A palavra sai da boca e rola dinâmica nas teclas digitais do computador. Ela traz em suas brenhas o segredo escondido dos espaços peculiares da vida. Os poetas são os grandes artífices da sua representação. Sua arte consiste em saber puxar e interpretar os cordelinhos da existência inoculando na palavra a técnica, a expressão e a comunicação. Desse jogo nascem expressivos poemas que representam os meandros da existencialidade humana. Esta existencialidade sublinhada pelo peculiar circunstância de o homem se destacar como “um ser no mundo”(Dasein in der Welt ) é matéria-vertente do ofício inventivo dos poetas. Tal existencialidade divide o ofício em dois gêneros. De um lado, há um tipo de poesia quando o artista se serve da palavra para cantar as belezas, os sonhos e as esperanças que representam a grandeza lírica da vida. De outro lado, há os poetas que preferem cantar a intensidade abissal, a agressão, o repúdio, o desamor, a traição, a doença e a morte em termos existenciais dramáticos.
Esta ambivalência e as muitas e específicas situações em que a existência se revela em fortes emoções mostram que o ser humano é partícipe real da dupla condição da alegria e da tristeza, da liricidade e da dramaticidade que sempre mereceram dos poetas um tratamento diferenciado, graças à utilização da força da palavra expressa em gêneros. A promessa, o sonho, o amor, a celebração do amor e a felicidade testemunham a existência de tecidos anímicos que ajudam a expandir o ser humano para a alegria, para a festa e o bem-estar. No bívio da dúvida entre o lírico e o dramático o ser humano se agarra com muita ilusão ao cântico primaveril da vida esperando que jamais a terra deixe de cantar e que jamais o homem perca a capacidade de celebrar a alegria para além da dor, da tragédia e da morte. A promessa de vida de uma criança regurgitando de disposição e teimosia em atitudes de crescimento e auto-afirmação nos convence a celebrarmos com festa o pequeno intervalo que nos é dado.
A capacidade do dizer poético está em que certos artistas podem mostrar sua preferência em destacar o lado sombrio da existência evidenciando a estrutura da mecânica existencial que desemboca na morte. Outros porém, os líricos, preferem desencantar a tonalidade afirmativa da existência direcionando a palavra poética para celebrar os momentos sublimes da vida representados pelo sonho, pela alegria, pelo amor e pelo carinho, pela esperança, pelo sucesso, pelos triunfos e pelas vitórias, pela inocência, pela tranqüilidade e pela paz.