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Ensaios-->5. OS PENATES -- 01/06/2002 - 05:29 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Meus Amigos, não quero ser mais sábio que ninguém, mas existe no mundo muita ignorância. Apesar de ter cursado a universidade, sinto-me na condição dos mais infelizes. Sei que muitas palavras surgem sem que possa o médium suster-lhe a afluência, mas não se satisfaz o meu espírito com qualquer escrita. Não estou a fim de me revelar tal qual sou, porque não interessa a ninguém mais saber do meu passado.

Disse, no começo, “os penates”, para dar a ilusão de que iria fazer texto de referência aos superiores, àqueles amigos que prometeram velar por mim durante toda a vida. Mas não fui atendido, hipócritas e mentirosos. Por que me deixaram fazer tanta coisa errada, como se fosse criminoso qualquer? Sei o quanto devo ter prejudicado as pessoas, porque fiquei durante trinta e cinco anos sem possibilidade de contatar nenhum parente ou amigo.

Tenho dificuldade até de fazer este pequeno discurso, quando era dos mais preeminentes oradores dentre os companheiros de turma.

Estudei advocacia e fui brilhante na defesa de muitos que eram, esses sim, verdadeiros criminosos. Apunha a minha verborragia diante do juiz e não havia promotor de justiça capaz de derrubar-me os argumentos. Mas não fui capaz de levantar a minha defesa durante todo o tempo que estive nas trevas.

Gostaria de poder recordar as façanhas dos tribunais, mas, por mais que me esforce, não consigo senão dizer estas patranhas, sem condições de arquitetar qualquer discurso verossímil, em que a minha figura possa transparecer grande de alguma forma. As palavras que me vêm em chusma à mente não formam sentido e o amigo que escreve só aceita depositar no papel algo que considera lógico e plausível.

Pois vou ter de me contentar com tão pouco, eu, que tive a oportunidade de crescimento intelectual?! Mas que miserável condição, que não me oferece os recursos que estão presentes e latentes em minha cabeça!

Basta que diga o que fiz de mais errado para merecer tanto castigo, para conseguir reaver os tesouros do antigo linguajar?

Pois é bem pouco. Devo dizer a verdade? Como é que perceberam que ia inventar história mentirosa, falsa? Pelas vibrações que emito em forma de tendência a esta ou aquela emoção, como se fora verdadeiro registro efetuado em aparelho próprio para apanhar criminosos pela palavra, inculpando-os, ou libertando os inocentes. Mas isso não é permitido nem sequer perante as leis dos homens. Aqui a fidedignidade de anotação é perfeita?

Não vou discutir quando o juiz é, ao mesmo tempo, o acusador, o júri, o executor da sentença e a polícia que mantém o prisioneiro encarcerado.

Vocês são tão poderosos que não se dignam sequer a se defender. Será que sei que estou executando simples provocação?! Pois é verdade. Não há como fugir de pensar e repensar, dizer a para ouvir como resposta b. Não dá para iludir a mim mesmo, como foi o que fiz durante toda a vida.

Na juventude, tinha sede de glória. Desejava sobressair-me nos estudos e na profissão. Queria fazer nome junto aos togados. Queria realizar o desejo de ser juiz. Mas não consegui passar nos concursos e comecei a acusar todo o mundo de corrupção. Quase acabei destituído do direito de exercer a advocacia, tendo sido processado e condenado a me retratar perante a opinião pública.

Mas vinguei-me das injustiças, pois defendi com brilho muitos criminosos, que me pagavam regiamente. É verdade que me comprometi diretamente com o crime, até mesmo depois da morte, tanto que me sentia lúcido o suficiente para ir obsedar os advogados que desejavam preservar os grandes criminosos, à vista dos pagamentos que auferiam. Sendo assim, não fui mais que parte das quadrilhas, designado para serviços sujos, até de pombo-correio, a levar e trazer ordens de execuções ditadas por aqueles que me pagavam. Vi tudo isso acontecendo, quando vagava pela erraticidade, e me divertia favorecendo a mente daqueles que não conseguiam ver o espírito de justiça, só os interesses particulares.

Aos poucos, porém, o meu retrato verdadeiro foi sendo delineado nas ações criminosas e subversivas justamente daqueles a quem perseguia. Não aceitava nos outros que se avantajassem à minha fama junto aos assassinos e quadrilheiros, pois fora o único sucesso que conseguira na vida. Enquanto a minha lembrança persistia na mente dos que me pagaram, eu ainda lutava asperamente para fazê-los não me esquecer. Mas, na verdade, nada consegui, a não ser ver nos outros aquilo em que eu mesmo me tornei.

Após longo labutar sem sucesso, fui aprendendo a perceber que o espírito de justiça existia, pois o sofrimento não podia mais ser senão a pena que me foi cominada por algum severo juiz. O meritíssimo não ouviu as exposições de motivo, mas julgou diretamente, sem direito a apelo recorrente da sentença estabelecida. O pior de tudo é que cumpri a pena em liberdade, como se a consciência fosse o guardião da cadeia, a manter-me na cela da ignorância.

Agora que demonstrei pontinha de arrependimento e compreensão dos males de que infestei a vida, eis que me dão oportunidade de me retratar, como se fora verdadeira revisão do processo pelo qual fui condenado.

Sinto-me, por isso, um tanto revoltado comigo mesmo, porque não consigo ferir ninguém como sendo o causador da desdita. Se pudesse dizer que meus pais não me souberam educar, até que teria muleta em que me apoiar. Mas a consciência não me permite levantar qualquer suspeita de que não tivessem agido por meu bem, com bastante amor e benquerença. Os meus irmãos convivem comigo em harmonia e amizade, mas faz tempo que estou afastado deles todos. Não poderiam ter-se constituído em meus advogados, representando a minha causa, apresentando provas comprobatórias, se não de inocência, pelo menos de circunstâncias atenuantes?

Mas que estou a dizer? Por certo esta oportunidade deve ter sido alcançada por algum requerimento em meu favor, justamente de quem comigo viveu, sofreu, cresceu e me amou, apesar das deficiências.

Não deixei prole, porque não contraí matrimônio. Acho que não me foi dado o poder de gerar filhos, para não ter a quem desandar e educar para os mesmos crimes que praticava e que me sustentavam.

O amigo escrevente suspeita de que haja algo por trás das palavras, algo que estaria sondando como algum crime de morte ou pederastia. Pois as vibrações que pensei escondidas foram pressentidas com exatidão. As duas circunstâncias estão impressas na consciência. Mas penso que isso seja por demais cru para ser apresentado por escrito. Fique só aí o registro e pronto. Ora, a consciência sabe reconhecer os débitos, senão o meu pobre orgulho será tripudiado e me sentirei “um lixo” diante dos encarnados.

Por favor, liberem-me dessa parte tão penosa, pois não me convenci de que a feminilidade possa ter que ver com os sofrimentos por que passei. O sangue derramado, sim, posso ver como o motivo pelo qual fui afastado de todos os que me amavam e a quem dedicava afeto.

Pois era isso que tinha a informar e a mais não vou atrever-me. Sinto-me um pouco melhor, mas não consigo ver restaurada a argúcia na elaboração dos entrechos jurídicos, com que abalava os juízes togados. O que mais sinto, nesse aspecto, é a necessidade de retornar ao início do depoimento e fazer referência, de novo, às mesmas coisas. Do jeito que apresentei a defesa, parece que de nada irá adiantar, pois toda a minha vaidade continua a fustigar-me, no sentido de concretizar peça que possa servir-me de tese, para me furtar à acusação maior.

Ainda bem que cumpri parte substancial da pena, pois, senão, não conseguiria nada mais do que tecer alguns comentários a respeito das más vibrações das pessoas com quem consegui contatar. No meio deste pessoal, posso perceber que existem bandos de pensamentos negativos a me perseguir, como na época em que me digladiava com outros espíritos para assumir a obsessão das vítimas preferidas.

Peço perdão por não ter trazido luz nova a estes amigos que tão diligentemente cuidam para não serem envolvidos pelas malvadezas dos que querem ver-me de volta.

Se puder oferecer algo de meu para o socorro que se arma, digam o que desejam que farei o possível para produzir as vibrações favoráveis. Só peço que me ajudem a rogar pela benevolência do Pai, que é o que mais se me faz presente na cabeça, pois toda vez que penso em libertar-me deste martírio, logo me vem à mente que não sou merecedor de complacência e comiseração. Aí afundo em pessimismo e agonio-me na ânsia de descobrir os caminhos do perdão e do arrependimento.

Graças a Deus, tenho tido estes clarões de luz que me fazem vislumbrar a porta de saída deste cárcere de dor. Parece que os amigos estão conseguindo fazer a porta abrir-se, para que venha a espairecer, pelo menos por alguns momentos. Graças a Deus!


Comentário

O amigo sofredor, finalmente, derrubou a barreira que o prendia, deveras, a seu círculo de sofrimento, pois não admitia a hipótese de haver justiça divina, inviolável, impossível de desbloquear através de argumentação, como se acostumara com os tribunais da Terra.

Agora está em condições de receber ajuda e será conduzido para os setores de assistência àqueles que retornam das cavernas do báratro consciencial.

Aos amigos que nos têm acompanhado neste trabalho de assistência, o mais sentido agradecimento pela força que têm proporcionado, no sentido de facilitar a tarefa. Entretanto, devemos insistir em que as preces sejam contritas e o amor estendido como manto de proteção para quem está em vias de recuperação.

Queremos esclarecer que, verdadeiramente, houve intervenção dos parentes relativamente ao depoente. Por outro lado, sua capacidade intelectual está bloqueada, porque a consciência o acusa, ferozmente, de se ter utilizado mal dos recursos que lhe foram o apanágio da personalidade. Não se trata, portanto, de restrição imposta por algum espírito superior, no intuito de promover-lhe o arrependimento, mas de censura própria, estabelecida a partir do sentimento de culpa, por se ver arremessado na rua da amargura pela própria insensatez. O que utilizou com real eficiência em favor da defesa dos crimes e de seus autores, deixou de fazê-lo para si mesmo e isto não perdoou, não chegando mesmo a compreender. Haverá que passar por bom período de restabelecimento, para poder levar a efeito o desbloqueio do intelecto, o que ocorrerá à medida que se for compenetrando da verdade e dos reais motivos que o levaram a agir em detrimento de seu progresso.

Queira Deus que todos possam receber dos parentes e amigos o mesmo grau de assistência e de interesse em vê-los curados, pois está sendo muito forte a ajuda que lhe vem sendo prestada, apesar de terem decorrido trinta e cinco anos de existência na erraticidade. Não fora isso e não lhe saberíamos categorizar a extensão dos padecimentos.

Orem, amigos, pela redenção dos que agravam a existência, através das atitudes irrefletidas que ferem justamente os atributos e as qualidades que deveriam constituir-se nos recursos da salvação. Avaliem se vocês mesmos não estão desperdiçando os principais dons e utilizem-se da prece para fazer chegar-lhes a ajuda dos protetores.

Fiquem com Deus!

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