I
Eu acho que não tem mais cabimento
Perturbar o leitor com má poesia,
Causando-lhe completo sofrimento,
Que nem com cassetete não faria.
No entanto, esta pressão bem mais aumento,
Porque parar agora não daria,
Já que o nosso médium segue atento,
Em busca de ganhar um outro dia.
Assim, escrevo apenas p ro consumo,
Propondo do evangelho só o resumo
Das leis do amor, do bem e do perdão,
Querendo que esse amigo saiba bem
Que a turma que verseja também tem
Prazer em apertá-lo ao coração.
II
Se, acaso, a minha estrofe melhorar,
A ponto de causar satisfação,
Talvez eu possa até amealhar
O sentimento nobre do perdão,
Ao dizer ao leitor que o patamar
Da esfera em que faço este refrão
Está só meio metro do lugar
Em que o amigo pisa aí no chão.
— “Por que não vem do Alto alguma luz
Que possa dar a todos de Jesus
O ensino mais sutil dessa virtude?”
Não queira seja novo o que é bem velho,
Pois tudo já se encontra no Evangelho,
No aguardo que a consciência, um dia, mude.
III
Não devo censurar o bom amigo
Que tem boa vontade na leitura,
Porque, sem esforçar-se, o verso atura,
Jamais dizendo assim: — “Mangas comigo!”
Busco retribuir com rima pura,
A retorcer o verso com que brigo,
Mas sempre a colher joio, jamais trigo,
Enquanto o sacrifício aqui perdura.
Aí, eu peço a Deus que nos ajude
A decifrar as leis desta virtude,
Pondo nossa amizade um ponto acima.
Logo desce do Céu um anjo lindo,
Que nos aponta o coração, sorrindo,
Dizendo ali encontrar-se a pura rima.
IV
Encontro-me contente co a poesia,
Que é tudo o que pedi durante a vida.
Talvez até pareça algo falida,
Mas isto há de rimar melhor um dia.
Trabalho para achar uma saída
Que dê, para o progresso, a clara via,
Mas vejo que a consciência já sabia
Quando, com o evangelho, me revida.
Refaço, pois, o verso-compromisso,
Julgando que é melhor prestar serviço,
Em vez de dar prazer com boa rima.;
E lembro que Jesus orou por nós,
Alteando, na cruz, a doce voz,
Rogando, em puro amor, do Pai a estima.
V
Ó Deus, o que é que busco ao versejar,
Se a minha voz soluça em som mui rouco?
Perdoa, se consigo aqui tão pouco,
Se a nave vai perdida em alto mar!
Não faças ao soneto ouvido mouco:
Ensina este poeta a apostrofar
Os vícios, que empesteiam o lugar,
Tornando o homem hoje muito louco.
Mas como reclamar de quem falseia
Aquele cuja alma está tão feia,
Que já não vê na trova a imensa trava,
E toca a mesma música do disco,
Querendo ver no irmão um simples cisco,
Rimando, mas dizendo que não dava?!...
VI
Valei-me, bom Jesus, nesta escansão,
Que o tempo que disponho já escasseia,
Contornando-me a rima pobre e feia,
Livrando-me do mal da escuridão.
Eu sei que o verso meu não há quem leia,
Embora nele ponha o coração,
Porém, dizei-me “sim” e nunca “não”,
Se o bem o verso aqui desencadeia.
A luz que vos pedi está presente,
Que a bênção nesta trova se assegura,
Por gentil vibração que a alma sente,
Como se fora a vida bem mais pura,
Bondade desse amor que, eternamente,
Eleva e glorifica a criatura.
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