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Artigos-->O ADEUS À NAU... -- 21/01/2011 - 17:28 (Ana Zélia da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Número do Registro de Direito Autoral:131420479225953100
O ADEUS À NAU...



Ana Zélia

Chegas e logo te vais...



Tens pressa em chegar ao teu destino.

Destino que não sabes onde começa ou termina. No porto aqui ou lá.



Quando suspendes âncora, tudo passa a ter sentido em ti. Tudo se balanceia para que possas seguir sem problemas.



Ao Comandante, toda a responsabilidade para que possas seguir bem comandada.



Ao Imediato “homem luz da nau”, encarregado do setor de embarque e desembarque das cargas que te preenchem o vazio.



O Piloto, náutico que tal qual o imediato, encarrega-se da direção que tomarás. Revezam-se apenas.



Marinheiros, moço de convés e outros que pertencem ou auxiliam à área náutica, te guiam o leme, observam a bússola, radar, eficiente elemento de precisão que te livrará dos toros, das areias enganadoras, te fazendo ir sempre no canal correto. Canal que teu pessoal de náutica deve conhecer como a palma da mão.



Bonito mesmo são as atracações ou o “desatracar” nos portos.



Movimentas uma equipe que se encontra a serviço; até mesmo os que se encontram em descanso ou folga, que auxiliam na tarefa.



Há os banhistas, encarregados da limpeza.

Separa teu pessoal, os do comando são de náutica, máquinas, outros ficam sem denominação, são marinheiros. Há os cozinheiros, taifeiros, etc.



Teu coração é bem sagrado e para te manter saudável, teu pessoal é qualificado, são “Médicos Navais” com as seguintes denominações:



Maquinistas, Supervisor ou “Chefe de Máquinas”, 1º, 2º, 3º maquinistas.



Homens que se perdem como pessoas para dar lugar ao cargo que exercem junto a ti.



Máquinas! É o coração da nau.



És como as mulheres faceiras, brejeiras, afoitas, pacatas, vaidosas, és tudo o que se possa imaginar.



Pregas peça bates pino, reclamas quando cansas, torna-te bebedora de óleo, igualando-se a teus homens, só que eles bebem “água que passarinho que não bebe”, “loiras geladas, morena suada...”



Raramente teu pessoal não é fumante inveterado. Aprendem contigo a largar fumaça no ar. Eles até brincam com teu coração.



Tua chaminé situa-se no topo da nau. A fumaça que deixas por onde passas são como rasto que o próprio ar extermina.



Quando cismas em descansar, eles desesperados exclamam: “Tá pegando” e correm a te dar massagens de todas as formas. Chegas a rir de tuas crianças, os homens que te velam são como elas, em seus camarotes há uma infinidade de cacarecos, partes do teu “eu” cacarecos que te completam ou te fazem sarar.



Chegas e logo te vais. Separas seres que se amam. És desmancha prazer.



As “mariposas” são mulheres do cais que tal qual vagalume brilham à noite em teu convés, com teus marujos.



As “piranhas” são vorazes e tragam teus homens. Caldo de “piranha” alimenta o corpo e a alma.



Chegas e te vais.



Alguns te amaldiçoam: “Droga de nau!”, outros bendizem e rogam aos céus por tua proteção.

Segues teu curso, rio acima, rio abaixo.



Não há lugar que não penetres, basta que haja água, podes ser de grande ou pequeno calado, és nau.



Além de Deus que é Marinheiro, temos outras entidades umbandistas que te protegem: Vês:



Cabocla Mariana, sua palha é linda: No Rio Negro mureru viraram flores, na mata virgem sabiá cantou é a bela Turca que veio de Aruanda, é Mariana que aqui chegou!”, Seu Marinheiro, sua palha também é linda, “Marinheiro, marinheiro, quem te ensinou a nadar, foi o tombo do navio Marinheiro, foi o balanço do Mar. Amor de Marinheiro é amor de meia hora, quando Mariana chega, Marinheiro vai embora”.



Seu Tabajara, São Benedito, Rei do Mar e meu padrinho, Oxum, Rainha das Águas doces, Iemanjá, Rainha do Mar.



Temos Tango do Pará, a maior Serpente Marítima que mora embaixo da Catedral da Sé, em Belém, mas que faz o percurso como vigilante de Belém até o Encontro das Águas no Amazonas, as Sereias, as Iaras, também marcam ponto de proteção a seus filhos Marinheiros.



E ai de quem brincar, não volta pro mar e marinheiro em terra é como navio estagnado em portos sem movimento...



Chegas e logo te vais.



És como a vida. Estás sempre alerta, podes sofrer revés e até desaparecer nas ondas, nos rios, mares, nas profundezas das águas por falta de fé de teu pessoal.



Mas teu nome será sempre NAU.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Nota da autora- Em noventa e nove viagens nos catamarãs da extinta Enasa, Rondônia que ainda sobrevive, Roraima, no fundo da baia de Marajó, Amapá, servindo à Marinha, e os turísticos Amazonas e Pará, que devem servir à Marinha.

Marinheira sem navio, nem cais, mas apaixonada por água, hoje morro em terra como navio encalhado ou atracado nos estaleiros como ferro velho, coisas da vida. A todos os homens que vivem levando e trazendo o progresso, movimentando corações e almas, o meu carinho especial. Manaus, 18.01.2011 (artigo escrito há bastante tempo) Ana Zélia



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