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Ensaios-->O PRAZER DO TEXTO -- 18/08/2000 - 13:13 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



O PRAZER DO TEXTO




João Ferreira
18 de agosto de 2000



Já no século XIII, em plena Idade Média, se sustentava o princípio estético de que 'o belo é o que agrada' ('pulchrum est id quod placet'). Esta era a visão que vinha sendo sustentada em comentários às 'Sentenças' de Pedro Lombardo feitos por Alexandre de Hales e Alberto Magno, entre outros, antes de Tomás de Aquino. Haveria nesta formulação um recíproco envolvimento entre beleza e prazer e entre prazer e beleza.

O PRAZER DO TEXTO

Desde que a leitura se tornou um processo de conhecimento, de navegação e de viagem interior, se insiste em que a leitura de um texto pode causar prazer.
Dentro deste contexto do 'texto comio forma de prazer', ficou conhecido o livro do escritor francês Roland Barthes 'Le Plaisir du Texte', traduzido para português com o título de 'O Prazer do texto', e publicado tanto em Portugal como no Brasil.
O liivro de Barthes marcou uma posição singular em sua obtra global. É um livro muito conhecido e muito lido. Não é um livro processado em capítulos, ou com sub-temáticas rebolantes em vistosos títulos. Não.
É mais um livro que se desenbolve em quadros e reflexões autônomas que vão se sucedendo na mira de um diálogo e de um aprofundamento com o leitor.
Se buscarmos posições filosóficas sobre o prazer na história do pensamentio ocidental
vamos encontrar nos séculos V-IV antes de Cristo, uma escola e uma figura importante que pensaram a natureza do prazer. Trata-se da escola cirenaica em que teve participação importante o mestre Aristipo de Cirene(ca.435-355 AC). A doutrina da escola era o hedonismo. Segundo a teoria hedonística de Cirene, temos que buscar o bem e os valores exclusivamente no prazer, e mais concretamente, no prazer que se obtém nas impressões sensíveis. Toda esta teoria é desenvolvida para determinar um critério de valor e de bem, em oposição às escolas filosóficas que se fundavam especulativanmente nas ideias e nos conceitos. A teoria hedonista dos cirenaicos era uma forma de sensismo, da forma que mais tarde vai aparecer entre os sensistas ingleses e dentro do próprio sensacionismo estético da geração de Orpheu, em Portugal. A teoria era a de que só temos plena garantia de um bem quando este se baseia e se percepciona numa vivência imediata: 'Só o que nós próprios experimentamos como afeição ou como paixão se nos torna evidente e manifesto', lembraria depois um dos mestres da escola pirrônica, Sexto Empirico. O hedonismo é pois uma forma de epistemologia mas de tipo sensista, fundado nas sensções.

O SURTO DA ESTÈTICA NÃO-INTELECTUALISTA NOS FINS DO SÉCULO XIX

É interessante anotar que o termo 'estética' que teria sido cunhado por Baumgarten en 1750, para designar a 'teoria do belo', deriva etimologicamente do grego 'aisthesis' que tem uma conotação de 'percepção sensorial', apontando seu núcleo semântico para o sentido de percepção própria dos sentidos por oposição à percepção que é obtida pelas faculdades intelectuais e abstrativas. Historicamente, Emmanuel Kant aceitou o termo e desenvolveu em sua 'Crítica da Razão Pura', uma teria sobre a Estética Transcendental como 'ciência de todos os princípios da sensibiliddade a priori'. Depois dele, Schiller e Hegel explorarão a estética como filosofia do belo e como filosofia da arte, intelectualizando os conceitos. Depois de Hegel, através de Nietzsche, Dilthey, Walt Whitman, Ruskin, e outros. No início do século XX com Marinetti, Henri Bergson e o grupo sensacionista de Orpheu, o vitalismo chamará a atenção novamente para a sensação, para o impulso vital e para o valor das sensações. O texto 'Manucure' de Mário de Sá Carneiro, publicado na revista Orpheu, é uma amostragem da principalidade das sensações na avaliação da postura do eu frente à realidade.

ROLAND BARTHES E O PRAZER DO TEXTO

Interessaria agora, de uma forma metafórica, 'colocar os botões na camisa'. Isto é, já vimos a fudamentalidade do prazer na filosofia antiga. Vimos que a concepção do belo tomou o rumo inteletualista no século XVIII e se solidificou com o hegelianismo no século XIX, mas a arte de viver e os valores do corpo e das sensações, chamados por Nietzsche de valores dionisíacos em 'A Origem, da Tragédia', voltou a ter força no período finissecular (s.XIX-XX). E agora, cabe a pergunta: o que entenderá por prazer e por texto Roland Barthes quando fala de 'Prazer do texto'?

Qual poderá ser o prazer de um leitor quando lê? Um prazer intelectual, um prazer dos sentidos, ou um prazer global? Não seria muito divertido fragmentarmos agora aquele 'eu' que se senta à mesa e se dispõe a ler. Ou aquele eu que senta numa poltrona e lê no metrô, no ônibus ou no avião. Ou ainda aquele que no cenário bucólico do campo, do sítio, da fazenda ou na beirada dos rios, nos areais do Araguaia, ou do Tocantins, escolhe uma sombra e se delicia na leitura... Leitura de diversão, leitura de obrigação, ou leitura de descobrimento?
É evidente que não seria aqui o lugar de discutirmos em profundidade qualquer teoria da leitura. Mas podemos dizer sucintamente que o prazer da leitura envolve todas as situações. O prazer de alguém que lê uma revista ilustrada, infornmativa, uma rervista de casos amorosos, ou uma revista de casos selecionados e superinteressante. O jovem tem suas preferências, o público feminino tem suas outras preferências e os executivos também. Vamos admitir, nesse universo, as várias categorias, podendo dizer certamente de que quem lê para passar tempo ou se divertir pode teoricamente ter mais prazer à mão. Mas temos as pessoas que lêm para obter conhecimentos. E não poderemos deixar de dizer que também essa categoria se encontra com o prazer da leitura. Às vezes é mais compensador e mais sensacional descobrir coisas, que não sabíamos, pelas trilhas da leitura do que ler uma reportagem de vida sexual onde a temática já é esperada. A aventura da notícia no jornal ou na revista é interessante. Mas a aventura do pensamento pode ser uma delícia também e mais interessante ainda. E até o profissional da leitura, o professor ou o técnico, em seus encontros com o desenvolvimento do conhecimento podem ter as surpresas mais agradáveis ao sentirem que estão descobrindo, crescendo e aumentando sua bagagem de conhecimento.
Texto é toda a escrita de nível artístico, ou não, recheado de conteúdos capazes de desafiar a curiosidade do saber. Segundo Barthes, 'texto do prazer seria aquele que enche, satisfaz, contenta e dá euforia'. É um texto que se radica na subjetividade do leitor. Entre juízos sociais de valor e preferências de sentido, o livro será bom ou mau. O leitor caminha como caminha por entre a floresta, onde a sombra é boa enquanto o transeunte a procura para fugir do sol e é ruim quando o transeunte foge dela saturado, procurando o sol. Há livros que nascem em nossa cultura. Outros que vêm de outras culturas e nos transmitem dados e informações prazerosas. A capacidade que um leitor tem de atender a vários horizontes de dentro e de fora, tornam o leitor mais maduro em seus juízos de valor. Todo o prazer do texto está nessa vontade de ter um espaço da linguagem onde uma pessoa se encontra apenas com os signos e pode desenvolvê-los navegando em seu imaginário e enriquecendo os dados que lhe são apresentados. O texto é sempre muito mais do que unm diálogo simples. Ele é uma polifonia. Várias vozes, vários sentidos, vários caminhos e viagens múltiplas podemos fazer pelos espaços infinitos da fantasia e da imaginação...O leitor é rei em sua intimidade e em seu prazer...Única testemunha de seus roteiros... 'O meu prazer pode tomar a forma de uma excursão', diz Roland Barthes. E o melhor da excursão é quando eu formalmente integrado no todo consigo libertar-me do todo, sem me deixar arrastar, curtindo minhas seduções, minhas visões, minhas experiências... O texto é meu barco de navegação...no social, no indiidual, no inenarrável fantasmagórico, com todos os roteiros de avebntura e de prazer.
Na expressão de Barthes, tanto existe o prazer do texto como o texto do prazer...Duas expressões reversíveis mas ambíguas. Na prática, acho que deverá ser o leitor qu buscará o sentido delas. Ao falarmos de prazer podemos trabalhar com dois elementos que o constituem : o contamento e a fruição. Tem prazer quem sente o contentamento íntimo e quem goza ou frui. Mas quem goza ou frui entra num estado de sensação liminar, de sensação progressiva, de clímax, de sensação globalizante e às vezes, na fruição dos sentidos, de auto-desvanecimento, ou como diria, Barthes, de desfalecimento.

O PRAZER DO TEXTO COMO OBJETIVO DA LEITURA E COMO PASSAGEM PELA LEITURA

Não seria nada interessante uma viagem pelo texto sem emoção. Toda a aventura deve ser pura emoção. As emoções de ecoturismo, de uma expedição à floresta e aos cumes das grandes montanhas, deve ter como objetivo a busca de emoções fortes. A moleza, a falta de interesse e de propósitos desvinculam essencialmente uma pessoa de seu livro. Um eu interessado na leitura revive a história de um amor. Previamente deverá haver o jogo da sedução e depois a vivência forte, a emoção, o contentamento, o prazer e a fruição. Não existe leitura quando um ser humano, sensível e inteligente quer apenas se relacionar com um bloco encadernado de folhas de papel. O livro e o texto devem ser descobertos como objeto de desejo...Acarinhados, envolvidos em jogo de sedução...até ao clímax do jogo...Como no amor, o eu interessado deverá viajar, caminhar, jogar seu charme e só uma realidade pobre e desconcertante de um texto que nada tenha de chamativo pode desconstruir uma leitura que previamente tinha sido programada com amor... Também há decepções nos livros e nas leituras, como no amor...Leitura formal, sem prazer...Leitura desencantada...
Você escolhe seu amor? Escolha também seu livro...e sua forma de leitura...que lhe dê voltas na fantasia, que lhe traga conhecimento, que lhe cause prazer...É um linda aventura... Leia...Tenha prazer.


João Ferreira
Brasília, 18 de agosto de 2000


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