Clic"ali,oh:=>>>A presença num átimo
"A presença é a chave,
compreendo mentalmente,
mas não sei, por mais que cave,
se já estive presente.
Imagino o que seja.
É do jeito que eu penso?
Talvez diferente seja...
Será que estou propenso?"
— Não é o que você pensa.
A mente não a entende,
não pense sobre presença.
Só está quem compreende.
Faça um teste rasteiro!
Feche os olhos e diga:
"Meu pensamento primeiro,
que virá, já me intriga."
Agora, fique alerta,
e aguarde seu pensar,
como rato que desperta,
espera gato passar.
...
...
...
Então, que aconteceu?
— Muito tempo esperei,
e só um apareceu,
parece que demorei.
— É isso aí, garoto.
Em estado de presença,
contra esse novo broto
vem energia intensa.
Fica livre do pensar
quem, quieto e alerta,
assim puder se postar,
como rato que desperta.
Quando a um certo nível
abaixa a consciência,
fica quase impossível
ocorrer resiliência;
surgem novos pensamentos,
volta todo o zumbido,
vêm estremecimentos,
volta o tempo doído.
Bordoada de surpresa
leva quem está absorto,
quem já está sem defesa,
mergulhado no seu horto.
Para ficarmos presentes
no dia-a-dia, dentro
de nós, e bem conscientes,
plantamos raiz no centro.
Do contrário, nossa mente,
que tem incrível impulso,
surge toda saliente,
e perdemos nosso pulso.
Tome seu pulso, agora,
sinta a sua batida;
achar, algum tempo demora,
a presença garantida.
Enraizar-se por dentro
é ocupar totalmente
o corpo, sentir o centro
energético bem rente.
Ter do corpo consciência
nos dá base, condição,
pra haver resiliência,
e sairmos da paixão.
Estar à-toa e ativo,
esotérica espera,
é o que lhe deixa vivo;
a atenção reverbera.
É a prontidão total.
Algo pode ocorrer,
é um momento legal,
que não podemos perder.
A inteira atenção
ao Agora aplicada,
sem lugar para paixão,
não antecipa mais nada;
não dá brecha pra lembranças,
pensamentos, fantasia,
medo e amiudanças,
que tolhem a estesia.
Neste estado, "você",
o que já foi e será,
pode desaparecer,
e no Agora estar.
No Agora, você é
muito mais do que você,
não ficará mais sem fé,
e vai tudo perceber.
Esteja como um servo
esperando pela volta
do senhor, cujo acervo
você vigia, escolta.
O servo não pode saber
quando vem o seu senhor.
Por isso, deve manter
a atenção com fervor,
aprumado e sereno,
pra não perder a chegada
do senhor, que chega pleno,
de repente, sem mais nada.
Jesus diz que, descuidadas,
cinco não tinham azeite;
inconscientes, coitadas,
não tiveram o aceite
da luz pra serem medradas.
A transcendência da mente,
uma nova consciência,
vem a partir do presente,
sem nenhuma advertência.
Por um instante vazia,
a mente cede lugar
ao que é de mais valia
em tudo a contemplar.
Se você já foi pescar,
já teve este momento:
a natureza notar,
sentir a força do vento,
o peixe n"água pular,
uma estrela cair,
um satélite passar,
e um cachorro latir,
o canto dos passarinhos,
o vôo delta das aves,
os mergulhos dos patinhos,
outros sons multisuaves;
e o espaço sem fim,
em noite de lua-cheia,
perfumado por benjuim,
tão vasto, que nos permeia.
Pra perceber tudo isso,
você ficou no sereno,
tomou sol, sem compromisso,
esqueceu do seu veneno,
do tempo, que foi e será,
e dos seus conhecimentos,
dos problemas que terá
ou tem em seus pensamentos.
Despojado disso tudo,
com sua mente serena,
você deve ficar mudo
pra ter a presença plena.
Existe a indizível,
uma profunda essência,
onde há beleza crível,
sem a menor referência,
mas interna e sagrada,
que se revela somente
quando está emparelhada
com o fulgor do presente.
É possível tal essência,
que se esconde no belo,
ter alguma parecença
com o presente singelo?
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