Lágrima furtiva
maria da graça almeida
A risada desperta,
as mãos sempre abertas,
a paciência com paciência,
a suavidade do poder ser
e do merecer estar,
sem precisar ter.
E agora, justamente agora,
quando tanto tínhamos para falar,
quando tudo lhe queria contar,
nossos caminhos são opostos,
nossos minutos, indispostos.
E eu o pressinto
no contraponto da vida,
no contracanto da lida
que me alivia a alma
ou, que me aguça o pranto.
Naquela mesa sua risada acesa
já se apagou. Em contrapartida,
pra sempre dolorida,
ali estará minha vontade
do ontem desfrutar o vinho ofertado
o pão repartido, o coração distribuído.
Uma lágrima furtiva rola solitária
e embola-se na saudade que me ampara.
Então, daquela mesa, em pensamento,
suavemente, nutro-me do halo
e da aura de gratidão e amor
que sobre mim se espalha.
|