Jesus, quando queria ouvir conselhos,
Não precisava pôr-se de joelhos:
Bastava concentrar-se, mesmo em pé.
Os pares seus, mentores do Universo,
A conversar com ele, em prosa e verso,
Incrementavam-lhe a esperança e a fé.
Mas que diziam lá, de altas esferas,
Que não soasse como vãs quimeras,
Para um espírito de força e luz?
Falavam de um porvir esplendoroso,
Do paraíso, do sublime gozo,
E da necessidade até da cruz.
Jesus sabia, sim, que o ser humano
Iria desprezá-lo, por engano,
Tendo a matéria a lhe servir de exemplo,
Pois tudo se desfaz em água ou pó,
E o que provoca dor ou gera dó
Explicava a Torá, ali no templo.
Um novo sentimento de bondade
Dificilmente a alma logo invade,
Se o clima da riqueza se adultera.
A tempestade até que é bem-vinda
Para arrasar os males, quando ainda
O coração humano é besta-fera.
Adão se vê expulso lá do Éden.
José vai para o Egito, pois não cedem
Os seus irmãos a parte que lhe cabe.
E o povo hebreu acaba escravizado,
Lembrando que o dilúvio foi mandado
Para punir o povo, e tudo acabe.
Depois, é com Moisés, lá no deserto,
Que o sofrimento impera muito perto
De destruir a raça por inteiro.
Quarenta anos de perversidade,
A ver se Deus ao bem se persuade,
Oferecendo boi, galo e carneiro.
E o povo nômade se faz descrente:
O velho deus caduca e a tribo sente
Que a dor jamais iria terminar.
Aí, dourado fazem um bezerro,
Para pedir o fim de seu desterro,
Que lhe cedesse terra para o lar.
Ao pressentir a perda da esperança,
Moisés a Deus um rogo se abalança
E codifica as leis nas Escrituras.
Assim Jesus se alegra, mas, de novo,
Em guerras e matanças o mau povo
Se perde, no fragor de simples juras.
Sodoma e mais Gomorra se incendeiam.
Os castigos na história se permeiam,
Acostumando a gente à força bruta.
Quando Jesus chegou, manso e cordato,
Só vendo o clero nele espalhafato,
Sabia de antemão qual era a luta.
Um dia, teve medo o nosso Mestre
De se envolver no mal, que o ser terrestre
Iria pôr de lado a sã doutrina,
E prometeu o Espírito-Verdade,
Para trazer de lema a caridade,
Quando voltasse a crise que malsina.
Jerusalém também foi destruída,
Posto o bom evangelho desse vida
A quem levasse o Cristo dentro d’alma.
E quando a sua Igreja se desfez,
Em tremenda inquietude e sordidez,
O Espiritismo veio trazer calma.
Século e meio após a boa nova,
Que a cada dia o Mestre nos comprova,
Com mensageiros de ordem superior,
Ficou mais fácil de saber que a lei
É sempre aquela de estimar a grei,
Como a si mesmo, e ao Pai, com mais amor.
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