I
Revoltos são os mares desta vida,
Que o homem não foi feito p ra calar.
Desprende as tuas velas pelo ar,
Enfrenta, com denodo, a dura lida!
Quisera ter podido suportar
A mágoa que me trouxe sem guarida
A alma, pobre nave desvalida,
Perdida nas tormentas desse mar.
Se visses quanto enche o negro Umbral
As fugas à verdade da existência,
Porque, ao invés do bem, se faz o mal,
Irias trabalhar com eficiência,
Mostrando teres certo, no final,
Que nada há de acusar-te na consciência.
II
A turma que aqui traça este roteiro
Bem sabe quanto é doce o bom momento
De dar, ao verso, fé, com muito alento,
Do ânimo que traz o companheiro.
Eu, do soneto o autor, mais acalento
Vê-lo aí, nessa tela, por inteiro,
E não porque deseje ser faceiro,
Mas para dar de mim, com sentimento.
Por isso, tenho medo de falhar,
Tomando para tal a precaução
De ir ditando as rimas devagar,
Pedindo que o leitor preste atenção,
Que existem muitas frutas no pomar:
Algumas bem maduras.; outras, não.
III
Os temas quase sempre são banais:
A métrica é que os põe mais misteriosos.
Não queiras, pois, julgar só pelos gozos,
Mas toma os versos simples como tais.
Quem tem os pensamentos bem gostosos
Irá viver na Terra muito mais.
Não deixes, entretanto, os animais
Tornarem-se modelos perigosos.
A águia voa alto p ra matar.
O peixe, fora d água, perde a graça.
A abelha faz o mel a exagerar.
O mico só está bem numa trapaça.
A cobra arma o bote p ra atacar.
A fauna vive só a hora que passa.
IV
Sabendo que o momento é importante,
Não percas tempo achando tudo igual,
Mas faze com que seja natural
O bem que vais dispor ao semelhante.
Caso julgares sempre que o teu mal
É a cupidez alheia que garante,
Pára a considerar, só um instante,
Se a dor não é um fato universal.
Sofreu Jesus, o nosso mestre amado.;
Sofreu Maria, a mãe toda pureza.;
E quantos mais, em seu apostolado.
E quem julgar, por conta de proeza,
Não ter sofrido até passar de lado,
Vai ver quem tem no Umbral a vela acesa.
V
Os tópicos que valem na jornada
Estão resumidinhos no Evangelho.
Não queiras, pois, deixar para bem velho,
Que o risco corres de não teres nada.
Aceita, então, do Mestre o bom conselho
E põe-te a caminhar por essa estrada,
Pois quem aos outros dá também agrada
À própria imagem que reflete o espelho.
Amar ao Pai é o máximo que a gente
Pode almejar durante toda a vida,
Mas, p ra alcançar o alvo facilmente,
Deixa de lado o orgulho e ao bem convida
Cada momento teu, em teu presente,
Amando ao semelhante, em cada lida.
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