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Artigos-->Rafael não cuidou de Rafael -- 02/09/2010 - 09:46 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nesses últimos dias ando enfastiado com o noticiário brasileiro repleto de notícias ruins por causa das perversidades e malvadezas de algumas pessoas. Por isso tenho mudado o hábito com relação aos jornais noturnos na televisão. Vejo-os cada vez menos e ouço mais o rádio. Enquanto no rádio só temos o som, na televisão, além do som, temos a imagem, que afeta muito mais a nossa sensibilidade.

Essas perversidades e maldades são na verdade a falta de cuidados que deveríamos ter com os nossos conterrâneos e irmãos brasileiros. Por mais diferentes que sejamos uns dos outros individualmente, somos todos “farinha do mesmo saco”. Vivemos no mesmo país, subordinados ao mesmo Presidente, torcemos pela mesma seleção, estamos todos na mira do mesmo garoto que fugiu da escola, e por aí vai.

Só para relembrar, citarei alguns desses casos que me angustiam. O primeiro é o caso do covarde goleiro Bruno, que participou do assassinato da ex-namorada. O segundo diz respeito ao relato a seguir:

Há poucos dias eu estava no Rio de Janeiro e peguei um táxi em Ipanema, por volta da meia noite. Quando passávamos por uma rua estreita ladeada de prédios residenciais o motorista apertou o dedo na buzina com toda a força. Fiquei indignado com aquela falta de educação e comentei com a moça que estava ao meu lado:

- Ainda vou entender o que leva uma pessoa buzinar numa área residencial em plena madrugada.

O motorista ficou bravo e perguntou com cara feia:

- Você viu o que ele fez?

Diante da minha negativa ele continuou:

- O cara furou o sinal vermelho, se eu não buzinar, vem outro atrás e pega a gente, bem aí do seu lado.

Ainda tentei justificar a minha preocupação:

- Mas não é só diminuir a velocidade? Fico pensando em quem está dormindo a esta hora e é acordado por uma buzina.

Vendo que o clima poderia esquentar, a moça justificou:

- Seu motorista é que ele é de Brasília. Estive lá há poucos dias e o pessoal não buzina e pára na faixa de pedestres. O trânsito de lá é muito diferente do daqui.

Mais calmo (a voz feminina é um bálsamo para acalmar os homens), o motorista contou que certa vez estava em Curitiba com a filha. Andavam pela rua quando ele jogou a bagana de cigarro no chão. Deu uns passos, voltou, catou a bagana e jogou-a numa lata de lixo. Embasbacada, a filha comentou:

- Pai, o que o senhor fez? Nunca o vi jogar lixo na lixeira!

- Filha, é que olhei em volta eu não vi nenhum papel na calçada. Só jogo lá no Rio porque todo mundo joga. Aqui é diferente.

Conversamos mais algumas amenidades e os ânimos se acalmaram.

Quem chega a Brasília pela BR 040, vindo das regiões Sul ou Sudeste, avista uma placa logo no início do Distrito Federal que diz: “Em Brasília evitamos buzinar”.

A tolerância que temos de evitar buzinas e parar na faixa é o cuidado que nós brasilienses temos com o outro. Em ambos os casos quem tem um pouquinho de tolerância beneficia outra pessoa e recebe um sorriso ou aceno cordial. É melhor para todo mundo.

Quando somos intolerantes recebemos de volta a ira do outro com a mesma intensidade.

Há poucos dias minha filha enviou-me um e-mail com cenas do massacre de golfinhos na Dinamarca. Diz o e-mail que esse massacre é um ritual dos jovens dinamarqueses para provarem que estão prontos para sair da adolescência e entrar na fase adulta. Os golfinhos são massacrados porque vêm à praia apreciar o movimento e brincar com os banhistas.

Confira as imagens nos endereços:

http://rpalmela.blogspot.com/2008/04/no-reino-da-dinamarca.html http://www.fotologando.com/2009/09/massacre-de-golfinhos-na-dinamarca.html http://www.clubeletras.net/blog/mundo/o-massacre-dos-golfinhos-na-dinamarca/

Minha filha ficou indignada com essa história e pediu que eu assinasse o abaixo-assinado que estava no e-mail. Assinei. Logo em seguida ela telefonou pedindo que eu fizesse alguma coisa, já que trabalho no Senado Federal.

Muito orgulhoso da atitude dela e entendendo o arroubo característico de sua juventude, expliquei que é muito complicado um país interferir na vida cultural de outro país. Inconformada, ela disse que eu era igual àqueles dinamarqueses assassinos dos golfinhos. Vendo seu inconformismo, eu disse que poderia falar com um senador da Comissão de Relações Exteriores para chamar o Embaixador da Dinamarca, a fim de que ele pudesse explicar aquela crueldade. Assim os senadores mostrariam que o Brasil não concorda em matar golfinhos. Do outro lado da linha ouvi seu estrondoso grito de alegria: "Taí, a solução é essa. Vou levar meus amigos com cartazes e faixas de protesto no dia que ele estiver falando". Concordei, mas ponderei:

- Filha, agora imagine o embaixador sentado, a sala cheia de senadores, repórteres e faixas. Imagine também ele perguntando para nós brasileiros: "Por que vocês estão tão preocupados com a morte dos golfinhos se vocês são o país que mais mata no trânsito? Como vocês querem salvar os golfinhos se suas crianças estão morrendo de fome nos semáforos e embaixo dos viadutos? Quem são mais essenciais para a humanidade, os nossos golfinhos ou as suas crianças? Cerca de 99% das nossas crianças estão alfabetizadas; Enquanto isso, apenas 11,5% das crianças brasileiras estão alfabetizadas e somente metade dos seus jovens terminam o ensino médio. Senhores e senhoras, não queiram salvar os golfinhos enquanto não cuidarem dos seus anciãos maltrapilhos perambulando pelas ruas".

Minha filha disse que eu era um conformado, que isso era discurso de quem não quer mudar o mundo. Mas antes de desligar o telefone, prometeu que iria fundar uma ONG para proteger os golfinhos. Elogiei a iniciativa e sugeri que ela primeiro arrumasse a casa dela antes de querer arrumar o mundo. Mas no fundo do coração fiquei orgulhoso do cuidado dela com os golfinhos.

Por último, quero lembrar o caso do Rafael Bussamra, que no dia 20 de julho atropelou e matou o músico Rafael Mascarenhas, filho da atriz Cissa Guimarães. Por que o Rafael não cuidou do Rafael? Se o Rafael dirigisse com cuidado não teria causado tanta dor à sua família nem à mãe do Rafael.

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