I
Desesperado pelo tanto que falhei,
Eu perfilhei, lá dos infernos, os caminhos,
Ferindo a alma, já não vendo os vis espinhos:
Cheio de dor e de rancor, ali fui rei.
Depois de anos, sem amor e sem carinhos,
Fui resgatado pela gente desta grei.
Peço perdão pela palavra, pois não sei
Se me embriago ao lhes narrar os desalinhos.
De qualquer modo, tenho jeito para o verso
E vou levando a minha rima até o fim,
Recomendando a cada irmão: — Prossiga imerso
Nessa atitude de evitar o que é ruim,
Que o resultado, quanto a mim, será diverso,
Quando chegar a sua vez de dizer “sim”.
II
Cada atitude em desalinho, nessa vida,
Vai resultar, aqui no etéreo, em desamor.
Assim, irmão, a hora é esta de compor
A melodia a ser cantada na saída.
O coração que se deleita no rancor
Não saberá como fechar a tal ferida
E vai pedir à consciência uma outra lida,
Seja medonha ou pesarosa quanto for.
Estar na Terra será sempre menos triste,
Que o sofrimento tem limites para a alma,
Mesmo que esteja a consciência dedo em riste.
Porém, não queira sobre o mal levar a palma,
Sem alterar o proceder, que a dor existe
Para nos pôr de sobreaviso, em paz e calma.
III
Ao retornar da nova vida para o etéreo,
Será bem triste estar de novo endividado:
A turma toda reunida: ele, de lado,
A escalavrar, sem entender, o tal mistério.
Não há de haver, nessa ocasião, nenhum enfado,
Que a vida ruge, ao despertar no cemitério,
E o pobre roga p ra que tenha um refrigério,
Mas a consciência chora e diz: — “Fique calado!”
Não queira, irmão, vir comprovar o que lhe digo.
Evite, pois, correr, na vida, esse perigo,
Fazendo o bem, com muito amor, a toda a gente.
A caridade mostra o rumo lá do Céu,
Como Kardec enfatizou, sem nenhum véu:
Então, oremos que Jesus seja presente.
IV
O desperdício sempre há de ser cobrado,
Não por Jesus mas pela dor que a alma sente.
Se bem obrarmos, vamos ter, eternamente,
A nossa turma mui feliz ao nosso lado.
Hão de dizer que neste verso a gente mente,
Que a tal doutrina o mais que esconde é vil pecado,
Pois não há prova de que o mote vem moldado
Pelos do etéreo, mas que o autor é o escrevente.
Este soneto é, simplesmente, um bom aviso:
Não é preciso dar-lhe tanta confiança.
O que pedimos é que tenha mais juízo
E que promova, para o bem, uma mudança,
P ra garantir chegar, um dia, ao Paraíso:
É com amor que nessa estrada a gente avança.
V
Se não gostaram do estribilho, mesmo assim,
Não percam tempo imaginando a melhor rima:
Vão integrando-se do bem no doce clima,
Para evitarem que o sabor fique ruim.
Quem sente amor o pobre verso logo estima,
A dar um crédito de luz também a mim,
Que estou chegando, mui contente, a um belo fim:
É com trabalho e com Jesus que a dor sublima.
Vamos rogar que nosso Pai nos abençoe,
Agasalhando em seu regaço a toda a gente,
Mesmo que a voz pela amplidão jamais ressoe.
Neste cantinho, espero dar, humildemente,
Só um exemplo de refrão, para que entoe
Quem tenha amor no coração e siga em frente.
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