I
Quem desafina, nesta rima, sai da linha
E dá a vez para um irmão mais preparado.
Por isso, amigo, estou ficando preocupado,
Pois o meu verso é tal titica de galinha.
Conquanto eu possa até sentir-me angustiado,
Que a tal palavra aí de cima me abespinha,
Vou remendar, dizendo ser pequenininha
A minha culpa, já que estou regenerado.
Posso vestir-me de modéstia, enquanto rimo,
Para mostrar que já aprendi a respeitar
As boas normas, pois meu mestre dá arrimo,
Dizendo sempre para ir bem devagar.
Por perdoar-me, cada vez eu mais o estimo
E já prometo a um bom irmão ceder lugar.
II
Tendo deixado misteriosa a tal lição,
De novo estou, junto a esta mesa, a versejar.
De volta ao porto, o meu navio vai carregar,
Estando pronto a receber o seu perdão.
Queria o mestre que eu cedesse o bom lugar,
Pois o meu verso não demonstra perfeição.
Apenas prova que falhei nesta escansão,
Não tendo vindo, por teimoso, devagar.
A minha história não carece de dizer,
Que um verso só já desenhou quem é que sou,
Por isso, fujo de cumprir todo o dever.;
E uma guinada p ro mistério ainda dou,
Que a rima sai, com um pouquinho de poder,
P ra agradecer ao nosso Pai, porque aqui estou.
III
Não sou ousado, como fui quando vivi,
Pois desprezava a opinião de quem sabia.
Se me dissessem quais as regras da poesia,
Daria as costas, sem rimar conforme aqui.
Eu procurava dar de mim sabedoria,
Sem progredir, e “patatá” e “patati”,
Enchendo os versos das sobrinhas do que li,
Pois obra-prima eu jamais conseguiria.
Bem ao contrário, junto à mesa mediúnica,
Sou obrigado a demonstrar que seja única
A nostalgia pelas coisas que não fiz.
Cumpro a promessa de mostrar-me melhorado,
Embora saiba da existência, deste lado,
De um bom critério que me põe muito infeliz.
IV
Toda virtude há de passar por minhas mãos:
A esperança, a fé no Pai e a caridade.;
O perdoar, com muito amor, toda maldade,
Os inimigos transformando em bons irmãos.
Mas, que fazer, se acreditar não há quem há-de
Que estes meus versos possam ser muito louçãos,
Que os meus cantares, qualquer dia, inda serão
Mais que pedidos de perdão por piedade.
A evolução do pensamento não regride,
Se assimilarmos a lição que é ministrada,
Indo aplicá-la, com vigor, em cada lide.
Um degrauzinho a cada vez, pode ser nada,
Mas, de repente, pode haver quem nos convide
A ver o mundo lá do topo desta escada.
V
Não desespere, caro amigo, na jornada:
Vá devagar, usufruindo o seu momento.
É bem melhor do que sofrer com o tormento
De perceber que não se fez, na vida, nada.
Para viver, em harmonia, dez por cento,
Só pelejando com denodo se arrecada.
Vão perguntar por que é que entrei nesta gelada?
P ra não sentir, no coração, tal sofrimento.
Com Jesus Cristo, o mandamento era de amor,
Desde que a gente compreendesse o bom dever
De toda ofensa e todo mal já recompor.
Allan Kardec trouxe a lei do bem-querer,
Pois a ciência está a pairar por sobre a dor:
Só com estudo, o coração há de entender.
VI
Modestamente, eu me recolho ao meu tugúrio,
Pensando haver advertido p ra Doutrina.
Assim o mestre a esta turma toda ensina
E este poeta aqui só vem como Mercúrio.
Perceba, pois, caro leitor, que desafina
Esta mensagem, sem intento de perjúrio,
Pois todo o mal redundará em ser espúrio
O verso negro que, no inferno, se imagina.
Doirar a pílula não vou, esteja certo,
Pois eu não quero versejar para o deserto,
Nem na amplidão nem cá no etéreo, pois ninguém
Está disposto a prosseguir na mesma linha,
Que o meu vigor, sem proteção, logo definha,
E os meus colegas só desejam o meu bem.
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