I
O enredo desta vida se complica,
Ao ver o nosso verso publicado,
Que o povo, às vezes, pensa ser pecado
A rima que a verdade bem explica.
Há quem deixe a poesia, ali de lado,
Achando que a teoria não é rica,
Que a tese doutrinal não justifica
Mexer com o que está padronizado.
Apenas alguns poucos é que aceitam,
“In totum”, o recado cá do etéreo,
Amando quando as trovas os deleitam.
É que têm o sentido do que é sério,
Pensando que os poetas mais enfeitam,
Para dar ao leitor mais refrigério.
II
Trabalho há de ter sempre o nosso médium,
Se não titubear junto a esta mesa,
Querendo que a Doutrina co a Beleza
Desfaçam do encarnado o triste tédio.
Não vamos prometer tanta proeza,
Apenas, p ras doenças, bom remédio,
Queremos transmitir, sem muito assédio,
Na justa proporção desta pobreza.
Humilde, este poeta reconhece
Que o verso, à luz do mundo, soa bem,
Agradecendo ao Pai, em breve prece,
Pedindo p ra dar mais a quem não tem,
No esforço de colher a parca messe,
Que aqui está plantando o seu vintém.
III
A luta para dar ao mundo luz
Também há de passar por tosco verso,
Na ânsia de cumprir o bem, imerso
Nos mandamentos claros de Jesus.
Virtudes não resultam em perverso
Futuro, sob a sombra de uma cruz,
Que a maldade, num feixe só, reduz
Todo o ódio que andava aí disperso.
Discernimento p ra que a luta cresça,
Multiplicando os que desejam ver
Que a opinião os versos favoreça.
Assim, quem vem cumprir o bom dever
Deve impedir que a turma esteja avessa,
Em rimas de profundo bem-querer.
IV
Acobertado pelo encanto da palavra,
O nosso tema se dispõe de qualquer jeito.
Não que não haja pelo povo bom respeito,
Pois bem cuidamos do sentido desta lavra.
O pensamento, ao se expressar, é que azinhavra,
Pois não é fácil de rimar, abrindo o peito.
É bem por isso que pedimos seja aceito
O pobre texto, sem favor de abracadabra.
Vamos levando, de mansinho, a pobre rima,
Sempre a rogar o seu perdão a quem se atreve,
Pois quem perdoa este mau verso sente estima,
Mesmo que seja um sentimento muito leve.
Ao aumentar, toda amizade, então, sublima,
Para entender que o sofredor também escreve.
V
Acariciando o pobre “ego”, este poeta,
Sem sutileza, vem trazer a sã Doutrina,
Julgando a rima superior e peregrina,
Sem perceber que o bom leitor o verso veta.
Allan Kardec o Espiritismo nos ensina,
Agasalhando a produção de algum esteta,
Desde que a linha de conduta seja reta,
Porque a maldade colorida nos fascina.
Se Jesus Cristo aqui viesse compor versos,
Iria dar-nos toda a luz, com alegria:
Talvez não fôssemos algozes tão perversos.
Mas sua rima, com certeza, não teria
Tanta licença e tantos sons no ar dispersos:
Uma palavra, uma lição, uma poesia.
VI
O caro médium tem respeito p ra comigo,
Pois vou depressa, ao registrar este compasso.
Olha o relógio p ra saber se existe espaço,
Que ultrapassar o meu horário é grão perigo.
Péssimo verso, sem vigor, volto e refaço,
Que a perfeição é sentimento muito antigo.
Por isso, a rima que falseia mais castigo
E, quando o tema empalidece, eu me embaraço.
Já falta pouco p ra baixar em outro centro.
Depois, pretendo um bom repouso, noite adentro,
Que trabalhei o dia inteiro a minha trova.
Já o ponteiro está marcando a minha hora:
Graças a Deus, pois clara norma aqui vigora.
Peço a Jesus faça valer a Boa Nova.
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