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Ensaios-->2. UM TAPA NA MÃO -- 29/05/2002 - 06:18 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

— Não mexa aí, filhinho!

E, lapt!, lá vinha vigoroso tapa na mão, a reforçar a solicitação.

— Não ponha a mão no fogo!

E, lapt!, lá vinha a forte pancada, para que se evitasse o mal maior.

Era assim que minha doce mãezinha me fazia crer que estava arriscando-me ou pondo em perigo algum pertence valioso. E eu ia chorar num canto, lamentando a dor e sentindo o castigo como injusto, aborrecido com a rispidez do tratamento. Não sabia exatamente o que ocorria, pois não tinha a noção desenvolvida do valor dos objetos ou do poder do fogo.

Era assim que ia aprendendo a viver, desfiando toda a série de pequenas injúrias que conhecia contra aquela que via como representante da dor e do sofrimento.

Minha mãe, porém, não me proporcionava tão-só momentos de transtorno moral. Muitas vezes, carregava-me no colo, dava-me guloseimas, ensinava-me coisas. Era boa para mim e eu gostava muito dela.

Mas as crianças crescem e os adultos envelhecem. Novos interesses chamaram a minha atenção e minha adorada mãezinha foi levada para outros quefazeres, no plano da espiritualidade. Vi-me só, certo dia, ausente e presente para a vida; ausente, porque não tinha a quem destinar os meus votos de trabalho e solidariedade; presente, porque fortemente atado à desesperação da impotência de sobreviver. Pensei em suicídio, mas a alternativa não me acendeu desejo algum. Parecia-me que forte tapa na mão iria obstar, à última hora, qualquer tentativa naquele sentido. Doce e amargo aprendizado! Quanto lhe agradeço, mãe, a atenção, mesmo ao risco de ser mal interpretada!

Este pequeno extravasamento sentimental levou-me a ponderar a respeito do crescimento das relações espirituais entre os encarnados e desencarnados, em como o espiritismo se deixou envolver pela má interpretação dos que se viram desalojados dos pedestais de sabedoria e poder.

Hoje em dia, a prática mediúnica se dá em muitas salas, mas a grande conquista pleiteada pelos pioneiros era tornar cada lar santuário de vivo intercâmbio entre os planos, fazendo de cada pessoa um mediador, para que, através das evocações, os encarnados pudessem reger seu destino pelas palavras de prudência e de avisado conhecimento dos protetores da espiritualidade.

Amigos, não titubeiem em dar o providencial tapa na mão dos que desconheçam os efeitos deletérios do tratamento abusivo com as hostes poderosas da malignidade; mas não impeçam jamais que se desenvolva a mediunidade nos lares solidamente fundeados através da âncora do amor e da compreensão, para que haja a possibilidade de consulta aos mentores e orientadores. Vamos volver a essa aspiração dos pródromos do Espiritismo, segundo a codificação kardequiana, e harmonizemos as atividades nos centros espíritas, fazendo crescer o relacionamento com os guias familiares.

Não lhes estamos solicitando que se deixem levar por estapafúrdias manifestações de entidades desejosas de vê-los desacreditar da benignidade do Senhor e da capacidade de se contatarem espíritos benfazejos e solícitos. Ao contrário, estamos incentivando-os a que se doem a lídimo trabalho socorrista, destinando semanalmente algumas horas à desobsessão e à doutrinação. Mas é preciso que se estimulem também às palavras de incentivo, de exortação e de consolo que só os que nos são caros nos podem propiciar.

Então, um dia, minha mãe se manifestou no centro em que era eu médium psicofônico e, através de minha voz, veio pedir-me perdão por me ter tantas vezes castigado a curiosidade ou a teimosia. Naquela noite, as lágrimas sufocaram-me a voz e não pude conter o desejo de, ainda uma vez, sentar-me ao seu colo para ouvi-la contar as belas histórias de fadas e de cavaleiros. Estranhei muito que viesse desculpar-se, por algo que jazia no fundo de minha memória, mas explicou-me que era para lembrar-me da necessidade de me policiar mais, pois a tristeza estava possibilitando que certas entidades malfazejas estivessem a assediar-me, pondo em perigo minha integridade moral. Como estava crescido e bem compreendia as explicações, o pedido de perdão só significava que ela mesma se via na necessidade de se aplicar um tapa, para despertá-la para a necessidade de mais vezes considerar-me adulto e sério, em condições de enfrentar, com denodo, a vida. Era como que a despedida da protetora, que volvia para mim mas a distância, respeitando-me a personalidade, com o fito de fazer-me, finalmente, crescer para o reconhecimento da verdadeira estrada a ser palmilhada.

Muito lhe agradeci mais esse ensinamento e pus-me a meditar detidamente a respeito do isolamento em que me encontrava. Como resultado das cogitações, interessei-me em fundar uma família e, definitivamente, enterrei a tendência ao masoquismo e ao deplorável negativismo que me determinava futuro sem esperança, através do engrandecimento do passado. Foi como se tivesse tocado em fio desencapado e recebesse forte descarga elétrica.

Minha doce e amada mãe, quanto lhe devo!

Ainda sinto na pele o suave roçar de seus dedos, afagando-me como se fora o príncipe encantado de sua vida. Cedo perdi meu pai e dele bem pouco recebi, em qualquer circunstância. Parece-me apagada figura das recordações infantis, posto que o tenha a meu lado constantemente nas lides do socorrismo espiritual. No entanto, nossos laços de amor não se apertaram, permanecendo o relacionamento frio, como se o meu nascimento tivesse sido fruto de tratativas para se desfazerem débitos antigos.

Com relação à minha mãe, não. Ela está sempre comigo, agora que podemos partilhar a existência em igualdade de situações. Não saio ao serviço sem que a ouça primeiro e sem lhe pedir os conselhos. Sei que um dia deverei conseguir abrir as asas e percorrer os espaços às custas de meu destemor e ousadia. Agora, entretanto, rendo-lhe homenagens, pelo muito de conhecimento que me tem oferecido.

Muito obrigado, mãezinha do coração!



Desejava afastar-me desta mesa, mas fui impedido pelos amigos que para cá me conduziram. Estou perplexo e não sei como expressar minha admiração pela sua insólita determinação.

Terei falhado em algum aspecto doutrinário? Terei deixado algum conselho contrário às teses espíritas? Terei demonstrado falta de comiseração e respeito por alguém? Terei sido injusto, precipitado ou presunçoso e egoísta? Terei sido falsamente humilde ou simplesmente terei procedido a alguma descortesia?

Dizem-me para ser mais objetivo na circunscrição dos problemas que me afetam, pois muito do que disse pode levar a suspeitar de que houve mera fantasia a disfarçar os reais problemas.

Pois lhes asseguro que procurei ser bem sincero. O que não fiz foi programar a dissertação, de modo que tudo parece ter ficado como verdadeira colcha de retalhos, nada havendo que se possa considerar aproveitável para publicação, a não ser meu próprio caso, como depoimento a servir na exemplificação de algum tópico de interesse espírita.

No mais, sinto-me perdido diante das restrições que me foram feitas. Claro está que não transformei este momento de análise em perfeito exame de consciência, pois não desejava expor totalmente a minha fragilidade. Aliás, se quiserem que faça outro tipo de declarações íntimas, estou pronto a favorecer o apanhado do ditado, mas suplico-lhes que não seja pressionado a discorrer com tanta nitidez e poder de dominação intelectual. A escrita tornar-se-á entrecortada e as lembranças ficarão eivadas de reticências e de convulsivos tremores, pois o que mais fortemente me segura é o temor de que o arrependimento não esteja levando-me à perfeita compreensão dos desvios de conduta.

Louvo o escrevente, que está imprimindo caráter discursivo a meus estremecimentos, e peço-lhe para deixar bem claro que estou fremente e titubeante, agoniado mesmo diante da possibilidade de falir emocionalmente. Peço-lhe que deixe registrado que todo este linguajar, aparentemente fluente, vem indeciso e cheio de interrupções, de modo que o resultado final poderá demonstrar que houve seqüência lógica, mas, na verdade, o que está ocorrendo é que estou com muito medo de revelar-me inteiramente como realmente sou.



Mais apaziguado mas ainda fortemente levado pela emoção, quero deixar o meu agradecimento ao pessoal do grupo de que faço parte, por me ter premiado com sua atenção de desvelado carinho. Agradeço, sobremodo, o fato de me terem permitido ocultar os crimes, o que me reconforta, pois poderiam os amigos estabelecer paralelos indevidos com as próprias vivências na carne. Tudo o que posso dizer-lhes é que o relacionamento com minha mãe não foi a maravilha que intentei deixar expressa, havendo motivos para que se suspeitasse de que nossos entreveros, em outras encarnações, tenham sido cheios de ódio e de dor.

Sinto-me como se fora castrado, de repente, impotente para efetuar qualquer julgamento e, por isso, requeiro, se possível, me seja dado o conforto de retirar-me para mais plenamente poder submeter a minha personalidade à análise, sob este novo ponto de vista que me foi oferecido.

Gostaria de ouvir os amigos mentores nas apreciações e aconselhamentos.

Agradeço muito ao escrevente por vir até aqui sem hesitações, embora, reconheço-o, por várias vezes, intuitivamente, lhe tenha passado toda a minha insegurança, no desejo de vê-lo arrefecer de seu impulso, liberando me da forte pressão que senti ao postar-me ao seu lado.

Bom amigo, muito obrigado! Fique com Deus no recesso do lar!



Não desejo identificar-me nem adotar qualquer nome fictício. Digamos que seja um pobre sofredor com aspirações a melhorar.


Comentário

O amigo possui muitos recursos e muito tem trabalhado em prol do soerguimento moral dos necessitados. Há tempos, percorre a erraticidade, emprestando seu brilho intelectual às lides do socorrismo ativo. Entretanto, sistematicamente, vinha fugindo de tratar dos problemas pessoais, motivo por que lhe solicitamos que viesse dar seu depoimento, na intenção de fazê-lo desfazer-se de certos pesos que sentíamos angustiarem-no.

Pensamos ter cumprido com o dever da amizade, pois todos os do grupo se sentem devedores em relação a tudo que o bom amigo tem realizado por nós. Devíamos-lhe essa atenção.

Quanto ao amor que conseguimos imprimir ao ato de doutrinação, não nos foi difícil arregimentar, pois temos verdadeira afeição pelo companheiro. Que o amigo leitor se compenetre bem dessa necessidade, sempre que destinar o tempo ao atendimento daqueles que lhe vêm pedir ajuda.

No que respeita ao teor do texto, que seja levada à devida conta a verdade que foi exposta relativamente à necessidade de melhor se ouvirem os conselhos dos guias, parte que está um pouco “demodée” no espiritismo moderno, mais desejoso de encaminhar do que de receber encaminhamentos, como se tudo o que se contém na codificação também se situe no coração de cada um. Sentimos isso e, sendo assim, fazemos a exortação, no sentido de que sejam propiciados aos instrutores, melhores recursos para se manifestarem. É bom que haja receio de ser enganado, mas também é necessário que se avalie até que ponto esse “receio” não está sendo forjado por personalidades extremamente confiantes e excessivamente seguras de si.

Perdoe-nos, amigo, se o atrevimento, sob seu ponto de vista, ultrapassou os justos limites a que julga você deveriam restringir-se. Não se esqueça, porém, de que, às vezes, um bom tapa na mão pode significar suave advertência, diante dos perigos que nos rondam e de que não estamos conscientes.

Queiram relevar a falta de melhor estrutura desta comunicação, à vista das surpresas inerentes ao trabalho socorrista “ao vivo”, pedido este que, desde já, estendemos para todos os textos psicografados que teremos oportunidade de encaminhar.

Quem sabe haverá ensejo para manifestações dos orientadores, para a exposição técnica necessária dos subsídios teóricos das atividades. Aí, certamente, a mensagem merecerá melhores cuidados e atenções, de forma a se constituir em algo aproveitável.

Enquanto isso, rezemos pelo bem dos assistidos e solicitemos do Senhor forças para continuar trabalhando pelo bem da humanidade.

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