I
Por que devemos flutuar o humor,
Se a paz, na eternidade, é tão flagrante?
Vamos tentar conter, daqui por diante,
A inveja, o medo, o orgulho e o vil rancor.
O agir em calma ao coração garante
Que a decisão tomada é superior.
Caso haja fé, sabemos que é o amor
Que vai tornar noss alma mais brilhante.
Às vezes, nos sentimos inseguros
E os pensamentos fazem-nos impuros,
Porque a má vontade prevalece.
Aí é que pedimos a Jesus
Que nos envie Espírito de luz,
Para nos ensinar a melhor prece.
II
Dentre os conselhos, o que faz sucesso
É o que nos pede, humilde, p ra rezar,
Pois tudo o mais precisa ir devagar
Caso contrário, frustra-se o progresso.
Quando saímos para o alto mar,
O sentimento fica no regresso.
Quando alguém diz: — “Eu sempre me arremesso” —,
Vamos pedir que pare p ra pensar.
Tudo na vida tem motivo certo,
Pois a verdade mostra cada causa,
Enquanto virmos toda ação de perto.
Neste improviso até que a rude rima
Pode gerar, p ras almas, boa pausa,
Em oração p ra despertar estima.
III
Contrariando a norma instituída
Para os versinhos tristes desta gente,
Quero trazer os meus, muito contente,
Por ter logrado ser feliz na vida.
Não quer dizer que fui tão diferente.;
É que encontrei no amor boa saída,
Ao ver-me, toda vez, correspondida,
Em área que se sabe se alguém mente.
Não exigi demais nem fui sovina,
Pois aprendi a lutar desde menina,
Sabendo o que compete a cada um.
Se a inveja me acendia a fúria avessa,
Eu punha, desde logo, na cabeça,
Que quem pesca no mar recolhe atum.
IV
Se fui feliz na vida, tenho agora
De demonstrar, no verso, a boa rima
E angariar do povo a sua estima,
Atenuando a dor, se o pobre chora.
Se quiserem mudar este bom clima,
Dizendo qual a lei que aqui vigora,
Protesto, veemente, nesta hora,
Que o bem, pelo que sofre, o amor sublima.
Enviai-me, Senhor, nobre conselho,
Para que o meu leitor não perca a linha,
Ao receber na pele o duro relho,
Se nesse coração o mal se aninha.
Fazei com que meu tema seja o espelho
Do bem com que Jesus nos acarinha.
V
As pálidas palavras chegam bem
E dão aos pobres versos o seu tom,
A sussurrar somente simples som,
Na tentativa tosca que se tem.
Alguém que não conhece diz ser bom
O ritmo do metro, que convém
P ra desestimular qualquer desdém,
Que desconfie falso o nosso dom.
É essa a luta intérmina da gente
Que quer levar ao mundo o que se sente,
Estando desprovida de matéria.
A nossa vibração é deste lado
Mas o soneto acaba desastrado,
Se a alma que nos veja não for séria.
VI
Pretendo prosseguir, mas noutra hora,
Que o tempo deve ser aproveitado,
De forma que jamais fique de lado
Quem se deixa explorar ou quem explora.
Porém, se o verso põe alguém cansado,
A norma da piedade não vigora.
Por isso, deve o médium ir embora,
Sem ficar de leve preocupado.
Mas se a vontade diz p ra terminar,
Vamos pedir a Deus por proteção,
Pois o navio está em alto mar:
— “Senhor, dai luz ao pobre coração,
Fazendo desta trova o vosso altar,
Dizendo sempre ‘sim’ a quem diz ‘não’.”
|