE O GÊNIO DESPERTA.

SS
Sigo na estrada certa
da vida espetacular,
vai o noivo e vem a noiva,
vão se unir no altar,
que quando sai uma pedra
Deus põe outra no lugar.

O vaqueiro foi eleito o grande herói do sertão
Mote de Moura

IP
No sertão, terra mais bela
no nordeste brasileiro,
eu gosto de ver vaqueiro,
passando abrindo cancela,
escanchado numa sela
em cima dum alazão,
de perneira e de gibão,
de espora e para-peito.
O vaqueiro foi eleito
o grande herói do sertão.

SS
Vaqueiro é uma legenda,
do bravo sertão da gente
é quem topa boi valente,
quem faz tudo de encomenda,
é quem cuida da fazenda,
quem rebanha criação,
para deixar o patrão
rico, alegre e satisfeito,
O vaqueiro foi eleito
o grande herói do sertão.

SS
Ele vive atrás do gado,
correndo no tabuleiro,
ele passa o dia inteiro
e a noite fica cansado,
e quando está enfadado,
se deita até no chão,
faz a cama do gibão
e qualquer canto é seu leito.
O vaqueiro foi eleito
o grande herói do sertão.

SS
Com a sua idéia boa,
o gado é acostumado,
ele é quem cuida do gado,
quando erra, Deus perdoa,
pois qualquer uma pessoa
pode até lhe dar ração
tratar de um barbatão,
só não faz do mesmo jeito.
O vaqueiro foi eleito
o grande herói do sertão.

IP
O ranchinho que ele habita
é geralmente palhoça,
quando o gado está na roça,
conhece quando ele grita,
não veste roupa bonita,
nunca pediu ao patrão,
sem ganhar nenhum tostão,
tange o gado satisfeito.
O vaqueiro foi eleito
o grande herói do sertão.

SS
Vaqueiro não tem abalo,
sempre foi um homem forte,
seu cavalo é o transporte,
que anda sempre a cavalo,
o seu relógio é o galo,
sua comida é feijão,
seu paletó, um gibão,
seu colete, um para-peito.
O vaqueiro foi eleito
o grande herói do sertão.

IP
O vaqueiro se destaca
na luta que se revela,
seu sofá é uma sela,
sua arma é uma faca,
de tirar leite de vaca,
pra encher um caldeirão,
pode olhar na sua mão,
já tem a marca do peito.
O vaqueiro foi eleito
o grande herói do sertão.


Foi preciso eu entrar na profissão, pra saber como vive o cantador
Mote de Milanez

SS
Eu queria avisar pra toda gente,
que eu sempre gostei de POESIA,
comecei freqüentando cantoria,
eu vivi a história do repente,
eu também enfrentei o sertão quente,
já trilhei pelo nosso interior,
já cantei muitas frases de amor,
já vivi de saudade e de emoção.
Foi preciso eu entrar na profissão,
pra saber como vive o cantador.

SS
Foi preciso eu comprar uma viola,
e viver do acordes do meu pinho
e voar igualmente um passarinho,
quando quebra as barreiras da gaiola,
foi preciso eu viver na mesma escola
de Odilon, Lourival e Serrador,
foi preciso eu sentir todo sabor
dos poemas bonitos de Canção.
Foi preciso eu entrar na profissão,
pra saber como vive o cantador.

SS
Esse dom tão divino e majestoso,
eu queria entender tudo a miúdo,
nada sei, mas já sei de quase tudo,
que cantar é trabalho que é gostoso,
escrever um Pavão Misterioso,
uma história bonita de amor,
cantar sobre o Soldado Jogador,
e a peleja do diabo em Riachão.
Foi preciso eu entrar na profissão,
pra saber como vive o cantador.

SS
Pra saber como é essa cultura,
foi preciso eu andar, sofrer a pé,
por Campina, por Patos, por Sapé,
Juazeiro, Pombal, Boa Ventura,
foi preciso eu comer da rapadura,
numa casa de um pobre agricultor,
misturar um pirão de corredor
e beber cana boa com limão.
Foi preciso eu entrar na profissão,
pra saber como vive o cantador.

IP
Foi preciso eu trilhar esse caminho
de artista que canta de improviso,
guardar tudo que vejo no juízo,
e cantar bem como canta um passarinho,
foi preciso eu pegar o velho pinho,
escutar seu tinido, o seu tenor,
foi preciso eu viver cantando amor
e a saudade matando o coração.
Foi preciso eu entrar na profissão,
pra saber como vive o cantador.

IP
Sem cantar certo tempo inda vivi,
sem saber das histórias dessa escola,
e comecei afinando a viola,
pra cantar do Sertão ao Cariri;
papai disse: não cante, eu respondi,
eu não deixo a viola não senhor,
insisti me tornei um vencedor,
já fui mais de cem vezes campeão.
Foi preciso eu entrar na profissão,
pra saber como vive o cantador.

SS
Foi preciso eu trilhar a mesma linha
de um poeta que é um viajante,
que enfrenta o sol tão escaldante,
pela noite, a tarde ou manhãzinha,
eu preciso voar como andorinha,
descobrindo esse céu deslumbrador,
ver abelha feliz sugando a flor
e sentir a quentura do verão.
Foi preciso eu entrar na profissão,
pra saber como vive o cantador.

IP
O poeta depois que desenrola,
observa a beleza do ambiente,
cada verso que faz é um repente,
fica mais conhecido na escola,
gosta tanto do toque da viola,
que alivia do peito a sua dor,
nessa arte se torna construtor,
quando canta tem mais inspiração.
Foi preciso eu entrar na profissão,
pra saber como vive o cantador.

IP
Foi preciso cantar pra conseguir,
conhecer o que tinha nessa arte,
e dessa mesma viola fazer parte,
meu trabalho a platéia me ouvir,
me tornei companheiro de Valdir,
Moacir, Fenelon, Sebastião,
decorei os poemas de Azulão,
de Xudu, Marcolino e Beija-flor.
Foi preciso eu entrar na profissão,
pra saber como vive o cantador.


SS
Foi preciso eu viver de cantoria,
pra saber como é a velha escola,
dos aedos divinos da viola
da estrela, do ar, da luz, do dia,
da beleza, da vida, da alegria
do sorriso, da paz e do amor,
da tristeza, do sofrimento e dor
da angústia, da cruz, decepção.
Foi preciso eu entrar na profissão,
pra saber como vive o cantador.

Te amei no passado e no presente,
e te amarei no futuro até morrer
Mote de Arimatéia

IP
Se a paixão no meu peito sempre inflama,
quero ter o carinho e ter o cheiro,
quero ser seu eterno companheiro,
e tu também há de ser a minha dama,
quero ter o teu corpo em minha cama,
quero dar o carinho e receber,
vai o meu em teu corpo te aquecer
pra amar só é bom de máquina quente.
Te amei no passado e no presente,
e te amarei no futuro até morrer.

SS
Nosso amor foi por Deus bem reservado,
pra vivermos num mundo de alegria,
eu gozando da tua companhia,
e tu vivendo contente do meu lado,
o que foi no meu tempo do passado,
no presente eu ainda quero ser,
e no futuro eu hei de receber
esse amor pra viver eternamente.
Te amei no passado e no presente,
e te amarei no futuro até morrer.

SS
Te amar é a minha solução,
foi assim que eu fiz na minha infância,
a infância se acha na distância,
e o presente eu carrego em minha mão,
e no futuro os sonhos sempre irão
com muita alegria ou mais prazer,
pra fazer alegria renascer
e brotar o amor pra nossa mente.
Te amei no passado e no presente,
e te amarei no futuro até morrer.

IP
Tu tens corpo e semblante de rainha,
o teu beijo é gostoso, isso eu já sei,
faço tudo pra um dia ser teu rei,
já pensei, só dar certo sendo minha,
quando tu me escrever uma cartinha,
tenho todo prazer de receber,
toda hora eu espero te rever,
que a saudade é demais estando ausente.
Te amei no passado e no presente,
e te amarei no futuro até morrer.

SS
Deus não vai consentir que esse amor
se acabe igualmente à fumaça,
nem eu possa perder a minha graça,
nem tu possas perder o teu valor,
que eu não passo sem ter o teu calor,
tu ficas também sem meu poder,
haveremos de ter esse prazer,
de amar e viver eternamente.
Te amei no passado e no presente,
e te amarei no futuro até morrer.

IP
Encontrei meu amor no meu caminho,
nunca mais infeliz eu fui na vida
que tu és a mulher, minha querida,
que é difícil demais estar sozinho,
eu preciso demais do teu carinho,
tu preparas o prato pra eu comer,
e toda noite depois de escurecer,
nossa cama é forrada para a gente.
Te amei no passado e no presente,
e te amarei no futuro até morrer.

Ainda sou sertanejo, vivo aqui por precisão
Mote de Farias

SS
Ainda lembro da roça,
ainda gosto do mato,
inda me banho em regato,
inda tenho a pele grossa,
inda vivo na palhoça,
ainda como feijão,
ainda visto gibão,
ainda toco realejo.
Ainda sou sertanejo,
vivo aqui por precisão.

IP
Quem olha pra minha cara,
sabe que eu não sou daqui,
que o sertão onde nasci
é onde tem lua clara,
lembro da cama de vara,
lembro a rede de algodão,
lembro a tábua no fogão,
que mamãe partia queijo.
Ainda sou sertanejo,
vivo aqui por precisão.

SS
Eu ainda sinto abalo,
montando em burro valente,
inda me banho em enchente,
me acordo ao cantar do galo,
inda me monto a cavalo,
que chamam de alazão,
ainda canto canção,
e ainda gosto de queijo.
Ainda sou sertanejo,
vivo aqui por precisão.

IP
Aqui eu não me inspiro,
porque é mais feia a lua,
tem tanto tiro na rua
para o lugar que me viro,
e no sertão só tinha tiro
quando escutava trovão,
e a paz que eu vi no sertão,
estou aqui, mas não vejo.
Ainda sou sertanejo,
vivo aqui por precisão.

SS
De xiquexique e favela,
eu ainda estou lembrado,
ainda mando meu gado
passar na mesma cancela,
inda namoro a donzela,
que se arma de paixão,
que só faz pegar na mão,
e não deixa eu dar um beijo.
Ainda sou sertanejo,
vivo aqui por precisão.

IP
Eu lembro todo momento,
nossa casinha escondida,
quando eu pedia comida,
mamãe me dava alimento,
aqui eu só peço aumento
na empresa do patrão,
mas eu acho uma ilusão
pedir sangue a percevejo.
Ainda sou sertanejo,
vivo aqui por precisão.

SS
Da minha época junina,
ainda tenho lembrança,
ainda lembro da dança,
no claro da lamparina,
no toque da concertina,
que Luiz, Rei do Baião,
e ainda solto balão
toda noite de festejo.
Ainda sou sertanejo,
vivo aqui por precisão.

Minha infância no sertão
Tema de Geraldo

SS
GERALDO é o nosso irmão,
que gosta de cantador,
quer que a gente fale agora,
com expressões de amor,
implora em certa distância,
para cantar sua infância
como foi no interior.

IP
Ele no interior
teve uma infância bela,
subia em pé de mamão,
tirando pau de cancela,
bebendo água de poço,
andando em jumento em osso,
porque não tinha uma sela.

SS
Teve uma infância singela,
cuidando dos animais,
nu de cintura pra cima
naqueles seus arraiais,
descendo e subindo serra
e punhado de terra
jogava dos pés pra trás

IP
GERALDO tempos atrás,
residindo na terrinha,
se quisesse melancia,
assim pela manhãzinha,
pra ver a barriga cheia,
roubava na roça alheia,
porque na dele não tinha.

SS
Corria atrás de galinha,
e pegava tanajura,
bebia o leite de casa
e quebrava rapadura,
quando o sol mostrava o brilho,
abria boneca de milho,
pra ver se estava madura.

IP
Caçava na mata escura
rolinha, tejo e sibita,
comia cuscuz com fava,
bebia chá de marmita,
escorregava em ladeira,
caçava de baladeira,
e assediava CABRITA.

SS
Teve uma infância bonita
cheia de amor e fé,
pôs algodão no sapato,
para dar certo no pé,
QUANDO MIJAVA NA REDE,
pendurava na parede,
pra sua mãe não dar fé.

IP
Sem o chinelo no pé,
andava de pé no chão,
dormia em rede rasgada
ou em paiol de algodão,
se curava de jalapa
e matava mocó de tapa,
pra temperar o feijão.

SS
Ele tem recordação
da sua antiga divisa,
do seu primeiro sapato,
sua primeira camisa,
e um forró longe da praça,
que bebeu muita cachaça,
quase levava uma pisa.

IP
Ele tinha a cara lisa
no tempo de inocente,
viu mulher tomando banho,
fez isso principalmente
num poço que ele encostava,
nem a mãe dele escapava,
quanto mais a mãe da gente.

Boi da Cajarana
Sebastião da Silva (SS) e Ismael Pereira (IP),
em 06/06/2003, Tema de Almani

SS
ALMANI disse que gosta
da festa de vaquejada,
tinha uma sela enfeitada,
e um amor como resposta,
de mulher quando se encosta,
na sua sela suzana,
e todo fim de semana
ele ia a festa de gado.
Eu quero o boi amarrado
no pé da cajarana,
me amarre o boi
no pé da cajarana.

IP
Ele disse que admira
um vaqueiro corredor,
sentindo o cheiro de flor,
correndo na macambira,
num cavalo bom, que tira
o capim ou jitirana,
dando ração de banana
para sustentar o gado.
Eu quero o boi amarrado
no pé da cajarana
me amarre o boi
no pé da cajarana.

SS
Gosto de som de viola
de poeta cantador,
de vaqueiro corredor,
vestindo roupa de sola,
canta e toma coca-cola,
whisky, cerveja ou cana,
bebe mel de italiana,
comendo churrasco assado.
Eu quero o boi amarrado
no pé da cajarana,
me amarre o boi
no pé da cajarana.

IP
Disse que acompanha a prece
do romeiro nordestino,
do pai que manda o menino,
e do menino que obedece,
do caçador que conhece
as quebradas da savana,
onde a cobra caninana
já voa de bote armado.
Eu quero o boi amarrado
no pé da cajarana,
me amarre o boi
no pé da cajarana.

IP
Eu gosto do meu rincão
que nasci e me criei,
do ranchinho que deitei
de tarde no coração,
do festejo de São João,
da festa de Santa Ana,
duma quadrilha bacana,
com pamonha e milho assado.
Eu quero o boi amarrado
no pé da cajarana,
me amarre o boi
no pé da cajarana.

SS
Eu quero que você diga
que o sertão é uma jóia,
como é que o vaqueiro abóia,
como é que o caboclo briga,
como é que a formiga
corta a folha da savana,
e todo fim de semana
tem forró bem animado.
Eu quero o boi amarrado
no pé da cajarana,
me amarre o boi
no pé da cajarana.

IP
Eu gosto de POESIA,
das quebradas do serrote,
como a cobra dá um bote,
para pegar uma jia,
como é que a vaca cria
carrapato na pestana,
como é que o boi abana
um mosquito envenenado.
Eu quero o boi amarrado
no pé da cajarana,
me amarre o boi
no pé da cajarana.
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