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Ensaios-->O GRUPO, A REVISTA E O MOVIMENTO ESTÉTICO DE ORPHEU -- 25/10/2000 - 19:28 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
GRUPO, A REVISTA E O MOVIMENTO ESTÉTICO DE 'ORPHEU'


João Ferreira



O Grupo e a história de Orpheu


1. A história da revista e do grupo Orpheu já foi muitas vezes abordada pelos especialistas, com destaque para Maria Aliete Galhoz, Arnaldo Saraiva, José Augusto Seabra, Antônio Quadros, João Gaspar Simões e outros.
Pesquisadora especializada na documentação do modernisnmo português, Galhoz publicou estudos brilhantes reproduzidos como introduções a Orpheu 1 e Orpheu 2 nas edições e reedições de Orpheu levadas a cabo pelas Edições Ática de Lisboa. A tônica desses estudos é o destaque sobre o momento poético de Orpheu.

2. Para entendermos a inovação de Orpheu é mister acompanhar o interesse, a inquietação e a atividade literária e política do grupo de Orpheu e fazer o acompanhamento da história da formação do grupo desde o ano de 1912. A partir deste ano, vários jovens passaram a manifestar curiosidade e inquietação literária e a se encontrar nos cafés da Baixa de Lisboa, para discutir idéias e conversar sobre arte, literatura e teatro e sobre projectos pessoais. Mário de Sá-Carneiro reunia, por vezes, em sua casa, alguns dos amigos mais próximos, aos quais lia páginas de sua autoria. Aproxima-se de Fernando Pessoa, e em pouco tempo passa a considerá-lo 'querido amigo', 'artista', 'alto espírito' e 'pensador', segundo sabemos pela dedicatória que lhe faz no exemplar que lhe oferece do livro 'Princípio'. A partir daí ficará selada entre os dois uma amizade fiel e quase predestinada. Pessoa tem então vinte e quatro anos.
Mário de Sá Carneiro via representada em Lisboa, em 23 de março de 1912, a peça 'Amizade' que escreveu de parceria com Tomaz Cabreira. Em maio desse ano, 'Amizade' é publicada por Arnaldo Bordalo. Ainda neste ano de 1912, Sá-Carneiro faz uma edição particular do livro de novelas 'Princípio'. Em agosto de 1912, o jornal 'O Século' traz uma nota sobre o livro.Em 13 de outubro de 1912 partiu para Paris matriculando-se na Faculdade de Direito da Sorbonne sob o número 1250.Instala-se no Grand Hotel du Globe, 50, rue des Écoles. Em junho de 1913 Sá-Carneiro regressa a Lisboa e retoma o convívio com os companheiros, sobretudo com Fernando Pessoa. Trabalha em algumas novelas e na narrativa 'A confissão de Lúcio', que termina em setembro desse ano e na poesia 'Dispersão', livros que ficaram nas mãos da imprensa a partir de dezembro de 1913. De janeiro a maio de 1914 continua em Lisboa. Vai novamente para Paris e no final da segunda metade desse ano, por causa da guerra e também por sua insegurança psiquica resolve regressar definitivamente a Lisboa, onde vai continuar a compor seus poemas e sua prosa de ficção. Luis da Silva Ramos ou Luís de Montalvor, embarcou para o Brasil para secretário do embaixador Bernardino Machado. Alguns jovens vieram juntar-se à roda de Henrique Rosa, Mário Beirão, Alfredo Pedro Guisado, Ponce de Leon. Foram eles o poeta açoriano Armando Cortes Rodrigues, António Ferro e Raul Leal.
Com a publicação de 'Princípios' de Sá-Carneiro e da Liberdade transcendente de Raul Leal, a nascente geração de Orpheu começa a ganhar terreno para fincar os pés na Literatura. Começa por este tempo a liderança literária de Fernando Pessoa. Um certo esfriamento em relação aos mentores do Saudosismo representados por Álvaro Pinto e Pascoaes é verificado nesta época.. Na revista 'Teatro' (1 de março de 1913)- revista de crítica publicada em Lisboa, Fernando Pessoa, critica duramente a obra 'Bartolomeu Marinheiro' de Afonso Lopes Vieira, que pertencia à Renascença Portuguesa. E vai prosseguindo em sua crítica tentando atingir com ironia alguns dos principais mentores da vida intelectual portuguesa, como, por exemplo, Adolfo Coelho e Júlio Dantas.
Em 20 de março de 1913, Almada Negreiros realiza na Escola Internacional, em Lisboa, sua Primeira Exposição Individual. Pessoa visita a Exposição e envia para a 'A Águia' o artigo 'As Caricaturas de Almada Negreiros', passando a admirar Almada pelo brilhantismo e pelo gênio. Desta forma, Almada entra na roda do grupo que se reunia ora na Brasileira do Chiado ora no Martinho ora na Brasileira do Rossio. Tinha Almada, então, dezoito anos... Em março de 1913, Pessoa escreve a poesia 'Pauis', publicada em 1914 na revista 'Renascença', em Lisboa. É esse poema que irá inaugurar um novo movimento estétivo que Pessoa chamará de paulismo. Em junho desse ano Pessoa publica em 'A Águia', 'Na Floresta do Alheamento'. Em outubro de 1913 ainda, escreve o drama estático 'O Marinheiro' que será publicado em 'Orpheu' em 1915..
Pouco a pouco, o grupo vai crescendo e se definindo, em forma de tertúlia animada e de convívio de café. Isto anima Fernando Pessoa e leva-o a escrever um diário entre fevereiro e abril de 1913, reproduzido em 'Páginas íntimas e de auto-interpretação', publicadas por Jacinto do Prado Coelho e Georg Rudof Lind em 1966, na Ática de Lisboa. Nesse diário registra sua deambulação pelos cafés da Brasileira, seus encontros com António Ferro, Rui Coelho, Boavida Portugal, Vitoriano Braga, Henrique Rosa,, Anahory, António Arroio, Cunha Dias, Jorge Barradas, Almada Negreiros, Cortes Rodrigues, João Correia de Oliveira, Ilídio Perfeito, Antonio Cobeira, D. Tomás de Almeida, Albino de Meneses. Mário de Sá-Carneiro reside em Paris, onde estão ativas as idéias vanguardistas de Apollinaire, de Picasso, de Jacobi. É intenso o carteio entre ele e Fernando Pessoa. O grupo vai crescendo, se estruturando e se definindo.Em março de 1914, Fernando Pessoa cria o heterônimo Alberto Caeiro. Surgem, por este tempo, os poemas assinados por Álvaro de Campos: A Ode Triunfal e Opiário. Em Junho de 1914 sai a primeira poesia de Ricardo Reis. Neste mesmo ano, Guilherme Santa Rita Pintor anuncia que regressará a Lisboa para realizar sua obra e se 'impor socialmente' trazendo consigo autorização de Marinetti para publicar os seus manifestos futuristas. O grupo de que vai nascer Orpheu encontra-se em outubro de 1914 na Cervejaria Jansen, à Rua Vítor Cordon.
Em Janeiro de 1915, Pessoa escreve em inglês o poema 'Antinous' e em 20 de Fevereiro parece ter entrado no prelo o primeiro número de Orpheu. Com a publicação de 'Impressões do Crepúsculo' e 'Pauis', uma nova fase estética se inicia: o paulismo, em que se envolveram Fernando Pessoa e Sá-Carneiro, em desafio aberto aos representantes da literatura conservadora e contra os 'lepidópteros burgueses', uma forma satírica de reduzir a burguesia, em suas várias expressões, à dimensão de desprezíveis insetos...

A revista 'Orpheu'


1. No dia 26 de março de 1915, cerca das 19 horas, segundo dados oferecidos pelo horóscopo de Pessoa, foi vendido em Lisboa o primeiro exemplar da revista Orpheu, cujo estoque de vendas se esgotou em três semanas.
Em junho de 1915 sairia o segundo número. Apesar do sucesso retumbante da revista, o projeto deu prejuízo financeiro. Houve por isso problemas para prosseguir. Mas tanto Fernando Pessoa quanto Sá-Carneiro não deixaram de pensar em publicar mais números. Em carta de 16 de setembro de 1916, Pessoa anunciava a seu amigo Armando Cortes-Rodrigues que a saída de Orpheu 3 estava para breve. Mas esse 'para breve' ainda se prolongou. Numa outra carta de Pessoa para José Pacheco, publicada na Colóquio-Artes, 2ª série, n. 35, dezembro de 1977, e datada de 11 de julho de 1917, vê-se que o número estava praticamente fechado, 'a composição já estava praticamente distribuída' e os responsáveis já combinavam exemplares especiais de 'A Scena do Ódio' de Almada e falavam de detalhes de páginas de resguardo e tiragem. À espera de recursos, e diante de outros problemas conhecidos talvez apenas por Fernando Pessoa, o número, apesar de totalmente pronto, nunca chegou a sair oficialmente. Circula hoje graças aos borrões existentes e republicados agora. Os textos desse projetado número são conhecidos graças à colaboração dos poetas Alberto de Serpa e Adolfo Casais Monteiro e aos esforços de vários críticos e intelectuais e também das Edições Ática de Lisboa que os publicaram com uma nota crítica de prelúdio assinada por Arnaldo Saraiva.
Em seu livro 'Fernando Pessoa. Le retour des dieux', o ilustre acadêmico da Universidade do Porto, José Augusto Seabra traça com competência crítica o aparecimento deste veículo de informação, Orpheu. Diz o escritor: 'Na quietude da vida cultural portuguesa, em cuja imagem de uma sociedade adormecida existiam vestígios de uma crise, o escândalo sobreveio. Tratava-se nada mais nada menos de um pequeno grupo de poetas e de artistas quase desconhecidos. 'Doidos lúcidos' , 'Literatura de asilo psiquiátrico', 'os poetas de Orpheu e os alienistas', 'Orpheu' nos infernos..' foram alguns dos epítetos utilizados pela imprensa para saudar o aparecimento da revista saídos dos meios oficiais bem-pensantes, republicanos e monárquicos.

A origem mitológica da designação de 'Orpheu'

Orfeu é um personagem mítico e mitológico da Antiguidade grega. Aparece com vários rostos e com vários perfis na história e na lenda. Acima de tudo, porém, Orfeu é conhecido como o músico por excelência. Tocando lira e cítara,segundo a lenda, ele conseguia aplacar tempestades, encantar as plantas e os animais, os homens e os deuses. Segundo os mitógrafos, graças à magia da música, ele conseguiu obter dos deuses infernais, a liberação de sua mulher Eurídice que havia morrido devido a uma mordedura de serpente. De acordo com a lenda, uma condição tinha sido colocada pelos deuses que consentiram em liberar Eurídice dos Infernos: ele só poderia olhá-la depois que chegasse à luz natural do sol. Na viagem para a terra, assediado pela dúvida, Orfeu voltou-se para trás, para verificar se Eurídice o estava acompanhando. Neste instante, Eurídice desaparece para sempre.
Começa a grande tribulação de Orfeu. Inconsolável, Orfeu termina seus dias 'ferido' pelas mulheres da Trácia de quem recusou o amor. Ainda segundo a história mítica, ele teria fundado os mistérios de Elêusis, inspirando certos autores cristãos dos primeiros séculos que viram em Orpheu o vencedor das forças brutais da natureza, representadas em Dionisos, de maneira semelhante à forma como Jesus venceu Satanás. Destaca-se ainda que seu nome e sua figura mítica deram origem a uma abundante e rica literatura esotérica.
Na lenda, Orfeu aparece também como sedutor, em todos os níveis. É o símbolo do lutador que não se deixa vencer pelo mal, sem ser capaz de o destruir. No plano superior, ele representa a busca de um ideal.. Mas não consegue escapar das contradições de suas próprias aspirações.em direção ao sublime e à banalidade. Ele é o homem que violou o interdito e a proibição e ousou olhar o invisível..
Ao escolherem Orpheu para símbolo do grupo, do movimento e da revista, os modernistas portugueses quiseram não apenas ter um patrono lírico na arte, mas um patrono que também é trágico, fragmentado, de múltiplas faces, um ser mitológico que desafiou o invisível e o além...

Os diretores de 'Orpheu'

O nome e o projeto da revista Orpheu foram concebidos no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, em Copacabana, pelos diplomatas Luís da Silva Ramos, o poeta Luis de Montalvor, português, e Ronald de Carvalho, brasileiro. É Montalvor quem leva o projeto para Portugal e propõe a seus companheiros a fundação de uma revista de cunho literário destinada à elite portuguesa e brasileira. Inicialmente havia portanto o projeto de uma revista luso-brasileira, qualidade que foi preservada na execução do primeiro número da revista.

Orpheu 1

Sai em 26 de março de 1915. Editado em Lisboa pela Typografia do Commercio, sita na rua da Oliveira, 10, ao Carmo, com o rótulo de ORPHEU. Revista trimestral de Literatura, o número I de Orpheu oferece-nos um frontespício rico de detalhes. Propriedade de: Orpheu Lda. Editor: António Ferro. Direcção. PORTUGAL: Luiz de Montalvôr - 17, Caminho do Forno do Tijolo-LISBOA. BRAZIL: Ronald de Carvalho - 104, rua Humaytá-RIO DE JANEIRO. ANO I -1915. Nº 1. Janeiro-Fevereiro-Março.SUMÁRIO: Luiz de Montalvôr: Introdução. Mario de Sá-Carneiro: Para os 'Indícios de Oiro'(Poemas). Ronald de Carvalho: Poemas. Fernando Pessoa: O Marinheiro (drama estático). Alfredo Pedro Guisado. Treze sonetos. José de Almada Negreiros: Frizos (prosas). Côrtes-Rodrigues: Poemas. Álvaro de Campos: Opiário e Ode Triunfal.
Capa desenhada por José Pacheco.
Officinas: Tipografia do Comércio - 10, rua da Oliveira, ao Carmo. LISBOA.

Orpheu 2

O número dois de 'Orpheu' muda completamente. Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro tomam a direção e sua orientação de vanguarda modernista se consolida. O frontespício ilustra toda a mudança. 'ORPHEU'. Revista trimestral de Literatura. Propriedade de : Orpheu Lda. Editor: Antonio Ferro. Directores: Fernando Pessôa. Mário de Sá-Carneiro. Ano I- 1915. Nº 2. Abril-maio-junho. Sumario. Angelo de Lima. Mário de Sá-Carneiro: Poemas sem suporte. Eduardo Guimaraens: Poemas. Raul Leal: Atelier(Novela vertígica). Violante de Cisneiros(?): Poemas.Alvaro de Campos: Ode Maritima. Luis de Montalvor: Narciso(poema). Fernando Pessôa: Chuva oblíqua (poemas interseccionistas). Colaboração especial do futurista Santa Rita Pintor (4 hors-texte duplo)
Redacção: 190, rua do Ouro -Livraria Brazileira. Oficinas: Tipografia do Comércio, 10, rua da Oliveira, ao Carmo - Telefone 2724. LISBOA.

Orpheu 3

Publicação posterior levada a cabo pelas Edições Ática de Lisboa, com preparação do texto, introdução e cronologia de Arnaldo Saraiva. A história do achamento, organização e publicação de Orpheu 3 tem fases interessantes. Começa na década de 40, quando o poeta Alberto de Serpa encontrou num alfarrabista do Porto, no interior de 'Dispersão' de Sá-Carneiro, três cadernos com textos impressos de Orpheu 3. Em 1951, João Gaspar Simões já assinala a existência de Orpheu 3. Em 1953 Adolfo Casais Monteiro, Maria Aliete Galhoz apresentam novos textos de Orpheu 3 e em 1976 Alberto de Serpa dispõe-se a facultar para publicação os cadernos de Orpheu 3, oferecendo à Biblioteca Municipal do Porto uma fotocópia dos cadernos para conheimento dos interessados. Em 1984, a revista 'Nova Renascença' do Porto lançam a edição fac-similada dos cadernos de Orpheu 3 que estão na poesse de Albeertro de Serpa. Nesse mesmo ano, as Edições Ática publicam o texto de Orpheu 3 com capa de João Machado e apresentação de Arnaldo Saraiva.
Conteúdo de Oropheu 3. Introduzido por rica iontrodução de Arnaldo Saraiva, o volume de Orpheu três apresenta o seguinte recheio: Poemas de Paris, de Mário de Sá-Carneiro. Após o Rapto- composição de Albino Menezes. Gládio e Além-Deus. Poemas de Fernando Pessoa,. Por esse Crepúsculo a Morte de um Fauno: de Augusto Ferreira Gomes. A Scena do Odio: de José Almada Negreiros. Olhos: por Thomaz de Almeida. Para além Doutro Oceano. Notas: de C. Pacheco.
Névoa. Composição: de Castello de Moraes.
Cronologicamente, as composições vão de 1915 (Sá-Carneiro, José de Almada Negreiros, D. Thomaz de Almeida), 1916 (Augusto Ferreira Gomes) a 1917(Castello de Moraes).
Os colaboradores de Orpheu

Pela autoria dos textos apresentados, temos a lista completa dos colaboradores de Orpheu: Alfredo Pedro Guisado, Álvaro de Campos, Ângelo de Lima, Augusto Ferreira Gomes, C. Pacheco, Castello de Moraes, Cortes Rodrigues, Dom Thomaz de Almeida, Eduardo Guimaraens(brasileiro), Fernando Pessoa, José de Almada Negreiros, Luis de Montavor, Mário de Sá-Carneiro, Raul Leal, Ronald de Carvalho(brasileiro), Violante de Cisneiros. Estes são literalmente os colaboradores de Orpheu-1, Orpheu-2 e Orpheu-3.

Convite de colaboração a Camilo Pessanha no nº 3

Em 'Obras em Prosa' de Fernando Pessoa encontramos uma carta-convite do autor de Mensagem a Camilo Pessanha, que então vivia em Macau, para colaborar em Orpheu 3: 'Há anos que os poemas de V. Excia são muito conhecidos e invariavelmente admirados por toda Lisboa. É de lamentar que eles não estejam pelo menos em parte publicados[...] Sou um dos directores da revista trimestral de literatura Orpheu. Não sei se V. Excia a conhece[...] O meu pedido é que V. Exª permitisse a inserção em lugar de honra do terceiro número de alguns dos seus admiráveis poemas'[...], diz Fernando Pessoa a Camilo Pessanha...'A nossa revista acolhe tudo quanto representa arte avançada': assim é que temos publicado poemas e prosas que são do ultra-simbolismo até ao futurismo. Provavelmente datada de 1915 esta carta e conhecido o conteúdo da póstuma publicação desse número 3, verificamos que o projeto de publicação de poemas de Camilo Pessanha terminou por não ser levado avante.

Objetivos estéticos da revista Orpheu

A alma da revista foi a existência de um grupo. O grupo representa o espirito de uma geração criativa . Esta geração transmitiu-nos um perfil. 'Orpheu é a soma e a síntese de todos os movimentos modernos', dirá Álvaro de Campos na Introdução de Orpheu 1. Luis de Montalvor chama a atenção para a especificidade da revista, que tem propósitos estéticos próprios (Orpheu 'vincula o direito de se desassemelhar de outros meios, maneiras de formas de realizar a arte.
[...] Puras e raras suas intenções como seu destino de Beleza é o do : Exílio! Bem propriamente, Orpheu é um exilio de temperamentos de arte que a querem como a um segredo ou tormento. Nossa pretensão é formar, em grupo ou ideia, um número escolhido de revelações em pensamento ou arte, que sobre este princípuio aristocrático tenham em Orpheu o seu ideal esotérico e bem nosso de nos sentirmos e conhecermo-nos'. Continuando, Montalvor mostra que o 'texto preocupado' de Orpheu vai ser diferente da revista comum. Ela nutre um ideal estético próprio, de 'vida e palpitação', com textos seletos, raros, de beleza interior, sonhadores, elevados, no rumo do 'bom gosto e de refinados propósitos em arte', da arte literária em especial.



BIBLIOGRAFIA BÁSICA INDISPENSÁVEL PARA COMPREENDER E AMPLIAR ESTE TEXTO

ALMADA NEGREIROS, José de. Orfeu. 1915-1965. Lisboa: Ática, 1993.
CABRAL, Maria Manuela. A geração de Orpheu. Porto: Porto Editora, 1978.
COELHO, Jacinto do Prado. 'Orpheu'. In: Dicionário de Literatura. Volume III. Porto: Livraria Figueirinhas, 1991, pp.773-774..
COSTA, Dalila Pereira da. Orpheu. Portugal e o homem do futuro. Porto 1978. 16 pp.
GALHOZ, Maria Aliete. 'O Momento Poético de Orpheu'. In: Orpheu. Volume I. . 2@ reedição.Lisboa: Edições Ática, pp. VII-LI
_______'Para uma Diversidade na História de Orpheu[1975]. In Orpheu 2. 3@ reedição. Lisboa: Edições Ática, s.d., pp. VII-LXVIII.
JÚDICE, Nuno. A Era do 'Orpheu'. Lisboa: Editorial Teorema(Colecção Terra Nostra), 1986.
MORNA, Fátima Freitas. A Poesia de Orpheu. Lisboa: Editorial Comunicação, 1982
PESSOA, Fernando. Obras em Prosa. Volume único. Rio de Janeiro: Editora Aguilar, 1986.
REVISTA 'ORPHEU'. Reedição . Lisboa:Edições Ática. Volumes I,II e III.
SARAIVA, Arnaldo. 'Introdução à Leitura de Orpheu 3'. In: Orpheu 3. Lisboa: Edições Ática, 1984, pp.I-XLIV.
SEABRA, José Augusto. Fernando Pessoa. Le retour des dieux. Manifestes du modernismo portugais. Paris: Éditions Champ Libre, 1973
_________ 'Tempo e texto de Orpheu'. In: Mitografias Poéticas. Porto: Lello n& Irmão Editores, 1994, pp. 265-283
SENA, Jorge de Sena. 'Almada Negreiros Poeta'. In: Almada Negreiros. Obras Completas. Vol. I. 2@ edição. Lisboa: Imprensa Ncional-Casa da Moeda, 1990, pp.9-33.
SIMÕES, João Gaspar.Vida e obra de Fernando Pessoa. História de uma Geração. 3@ edição.Lisboa: Bertrand Editora, 1973.
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